CARTA ABERTA EM UM ARMÁRIO FECHADO

39 7 4
                                    

Esta é uma pequena reflexão a partir da série "Eu nunca", que aborda questões como a vida escolar, sexualidade, imigração e relação familiar, além de também abordar outros temas de uma forma cômica e representativa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Esta é uma pequena reflexão a partir da série "Eu nunca", que aborda questões como a vida escolar, sexualidade, imigração e relação familiar, além de também abordar outros temas de uma forma cômica e representativa.

A série apresenta vários núcleos interessantes, mas eu quero focar em uma cena específica que acontece com uma das amigas da protagonista. No contexto, ela recentemente se assume lésbica para si mesma e para alguns amigos, mas ao tentar se assumir para a mãe, começa a ter dificuldades, pois tenta várias vezes, inclusive marcando uma reunião com toda a sua família, mas muda de assunto e não consegue falar. Até que um dia, ela finalmente consegue.

A cena da filha se assumindo para a mãe mexeu muito comigo. Parte disso porque eu sei o quão difícil é ser vulnerável com o outro, se deixar ser vista, mas ao mesmo tempo não ter controle algum sobre a reação dele. E outra parte porque se assumir para alguém é algo tão íntimo que quando falado, passa a ser real. E quando é real, eu não posso desfazer. Não posso me esconder, deixar de ser vista novamente. É algo que lhe muda e pode mudar a sua relação com o outro para melhor ou não.

É interessante como algo ao mesmo tempo tão pequeno pode ter um peso tão grande. É tipo aquela pedra no rio que pode se encaixar perfeitamente na paisagem e ainda impedir o fluxo das águas. Por isso, eu compreendo a personagem e hoje, mais do que tudo, compreendo o receio que ela tinha de contar a sua mãe.

Mas para a minha surpresa e para a surpresa da personagem, a sua mãe teve a reação oposta a seu receio dizendo: "querida, eu te amo e não há nada que você poderia me dizer que mudaria isso. Eu só quero que você seja feliz."

Por fim, o que eu desejo, é que a minha felicidade não dependa da aceitação do outro, mas apenas de mim mesma. Mas se um dia eu me assumir para outras pessoas, que seja tão bom quanto foi para ela. 


*Carta escrita a pedido da minha psicóloga sobre como eu estava vivendo minha bissexualidade (2020).

A parte real de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora