12/06/21
Estava na Itália, precisamente no centro acompanhado de minha mãe, minha tia e um rapaz alto e moreno que aparentava ser seu namorado. O clima era tropical, porém demasiadamente quente, o sol estava escaldante e o relógio marcavam 15 horas da tarde. Após atravessarmos a rua com pouco trânsito havíamos chegado ao lugar paradisíaco. Meu celular gravava alguns vídeos dos monumentos que aparentavam ser antigos: uma igreja velha porém conservada e bonita, construções antigas de civilizações romanas e mais impactante: a vista de uma ladeira que do outro lado após um planalto dividido em dois, estava o mar. Por um breve período e curto tempo, era assim que me sentia, dividido em dois sem conseguir alcançar a visão que queria ter: o mar imenso repleto por vida, o qual nunca cheguei ou pude chegar a experimentar, apenas ver de longe, o depreciando. Encantador, de arrepiar a espinha como diziam. Aquele lugar me trazia dois tipos de memória de uma vez só: episódico e semântico. Resumidamente um registro de experiências pessoais e eventos marcantes e a outra referência a lugares que traziam a mim todos os cinco sentidos, seu cheiro, seu sabor, seu toque, sua voz e sua incrível visão. Era sobre um antigo amor recíproco, porém não correspondido por conta da distância de corpos, de alma e metade esperança, porém o coração ainda se lembrava de tudo. Se lembrava de cada palavra, de cada promessa, o quão intenso, de qualquer forma, sem devolução. Em um passe de mágica cheguei ao meu aposento, estaria realmente confirmando meu devaneio?A resposta era simples. O loop infinito, um ciclo que nunca cessava, estava preso nele por décadas, um sonho doloroso porém bom, o sentimento dele era muito maior do que uma lembrança vivida, muito maior do que um amor de novela. Sentado na cama velha, atordoado levantei-me em direção a sacada em mármore e madeira americana dos anos 70, a madrugada era fria e calada como todas as outras. Estaria sendo egoísta consigo mesmo por ter largado a vida toda para viver em um loop onde sequer via "seu amor" ou por saber que "seu amor" aquele que frequentava suas noites de sono, provavelmente estaria vivendo feliz, sem barreiras e sem fronteiras? Talvez. Não queria discutir isso com sua própria mente astuta que lhe dava o gostinho do desejo de ser enganado, oras. O querido diário em tons avermelhados, os papéis velhos amarelados e empoeirados por conta do tempo, estava parado depois de longas escritas, longas declarações, pensamentos. Sua maldição era ser imortal, preso em um loop, sozinho em uma casa no campo, com seu maldito diário que não podia sequer abrir, trancado a sete chaves.
Mack estava quebrado por inteiro agora. Dor. Era o sentimento que costumava viver, não a dor física e sim a mental, a sentimental e a principal, a dor crônica que lhe assolava durante todos os dias após a sua primeira morte. Após várias noites sem conseguir deitar a cabeça no travesseiro macio, fechar os olhos e cair no sono profundo, decidiu sair de casa, finalmente. Andou em passos lentos, sem muita animação com um álbum antigo de fotografias, o "querido" diário e sua dignidade morta. Quase rastejando pelas escadas, chegou a sala. Era arrumada, havia quadros que havia pintado ao longo da vida, apenas ali parados, até o ateliê o qual costumava desenhar e demonstrar suas vibrações estava parado, se sentia culpado por não ter sido um bom demônio, uma boa pessoa, afinal havia se apaixonado arduamente, tão árduo que seu peito ardia como um vulcão em erupção e com certeza, sem dúvida sequer era a pior punição que poderia ter levado em sua primeira vida. Ignorou aqueles pensamentos de seu subconsciente, respirou fundo observando a porta de madeira branca e a maçaneta dourada, seus olhos piscavam. Estaria vivendo mais um pesadelo? Por que não superar como qualquer outra pessoa?
Uma lágrima sorrateira se formava em seus olhos cansados, foi aí que caiu a ficha. Abriu a maçaneta dourada sentindo o vento frio bater em seu rosto pálido, fechou a porta e deslizou sobre ela, se encolheu lentamente com os olhos arregalados derramando agora não só uma, mas várias e várias lágrimas reprimidas por anos, um choro silencioso. A boca seca, as mãos tremiam, seu estômago parecia ter levado um soco que doeria por dias, anos e nunca cessaria. Os pés descalços ficavam roxos a medida que sentia o misto de emoções: raiva, dor, angústia, tristeza, medo, solidão. A solidão era a velha companheira de Mack após desistir da busca por "seu amor" que estava em algum lugar do mundo feliz, diferente do loiro. O espírito estava escondido em algum lugar, lutava para tornar ao seu corpo frio e vazio, sem borboletas no estômago, sem criatividade, sem vida. Seria sua punição viver perambulando por aí com esses pensamentos? Se perguntava se um dia iria conseguir daquela caixa de sensações que lhe consumiam dos pés a cabeça e iria embora para sempre, voar ou patinar no gelo, viver uma vida simples na sua casinha no campo com seus bichos.
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𝗜 𝗗𝗢𝗡'𝗧 𝗥𝗘𝗔𝗟𝗟𝗬 𝗠𝗜𝗡𝗗 𝖠𝖳 𝖠𝖫𝖫.
Fanfiction"Há muito tempo atrás, em um lugar vago na escuridão. Essa pequena história aborda brevemente sobre um deus grego denominado filho de afrodite, 𝗮𝗻𝘁𝗲𝗿𝗼𝘀 é o deus grego do amor correspondido, mais consciente, e vingador do amor não correspondid...