《 2 de Setembro》 Continue sonhando

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Caindo.
Eu estava em queda livre, despencando no ar.
-Kirishima!
Ele me chamou, e o som da voz fez meu coração disparar
-Me ajude!
Ele estava caindo também. estiquei meu braço, tentando segurá-lo. Estiquei o braço mais só encontrei ar. Não havia chão sob meus pés e minhas mãos se enfiavam na lama. Encostamos as pontas dos dedos e vi fagulhas amarelas na escuridão.
Então ele escorregou por meus dedos e só consegui sentir a perda.
Limão e cereja. Eu consegui sentir o cheiro dele, até naquele momento.
Mas não consegui segurá-lo.
E não conseguia viver sem ele.

♤♤♤

Me sentei de repente, tentando recuperar o fôlego.
-Eijirou Kirishima! Acorde! Não vou adimitir que chegue atrasado ao primeiro dia de aula.- Eu podia ouvir a voz de Himiko gritando do andar de baixo.
Meus olhos focalizaram um ponto de luz suave na escuridão. Eu podia ouvir o distante som da chuva contra a velha janela da fazenda. Deve estar chovendo. Deve ser de manhã. Devo estar no meu quarto.
Meu quarto estava quente e úmido por causa da chuva. Por que minha janela estava aberta?
Minha cabeça estava latejando. Deitei novamente na cama e o sonho foi se dissipando, como sempre acontece. Eu estava em segurança no meu quarto, em nossa antiga casa, na mesma cama da mogno que rangia onde provavelmente seis gerações de Kirishima dormiram antes de mim, onde pessoas não caíam por buracos negros feitos de lama e nada nunca acontecia.
Olhei para meu teto de gesso, pintado da cor do céu para impedir que as abelhas carpinteiras fizessem ninho ali. O que havia de errado comigo?
Havia meses que eu tinha esse mesmo sonho. Apesar de não conseguir me lembrar de tudo, a parte de qual eu me lembrava era sempre a mesma. O garoto estava caindo. Eu estava caindo. Tinha que me segurar mas não conseguia. Se eu soltasse, alguma coisa terrivel aconteceria com ele. Mas esse era o problema. Eu não conseguia soltar. Não podia perdê-lo. Era como se eu estivesse apaixonado por ele, mesmo não o conhecendo. Tipo um amor antes da primeira vista.
Mas isso parecia loucura, por que era apenas um garoto num sonho.Eu nem sabia como ele era. Eu vinha tendo o sonho havia meses, mas em todo esse tempo jamais vira o rosto dele, ou pelo menos não conseguia lembrar. Eu só sabia que tinha a mesma sensação horrivel toda vez que o perdia. Ele escorregava da minha mão e meu estomago parecia afundar, como nos sentimos durante a queda em uma montanha-russa.
Frio na barriga. Essa era uma porcaria de metáfora. Era mais como um tiro.
Talvez eu estivesse enlouquecendo, ou talvez só precisasse de um banho. Os fones ainda estavam em volta do meu pescoço, e quando olhei para o visor do meu Ipod, vi uma musica e não reconheci.
"Dezesseis luas"
O que era aquilo? Cliquei nela. A melodia era assustadora. Eu não conseguia identificar a voz, mas tinha a sensação de que ja ouvira aquilo

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Dezesseis luas, dezesseis anos
Dezesseis dos meus mais profundos medos
Dezesseis vezes você sonhou com minhas lágrimas
Caindo, caindo ao longo dos anos...

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Era deprimente, assustadora... Quase hipnótica.
- Eijirou Kirishima!- Consegui ouvir Himiko gritando mesmo com a musica.
Desliguei o Ipod e sentei na cama, afastando as cobertas. Os lençóis pareciam estar cheios de areia, mas eu sabia que não era isso.
Era terra. E minhas unhas estavam pretas de lama, da mesma forma que ficaram na ultima vez em que eu tivera o sonho.
Enrolei o lençól e o enfiei no cesto de roupa suja embaixo do uniforme do treino do dia anterios. Entrei no chuveiro e tentei esquecer enquanto esfregava as minhas mãos e os ultimos pedaços pretos do meu sonho desapareciam pelo ralo. Se eu não pensasse naquilo, não estaria acontecendo. Era assim que eu lidava com a maioria das coisas nos ultimos meses.
Mas não quando se tratava dele. Não dava pra evitar. Eu sempre pensava nele. Sempre voltava a ter o mesmo sonho, mesmo não conseguindo explicá-lo. Então, era esse meu segredo, tudo que queria contar. Eu tinha 16 anos, estava me apaixonando por um garoto que não existia e estava ficando louco.
Não importava o quanto eu esfregasse, não conseguia fazer meu coração parar de bater forte. E mesmo com o cheiro do sabonete Ivory e do shampoo, eu ainda conseguia sentir aquele aroma. Bem de leve mas eu sabia que estava lá.
Limão e cereja.

Dezesseis luas ~KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora