Quando a dúvida assola um homem seguro de si

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A semana mal havia começado e Kirishima já se sentia cansado. O final de semana, diferente do que ele havia planejado, havia sido bem desgastante. Não que estivesse trabalhando, mas Hiyori estava crescendo e com isso o seu medo de perdê-la. Já havia brincado várias vezes dizendo que nunca a deixaria se casar, mas sabia que isso era inevitável. A cada dia que passava ela se tornava uma moça mais bonita do que fora quando criança, além de ser muito fofa e gentil.

Chegou finalmente ao quinto andar do prédio da editora Marukawa, caminhando até sua mesa e se jogando na cadeira. Passou a mão pelos fios claros, afastando-os de sua face e soltando um suspiro desolado. Ele sabia que estava sendo super-protetor e um pouco exagerado com relação à filha, mas tirando os pais, ela era sua única família.

Não. Aquilo não era verdade. Já fazia um bom tempo que mais alguém havia entrado em sua vida e podia considerar tão especial quanto sua filha. Yokozawa Takafumi, o editor do terceiro andar responsável pela parte de vendas, com quem atualmente mantinha uma relação estável, mesmo que não fosse de conhecimento geral, afinal de contas, eram dois homens.

Takafumi havia chamado sua atenção, não só pela sua boa aparência, mas também pela sua inteligência e o modo como lidava com os negócios, ou talvez porque, ao observá-lo num momento de guarda baixa, tenha conseguido ver o seu lado frágil, que era escondido pela máscara de um homem maduro, forte e decidido.

Aquele dia que se encontraram no bar, Kirishima realmente ficou com pena ao ver o estado que o rapaz se encontrava, e pensando em seu lado egoísta, tentou ajudá-lo enquanto ajudava a si mesmo. Ele estava seguro que conseguiria alcançar seu intento e fazê-lo se animar, mas também queria que ele o notasse, mesmo que só por um instante.

Estarem juntos agora fazia um calor gostoso subir por seu peito...

– Kirishima-san! – já era a terceira vez que o rapaz chamava por seu nome, dessa vez conseguindo tirá-lo de seus pensamentos.

– Ah, desculpe. Estava distraído. – sorriu amável para seu assistente, jogando suas preocupações para um canto afastado em sua mente, concentrando-se por fim nas tarefas que precisa cumprir naquele dia. Não podia deixar que seus problemas, mesmo que idiotas e paternais, interferissem no seu trabalho.

* * *

Após sua crise paternal no começo da semana, Kirishima também teve uma crise de meia-idade na outra semana, onde a própria filha apontou-lhe pequenas rugas no canto dos olhos e um outro editor brincou dizendo que nem mesmo o seu bom humor o livrara de cabelos brancos. Ao chegar ao fim do mês, percebeu-se acometido da terceira crise, e talvez a pior de todas: o abandono.

Já fazia vários dias, se não mais de uma semana, que não via e nem recebia boas notícias de Yokozawa. Quando foi procurá-lo dias atrás, seu assistente, Henmi, havia informado que ele acabara de sair correndo para verificar algumas edições que precisariam ser reimpressas com urgência devido a um erro no arquivo original. Esse pequeno incidente da equipe de impressão obrigou Yokozawa e toda sua equipe a fazerem hora extra a semana toda.

Kirishima entendia que o trabalho era importante e Yokozawa gostava muito do que fazia, mas ele podia ter mandado uma mensagem avisando sobre o problema que tiveram, afinal de contas, ele era seu editor-chefe, não era?

A quem queria enganar? Aquele tipo de situação não era isolada ou merecia atenção desnecessária. Yokozawa era capaz de resolver sozinho, sem ter que incomodar o seu superior. Só que ele queria ser incomodado! Não para falar de serviço, mas sentia sua falta.

Outro final de semana chegou e Kirishima não estava feliz com as perspectivas. Hiyori havia avisado alguns dias antes que ia dormir na casa de uma amiga e, se a mãe da coleguinha não se importasse, voltaria apenas no começo da semana. Ele não queria se preocupar, sabia que ela era uma boa menina e nunca faria nada de errado, mas todo aquele tempo que passava fora de casa, deixando-a sozinha, o fazia imaginar se agora ela não saia justamente para continuar a não tê-lo por perto. Era um pensamento idiota, mas que o atormentava muito ultimamente.

Incertezas do amor (Sekai Ichi Hatsukoi)Onde histórias criam vida. Descubra agora