Capítulo 1

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A manhã gélida londrina se abateu sob Georgia, ela estava sentada em sua varanda desde a noite anterior, olhando fixamente para um vaso de flores que seu avô plantara para ela antes de partir, estava tão imersa nos detalhes das flores e do vaso envelhecido que não se deu conta da passagem do tempo e a queda da temperatura. É triste pensar que tudo que restara para ela fora um vaso antigo com algumas flores comuns, dado momento ela começou a se perguntar se ela seria como aquele vaso, antigo, esquecido, sem valor, apenas algo comum do cotidiano que não possuía atrativos ou sequer detalhes que lhe fizessem especial, a única coisa que trazia a aquele mero vaso um pouco de valor era o fato de que quem o colocará ali já havia ido para o que quer que haja após a vida, seria isso então? Ela passaria a ter um resquício de valor somente após sua morte? Respirou fundo tentando afastar esse pensamento, se ela entrasse nessa espiral já sabia onde ela a levaria, evoluiria de um simples devaneio a um rascunho de uma ideia, depois a um desejo e logo após ela ficaria dias lutando contra si mesma e teria de voltar ao grupo de apoio para suicidas, e esse era um encontro que ela não gostaria de ter novamente, alguma coisa naquele lugar e naquelas pessoas a deixavam mais deprimida. Levantou os olhos do vaso para o horizonte e percebeu que o sol já estava se levantando, olhou em volta se perguntando se conseguiria fazer tudo mais uma vez, mais um dia, mais uma farsa. Se convenceu de que precisava, caso contrario sua opção era ficar sentada se sentindo menos que um vaso, logo, nesse caso ir trabalhar e se mostrar a mulher mais feliz e completa do planeta, (por mais doloroso que fosse) era melhor do que ficar olhando aquele vaso estupido.

Após um banho quente que devolveu calor ao seu corpo, ela arrumou os cabelos em coque impecável, se enfiou em uma calça social de tecido grosso preta com um terninho da mesma cor e por baixo uma blusa branca, calçou um par de escarpam preto envernizado e colocou algumas joias em volta do pescoço e nas orelhas, fez uma maquiagem simples, pegou a bolsa o casaco e se obrigou a ir até o carro. Assim que entrou pensou em como seria bom se ao sair ela descobrisse que o mundo acabou e todos estavam em meio a um apocalipse zumbi. Se olhou no espelho repetindo em sua mente as palavras da sua acessória de impressa "Sorria como se nunca tivesse chorado" as palavras na voz estridente daquela irritante mulherzinha que se dizia relações públicas foram gritando na mente de Georgia até o portão, quando ele se abriu a voz foi substituída pela gritaria de repórteres pedindo desesperados para que ela desse uma declaração, falasse como estava o seu dia, como se sentia, o que achava da fusão das empresas x ou y e se ela estava envolvida em algum romance. Georgia não parou, apenas sorria como se nunca tivesse chorado, torcendo para que acreditassem naquele sorriso.

Ela chegou ao escritório torcendo para que pudesse se trancar em sua sala pelo resto do dia, sem ter que interagir com ninguém, mas isso seria impossível, ela teve seis reuniões, duas conferencias e ao final do dia queria apenas ir para casa, mas era aniversário de uma das funcionárias, e como era integrante direta da equipe dela seria falta de consideração não ir ao happy hour que se daria em pub próximo ao trabalho para festejar o grande dia da colega.

- Ei! Como está?

Georgia olhou para a secretaria do gerente da empresa que estava parada ao seu lado, ela havia se sentado no bar após dar as felicitações a aniversariante, pediu um gin e ficou olhando para o relógio torcendo para dar um horário aceitável para dizer "vou para casa, já esta na hora, e vocês também deveriam ir, se chegarem atrasados amanhã vou demitir todo mundo" todos iriam rir, ela teria feito o papel da boa diretora, a que se importa, engraçada e bem humorada e então poderia ir para casa.

- Tudo ótimo! E você?! – Georgia tentou sorrir com aquele sorriso especial que sua assessora a ensinara, mas se perguntava o que a figura incomum queria com ela, fazer uma média talvez, se ela fosse aquele tipo de funcionário que falta lamber as botas do superior em busca de favoritismo ela iria para casa sem se importar com o quão cedo ainda estivesse.

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⏰ Última atualização: Aug 06, 2021 ⏰

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