"Ela não"

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Mais uma cansativa noite de trabalho. No apartamento que divido com outras meninas, me arrumo para sair noite a fora. Penteio meu cabelo, visto uma calça jeans, blusa e jaqueta, mas ainda sinto muito frio. Conto as moedas e algumas notas que tenho, e só há seis dólares e dez centavos. Pelo que posso contar tenho dinheiro suficiente para pegar o ônibus até ao trabalho, lá eu dou meu jeito de conseguir um dinheiro para voltar.

-Você tá legal? - Pergunta Lea, uma das garotas que mora no apartamento também. Seu semblante é de pena, como se olhasse uma criança doente.
-Aham. - Eu me limito a dizer apenas isso. Dou um sorriso fraco, mas convincente o bastante para Lea tirar seus olhos penosos de mim. Viro-me em direção contraria a ela e desfaço o sorriso. Eu sou uma vadia, vendo meu corpo, ela realmente quer que eu fosse trabalhar sorrindo?
-Te esperamos para o jantar? - Lea volta à pergunta.
-Não, to sem grana, vou ficar lá por um tempo. - Digo pegando a bolsa em cima da bancada.
-Jade, sabe que o dinheiro não é o grande problema, posso te ajudar. - Eu sorrio em escarnio.
-Não quero ajuda. Preciso ir. - Sem me despedir, saio de casa. Não quero ajuda, não quero depender das pessoas me dando dinheiro por piedade. Ja não basta eu ser uma prostituta, agora tenho que virar mendiga?
Vou ao ponto de ônibus onde espero ao lado de uma senhora que lê a bíblia. Eu nunca fui religiosa, e nem ao menos pretendo ser, mas nunca duvidei da existência de um ser divino que ajudava os pobres e oprimidos. Digamos que esse ser divino não vai muito com a minha cara e por isso não me ajuda muito. Quando eu era mais nova costumava dormir nas missas enquanto o pastor pregava benções. Deve ser por isso que tive um puta azar na vida.
Assim que chego ao clube, me deparo com a casa totalmente cheia. Dia de jogo com certeza. Há todos os tipos de homens, dos dezoito até os cinquenta, tirando os que entram com identidade falsa, achando que ninguém desconfia de sua idade e sua cara de criança, a realidade é que a porcaria da gerência desse lugar só pensa no dinheiro que entra, então estão pouco se fodendo para um mais novo ou mais velho. Passo despercebida no meio da numerosa multidão, e vou ao pequeno quarto nos fundos, onde também há uma quantidade de garotas na mesma situação que eu. Visto minhas roupas, melhor dizendo, pedaços de pano minúsculo que caberia melhor em uma criança. A salvação é o aquecedor está ligado.
-Você ta legal? - Luiza me pergunta com a testa franzida. Eu estou com a cara esfolada? Com cara de morta? Porque não é possível, o mundo todo tirou o dia para perguntar como eu estou.
-Todos resolveram me perguntar isto. - Bufo irritada. - Eu to bem. - Dou de ombros pretendendo encerrar o assunto ali.
-Jade, você esta pálida demais! Vem aqui. - Luiza me obriga a sentar em frente a um espelho, e me maquia. Sinto a passar alguma coisa em meu rosto e não me interesso em saber o que era. Luiza trabalha comigo, ela é a garota "mais velha daqui", desde que cheguei, ela já estava nesse lugar. No inicio nos limitávamos a trocar poucas palavras, mas poderia me arriscar a dizer que éramos boas colegas de trabalho. Luiza agora passa algo em meu olho e depois se afasta. -Acabei! - Ela sorri. - Acho melhor irmos agora ou teremos problemas mais tarde. - Me olho no espelho e vejo minha imagem refletida, cansada, porém mais apresentável.
E assim foi feito, entramos em cena. Subo no palco com as outras garotas, dançando para cerca de vinte homens que estão cercando o local onde estamos. Eles fitam nossos corpos de uma maneira excitante. Meus olhos se desviam para a mesa lá no fundo, onde quatro homens jogam pôquer concentradíssimos, mas um em especial me chama muito a atenção. Seu semblante era serio demais, muito adulto, mas podia ver que não era velho. Continuo dançando, mas ainda encaro aquele cara. Eu poderia mentir dizendo que era uma santa, que entrava no meu quarto e chorava todas as noites por conta da minha vida, mas trabalhar naquele lugar tinha certa luxuria, excitação, prazer.
-Ei, Jade - Keaton grita meu nome e fico envergonhada, pois um dos jogares percebeu que eu o encarava. Keaton é o dono do clube, então me apreço para ver o que ele quer. - Desça, e se apronte no quarto. - Ordena.
Desço do palco pelos fundos, ao mesmo tempo em que o jogador atraente joga as cartas na mesa e se retira, o perco de visão em meio a pouca luz e muitas pessoas. Um homem alto, na casa dos trinta anos, de cabelo curto e loiro, segura meu braço e sorri. Tento sorrir de volta, mas ao máximo que consigo é uma cara de amtipática. Não posso negar de ir com ele ate o quarto, afinal, sou paga para isso. Seguimos juntos até o quarto, mas alguém nos impede.
-Procure outra garota. Essa é minha. - O cara que a pouco tinha visto jogando diz. Tento conter um sorriso de animação. De perto ele é ainda mais bonito.
-Eu a vi primeiro. - O outro rebate, mas vejo apreensão em sua voz, como se ele conhecesse com quem esta falando, e temesse por aquilo.
-Eu não te perguntei porra nenhuma! To mandando você procurar outra, e é melhor obedecer. - E é isso que o homem faz, ele apenas assente e sai de perto de mim. - Agora você vem comigo, de boca calada. - E tudo o que eu senti naquele momento vai para o espaço. Sou de novo, o brinquedo sexual de um homem. Sinto-me frustrada por fantasiar que ele ao menos fosse um daqueles caras que sabe tratar bem as pessoas, mas como sempre, é só um cara atrás de uma boa noite de sexo. - Quer tomar alguma coisa? - Ele pergunta, e por um momento noto um tom de educação em sua voz, mas tudo se desvai quando vejo seu olhar gélido.
-Não. - Respondo seca.
Ele me olha de cima a baixo, como se me xingasse mentalmente. Sinto um arrepio percorrer por meu corpo por conta de seu olhar. Ele me leva para um dos quartos onde tranca a porta atrás de si com brutalidade. Ele volta seu olhar por meu corpo com tanta cobiça e agressividade que pela primeira vez sinto medo, muito medo na verdade.
-Já fez isso quantas vezes? - Sua voz é seria, só que baixa.
-Poucas. - Me limito dizer, encolhida sobre seu olhar.
-Me responde certo! - Ele diz ríspido. - Quero números.
-Duas ou três. - Digo meio falha, sentindo o medo pulsar nas minhas veias.
-Então eu seria o terceiro ou quarto. - Ele olha pra mim serio. - Esse lugar é uma droga, vou te levar para minha casa. - Percebo que aquilo não é uma pergunta, nem uma sugestão. Ele apenas me avisa, como se eu já tivesse confirmado que iria.
-Eu não faço em domicílio. - Digo seria, mas ele ri sarcástica. Quero manda-lo calar a boca, mas não me atrevo.
-Me fala seu nome. - Ele manda, simplesmente mudando de assunto, não sabia que seria tão fácil assim.
-Jade.
-Me chamo Jake Sims. - Ele diz sem muito interesse, mas sorri.
-Legal, Jake Sims. - Sorrio de volta por educação.
Então a conversa se encerra ali. Aquele bom humor do Jake se transforma em desejo. Sem dizer nada, ele se aproveita da minha insegurança. Jake avança sobre meu corpo e explora-o com suas mãos. Seus lábios vagam pelo meu pescoço e o morde com força o bastante para ficar arroxeado no outro dia. Por impulso levo minhas mãos aos seus cabelos e puxo para descontar as mordidas. Jake se afasta do meu pescoço e olha em meus olhos. Seus olhos transbordavam luxuria. Sua mão vagueia ate meu sexo e o pressiona sobre a roupa, não conseguindo me conter, abafo um gemido contra seu ombro. Ele se desfaz rápido das minhas roupas, e não me admiro, já que aqueles pedaços de pano sairiam em dois segundos. Ajudo Jake a tirar sua própria roupa, e mordo os lábios ao notar seu corpo. Ele não tem o corpo super musculoso, ou bronzeado, coisa do tipo, mas tem tatuagens bem distribuídas por seu abdome e braços, e um corpo margo e definido. Mordo os lábios ao vê-lo se despindo, e em poucos minutos estamos totalmente nus, entregues ao prazer. Jake passeia com seus dedos pelo meu corpo magro, por todas as partes, cada canto sensível no qual me contorço de prazer. Sua língua invade minha boca. Meu medo aumenta quando ele segura meus punhos e os encosta na cabeceira da cama; tento soltar, mas minhas tentativas são desperdício de tempo. Posso jurar que a força que ele exerce ali deixaran marcas amanhã.
-Está me machucando. - Sussurro trêmula.
-Você fala quando eu mandar, então cala a boca. - Jake ordena. Condeno-me por sentir prazer, mas sei que esse prazer tem uma porção ainda maior de medo.
Ainda segurando meus punhos, ele me penetra, com tanta força que chego a gritar. Jake me beija novamente para abafar meus gritos. Sua respiração fica ofegante, combinando com a minha, mas a única diferença é que minha respiração descompassada é semelhante de um animal que corre do predador, e a dele é semelhante a do predador que corre atras da presa. Lágrimas escorrem pelos meus olhos e quando ele vê, para simplesmente, me solta e corre em direção ao banheiro. Eu seco minhas lágrimas e vou ao encontro de Jake, soco a porta até que ele abra, e demora alguns segundos. O chuveiro é ligado e a porta aberta.
-Você tem noção do que você fez? - Pergunto nervosa.
-Não era para ser assim. Perdoa-me. - Ele diz, mas sem muita confiança na voz. Jake me puxa pela mão e acaricia meu rosto. Sinto medo, apreensão, e me sinto ridícula por aproveitar a caricia.
Ele abre a porta do box e entra, me levando junto com ele. Jake sorri gentilmente. Não o entendo, muito menos o reconheço. Há dois minutos ele estava sendo agressivo, e agora sorri como se tudo tivesse ocorrido tudo bem. Jake me beija tão calmo e delicado que quase me esqueço do que ele me fez. Suas mãos ensaboam meu corpo tão devagar e cuidadoso que me sinto estremecer. Terminamos o banho apos uns 10 minutos, sem nenhuma palavra tocada.
-Vamos para minha casa, por favor. - Ele pede pela primeira vez.
-Eu não posso. Tenho que terminar meu expediente. - Digo baixo.
-E depois?
-Vou para minha casa. - Explico.
-É aqui perto?
-Não.
-Que horas termina? - Ele pergunta vestindo as roupas, e eu faço o mesmo.
-Meia noite.
-Estarei te esperando.
-Não, Jake. - Tento negar, mas vejo que ele não pediu minha afirmação.
-Até mais tarde. - Ele ignora o que digo e sai andando, até sumir no meio da multidão de homens quase engolindo as mulheres.
Meu trabalho continua. Danço e danço, por mais quatro horas. Um homem de por volta de quarenta anos, conversa com Keaton, olhando para mim e apontando. Meu chefe balança a cabeça de um lado para o outro, negando algo para ele. E durante as mais duas horas de dança, fico me perguntando o que aquele rapaz perguntou sobre mim. E o mais curioso é que mais outros três caras conversaram com meu chefe e ele fez o mesmo com o primeiro: nega É meia noite, saiu do palco e sou parada por um cara alto de olhos azuis; perco-me na beleza dele.
-Como você é gostosa! Quero te ver sem essas roupinhas medíocres. Venha comigo. -Ele segura meu braço e me puxa brutalmente.
-Ela não! - Grita Keaton ao me ver sendo levada por ele. -Escolha qualquer outra, menos essa. Vai embora Jade, agora! - Ele ordena e eu estranho seu ato.
E lá vou eu obedecer mais um homem. Visto as mesmas roupas que cheguei, porém agora está mais frio do que mais cedo. Saiu do clube indo em direção ao ponto do ônibus, atordoada pelo o que ouvi agora. "Ela não" Mas por que eu não? Um carro buzina ao meu lado, me dando o maior susto da história dos sustos.
-Te assustei? - Jake pergunta risonho.
-Não, não, eu gosto de pular e fingi um susto! - Bufo. Jake abre a porta do carona, mas não entro.
-Vamos, você pode ficar doente nesse frio. - Ele diz com o semblante serio. Quero rir e falar " como você se importasse", mas como sempre, não me imponho.
-Não vou entrar, vai embora. - Digo continuando meu caminho.
-Só quero me desculpar com você por ter te machucado. -Ele solta a bomba e fico sem saber o que dizer, o encaro incrédula. Esse cara tem dupla personalidade? Entro no carro dele a fim de acabar logo com aquele papo. -Obrigado por aceitar meu convite. - Tento dizer que não é o que ele esta pensando, mas sou impedida. Uma música ecoa pelo carro, e percebo que na verdade é o celular dele - Keaton, você está no alto-falante do carro. Estou com ela.
-Fiz o que você pediu. Olá Jade. - Não respondo, apenas escuto a conversa dos dois. Como assim fiz o que você pediu?
-Ótimo trabalho. Até mais. - Ele simplesmente diz e desliga.
Quando chegamos a sua casa, levo um susto. Isso não é uma casa, é um palácio! Ele me conduz até seu quarto, onde há uma cama de casal grande. Tento parecer mais confortável, mas a frase "fiz o que você pediu" ainda me atormentava.
-Você está em casa. Quer tomar algo? - Ele pergunta vindo em minha direção.
-Não. - Nego.
-Jade colabora, por favor, conversa comigo. - Jake pede apelativo.
-Eu não devia ter vindo aqui. Eu te conheci hoje, vou embora. - Coloco minha bolsa no ombro e me levanto. Quando estou próxima para abrir a porta, ele a tranca.
-Eu paguei por você Jade. - Ele diz agressivo.
-Jogou dinheiro fora. - Revido no mesmo tom.
-Você me custou caro, porra! - Jake não grita, mas seu tom é forte o suficiente para me fazer encolher.
-Dane-se. Deixe-me ir, ou vou gritar. - Digo a única coisa que me vem em mente para falar.
-Grita então. Ninguém pode te ouvir. - ele me fita. O empurro com força e forço a porta, e do mesmo jeito que fiz com ele, Jake faz comigo, só que com mais brutalidade. Bato a cabeça levemente no armário dele. -Porra! Jade. - Ele segura meu braço, tentando meu ajudar, mas estou tão assustada com o ato dele, que rejeito. Levanto meio tonta, e antes que eu posso dizer algo, Jake se demostra arrependido, e muito mais quando vê sangue pintando o carpete.

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