"Mas, se tu me cativas, teremos necessidade um do outro"

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Era uma vez dois príncipes de reinos muito parecidos! O príncipe do Reino Solar acordava cedo pela manhã e adorava viver entre as estrelas, todos os dias sempre cercado pelo espaço e pelo quentinho de sua casa, que fica no topo do sol! Ele amava observar as explosões solares sentado no seu jardim. Ele era vermelho, amarelo e branco assim como a sua casa, suas flores, suas panelas e todos os bolos que ele preparava no seu forno, igualmente vermelho, e branco como todo o resto.

E o príncipe do Reino do Campo, que vivia rodeado de imensos girassóis. Ele era pouco maior que um coelho, e amava os dias de céu limpo, sem nuvens, e bem azul. Ele passava seus dias regando e plantando mais girassóis, alimentando seus amigos passarinhos com sementes desses girassóis e cozinhando tortas, pãezinhos e biscoitinhos com óleo de girassol. Haviam girassóis desenhados nos seus paninhos de prato, nas suas roupas e até nos quadros dentro de sua casinha! Inclusive, sua casinha era em formato de girassol.

Os dois príncipes tinham muito em comum, e uma dessas coisas era a solidão. Seus reinos eram lindos e vivos, mas não havia ninguém para os fazer companhia… Os príncipes regavam suas flores, aqueciam o forno e arrumavam suas camas sem ninguém por perto para ajudar ou dar um abraço, segurar suas mãos, estarem do lado deles. Eles se sentiam tão sós, mas mal sabiam o quanto já estavam juntos!

Sem o calor do sol, casa do Príncipe Solar, nenhum girassol do Príncipe Campo cresceria vivo, alto e belo. Sem esses girassóis, o mesmo Príncipe Solar não teria a inspiração de criar seu próprio jardim de rosas de fogo. E o Príncipe Campo também não se sentiria tão bem e renovado sem toda aquela luz e todo aquele quentinho vindo lá de cima todos os dias. Eles trabalhavam em conjunto e faziam o dia de cada um mais feliz sem nem perceber, mesmo estando tão longe!

Uma manhã, Solar estava se sentindo mais triste que o habitual – soluçava baixinho em sua cama, estava cansado de ficar só no meio de uma estrela tão grande para o seu tamanho. Nesse dia o sol não saiu entre as nuvens no céu do Campo.

"E agora?!" Se desesperou o pequeno príncipe no meio dos girassóis, "Minhas flores irão morrer sem o sol…"

O príncipe do Reino do Campo chorava alto, ecoando por todas as colinas verde e amarelas agora tomadas por uma sombra triste que vinha do alto e do meio, onde ficava a casinha do pequeno. Ele segurava sua florzinha favorita, a pequena Filomena, tentando animá-la sozinho:

"Filó, se levanta… O sol não nasceu hoje, mas eu estou aqui…"

Mas nem Campo nem Filó tinham forças sem o sol, aquela bola de fogo distante e tão querida. Mas veja só como é o destino, o choro de Campo foi tão alto que lá de cima se pode escutar! Solar levantou-se assustado da cama com um pulo, estaria escutando mais alguém? Ele então não estaria sozinho?!

"Quem mais chora?" Perguntou o rapaz vermelho, gritando na direção em que ouviu as lamentações. Percebeu ele que vinha de lá de baixo, naquele pontinho azul e verde. Assim então repetiu seu chamado, querendo saber de quem pertencia aquele desespero. O pequeno príncipe nos campos arregalou os olhos ao ouvir um berro vindo do céu! Assim correu para o morro mais alto e ficando na ponta dos pés replicou:

"Eu mesmo! Príncipe do mundo do Campo! Pai dos girassóis! Estou muito muito triste, pois o sol não saiu hoje e eu preciso muito dele!"

O príncipe Solar ficou surpreso, seria ele o dono de sua maior inspiração?! Ele é o pai dos girassóis, ele é o girassol de sua vida! Ele não estava sozinho, com certeza!

"Seus girassóis, eles ficam voltados para mim… Eu sou o Príncipe do Sol e do fogo, o sol sou eu e meu lar é nele… Você os planta em minha direção?"

Campo ficou surpreso, e respondeu logo em seguida:

"Eu e meu girassóis que nos voltamos para você todos os dias, sem você nosso mundo é triste e sem vida… Precisamos muito que você brilhe!"

"Eu que preciso de você!" Respondeu Solar, agora emocionado, "O que seria de mim se não tivesse a quem iluminar? Eu não conseguiria sonhar se não houvessem girassóis, não conseguiria imaginar nada além do vermelho, laranja e branco. Não haveria poesia, e então, não haveria alegria no meu coração. Seria só, num sol explodindo em tristeza todos os dias…"

"Por que você parou de brilhar, meu querido?" Perguntou Campo, sentando na grama.

"Também me entristeci! Pensei ser sozinho nesse mundo de estrelas, que os girassóis eram solitários também. Jurei não haver uma alma sequer no mundo capaz de entender minhas dores."

"Eu posso não entender as dores de um príncipe do sol," começou Campo, "Mas tenho minhas dores também. E sei como é ser sozinho num mundo tão grande para o seu tamanho… Você não está sozinho querido Sol, e agora descobrir também não estar. Meus girassóis tem a mim, e você agora me tem também."

Solar saiu de sua cama, correu até seu jardim e pulou em cima no vento solar que se formava na beirada do portão. Impulsionado pela força do arco quente o jovem príncipe tomou partida em direção ao ponto mais próximo do planetinha azul. Assim, o sol brilhou numa intensidade tão alta que todas as cores do arco íris brilharam forte por toda a região. Os girassóis do campo ficaram mais amarelos, os verdes da grama mais verdes e o céu mais azul. Até os pequenos cogumelos vermelhos ficaram mais vivos, assim como as borboletas roxas e as frutas laranjas. O mundo era enfim colorido com toda a luz e alegria. Campo deu um pulo de alegria com os braços abertos, querendo abraçar o seu sol.

"Um dia eu irei te visitar, meu príncipe dos girassóis!" berrou Solar, num sorriso de orelha a orelha. "E prometo levar meu sol comigo, afim de sempre te trazer luz na escuridão e calor nos dias mais frios!"

Campo não demorou a respondê-lo, "E eu te receberei com os braços abertos, meu astro! E lhe darei meus melhores girassóis para segui-lo, assim como eu sigo! Eu te amo demais, meu príncipe!"

"E eu a você, meu príncipe!"

Fim.

O Sol e o GirassolOnde histórias criam vida. Descubra agora