Capítulo I

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No extremo sul de uma terra por muitos desconhecida em que o clima seco e gélido fazia as paisagens ressoarem tremores de estupefato em suas testemunhas, o sol se esvaia, como se suspirasse os últimos segundos de uma vida insuficiente. No horizonte tingia pelo céu cores quentes que incidiam nas rochas dos montes, contrastando com a neve nos picos.

O vento gélido, vindo do oeste, rumou ao vale situado logo abaixo da cordilheira. Recheado de lagoas, árvores esparsas e arbustos, se direcionava gentilmente a uma garota estirada num gramado cinzento. Acima dela, uma majestosa árvore cobria seu corpo com a sombra. Com o ar revolto a surgir, uma folha do galho que estava fixada caiu sob os pés da moça, equilibrando-se entre seus dedos.

Brincando com a folha, a garota, de cabelos e vestes claras se perdeu em seus pensamentos. Pensamentos estes que atormentavam nos dias mais recentes. A folha, finalmente atingindo o solo, não seria tão impactante se esta não fosse a última da árvore, que como as outras daquele vale, atingido pelas baixas temperaturas, anunciavam um inverno rigoroso.

Não era pela estação evidente o seu rosto entristecido e cabisbaixo, mesmo com o clima iminente. Sua melancolia era mais que uma tristeza passageira: era um presságio. No descrito momento ela se sentia frágil, pequena e insignificante como a folha que encarava.

Aquele inverno não traria apenas baixíssimas temperaturas e paisagens estáticas, mas à ela "o momento mais importante da sua vida". Isso é, caso concordasse com o que queriam que achasse disso. Havia em seu interior uma turba indecifrável de emoções pelo estado atual das coisas. Mesmo que não soubesse justificar seu descontento, sabia que era contrária aos eventos. Só a falta de respostas para suas dúvidas era o suficiente para constatar uma luta interna, pois não obstante, onde vivia, os questionamentos não eram bem recebidos. Por sentir-se sozinha nesta situação, mesmo rodeada de diversas pessoas em seu lar, resolveu se isolar por um tempo em um lugar que sempre ficava quando decidia ignorar o seu redor, ausentar-se dos olhos da vigília.

Ao longe, o som de pequenos galhos sendo partidos deixou-a em estado de alerta. As vestes negras da figura que surgia logo revelaram cobrir todo seu corpo num longo vestido de tecido grosso que permanecia intacto, mesmo com o vento forte, e um manto preso ao pescoço lhe cobria o busto e envolvia sua cabeça num capuz.

— Nana! O que faz aqui? — a voz conhecida gritou sem fôlego, enquanto sua dona saia da relva com dificuldade.

Nana não respondeu, apenas se ergueu e olhou para ela como se desejasse que estivesse a quilômetros de distância em que ninguém a pudesse encontrar.

— Como pôde fazer isso com todas nós? — andando devagar, chegou proximamente à garota — Às vezes acho que falhei como tutora... — encarava os próprios pés, frustrada — Você não tem mais jeito!

— Não estou fazendo nada demais, Irmã Clarice. Estou apenas refletindo, buscando um pouco de luz para hoje à noite.

— E não consegue iluminação dentro de casa? Se procura por orações e momentos a sós com as divindades tem o templo pra isso. Não precisa fugir para essa árvore se quiser "refletir"... — desvencilhava com dificuldade em meio aos galhos secos no chão.

— Isso me faz bem — ela se levantou em um pulo — Vê? Me dá energia! — Nana deslizou o pé pela grama em passos improvisados de dança — Achei que, de todos os outros, você talvez me entenderia.

— Oh querida, não faça isso de novo, está bem? — suspirou — Poderia ao menos se preocupar com sua saúde. Venha aqui e se agasalhe, venha. Trouxe sua manta e um calçado. Eu sabia que não iria se cuidar. Sua mãe por pouco não comunica seu sumiço a Zaara e eu nem quero imaginar o que aconteceria se...

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⏰ Última atualização: Jun 09, 2021 ⏰

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