BREATH

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In the psychology of the modern civilized human being, it is difficult to overstate the significance of the house.

De volta à Jinhae-gu, o distrito onde cresci em Changwon, minha cidade natal, próxima a Busan. Faziam anos que não visitava as redondezas. Estar alí novamente suscitou memórias a muito tempo enterradas em meu subconsciente. Contudo, a rua em que me encontrava era longe do bairro onde cresci, e a casa em que eu me encontrava encarando da calçada, era minha nova residência.

A brisa gelada do outono, que já estava terminando e dando lugar ao inverno, soprava carregando consigo folhas amarelas que haviam caído das árvores que circundam a região. Minha nova casa ficava no fim de uma rua sem saída que ficava ao pé de uma montanha. Era a última casa da rua e não havia um muro separando os fundos do quintal de minha casa da floresta fechada que se encontrava alí ao pé do monte.

O grande monte coberto pela espessa camada de vegetação era considerado uma reserva, então nem trilhas alí existiam. A natureza selvagem reinava absoluta naquela região. O pensamento de que nem um muro sequer me separava do que alí podia haver, me assustava um pouco, mas não o suficiente para que eu ignorasse a antiga casa com 5 quartos, 5 banheiros, 2 lavabos, cozinha, sala de jantar, sala de estar, porão e sótão, que ainda vinha acompanhada de um grande quintal e uma vizinhança silenciosa que me daria paz para que eu pudesse escrever meu terceiro livro. Pelo menos a paz suficiente, vindo de uma casa construída aos padrões europeus durante a invasão japonesa.

Eu suspirei enquanto olhava os carregadores da mudança entrarem com os últimos caixotes. Em seguida, um carregador vestido com um macacão azul escuro, que parecia ser o encarregado de dar as instruções, parou na porta falando com a jovem de cabelos cacheados cortados em um corte curto, acima de seus ombros. Ela pagou o carregador, que a agradeceu e levou seus subordinados embora. Eu me virei para ver o caminhão deles descer a rua e desaparecer ao dobrar a esquina.

- Pronto, sua mudança já foi feita - disse a mulher vindo em minha direção, parando ao meu lado e fazendo com que eu tirasse meus olhos da rua e os voltasse para ela - eu posso te ajudar a arrumar as coisas mais urgentes se você quiser, mas só por algumas horas. Eu tenho que pegar o trem expresso pra Seul ainda hoje. Tenho um evento da editora pra ajudar a organizar.

- Não precisa, Rue - eu disse a oferecendo um sorriso amigável - Pode ir indo já, eu me viro aqui.

- Você tem certeza, Jiny? - ela me perguntou com um olhar preocupado - eu tenho tempo, posso te ajudar hoje ainda...

- Tá tudo bem - eu disse colocando minha mão em seu ombro - Você já me ajudou até demais. Muito obrigado. Agora vamos pegar sua bolsa, eu te levo até a estação de trem.

Rue sorriu tristemente mas não tentou me convencer uma segunda vez. Ela sabia que quando eu tomava uma decisão, ela era definitiva. Assim como a minha decisão de comprar essa casa.

Já eram cinco horas da tarde e o sol dourado brilhava de maneira quase que angelical ao encontrar a pele cor de canela de Rue, que cochilava no banco do passageiro, enquanto eu a levava para a estação. Rue Montes era a responsável pela assessoria de imprensa da Editora Silver Wave. Eu a conhecia a mais de 4 anos. Sua posição mudou bastante nesses últimos anos, mas ela sempre fez questão de estar diretamente envolvida nos meus projetos, fossem eles livros ou roteiros de seriados. Eu a admirava muito, tanto por sua inteligência e competência, quanto pela sua bondade. Ela primeiro veio do Brasil para a Coreia com o intuito de fazer faculdade, mas acabou estabelecendo não só sua carreira, como também toda a sua vida aqui. Não sei o que faria sem Rue. Ela foi quem fez meu nome ser digno de reconhecimento, e ela também foi quem me ajudou a encontrar minha nova casa. Mas eu constantemente me pergunto se ela não sente falta de sua terra natal e de sua família.

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