Sufocando nas Mentiras

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Gabriel estava em estado de quem usava apenas uma mentirinha para encobrir a verdade, porém,  acabou se enrolando em um novelo, sem direito a saída. Ele dissera a Marília que não iria lhe acompanhar, pois, estava ocupado com coisas do trabalho, mas, na verdade, era porque a Alisson enviou uma mensagem informando que entraria em contato às 10h30 da manhã, justamente durante a sessão da Marília com a psicóloga Julia.

Na sessão, Marília sentiu-se desconfortável, mas logo a doutora Julia foi "quebrando o gelo".

— Então, Marília, me conte sobre você! Seu hobbys, o que gosta de fazer etc.

— Hum, bem... o que eu mais gosto de fazer é caminhar na praça, jogar xadrez com o meu pai, ler, ouvir músicas... não tenho muito o que fazer. – Disse desanimada.

— Ok! Bons passatempos! Como é a sua relação com seus pais?

— Somos bem próximos, apesar dos pesares, sinto que eles me amam e sempre cuidaram de mim.

— Um alívio saber disso! Como você está se sentindo agora?

— Estou confusa. Me sentindo sem chão, parecendo que vivo uma mentira. Encontrei paz em um estranho, nunca imaginei isso!

— Você acredita que pode confiar nele, Marília? Faz poucos dias que se conhecem. Aconselho a   não depositar 100% da sua confiança em qualquer pessoa. Elas podem te decepcionar e você entrar em um colapso irremediável.

— Confiei nos meus pais por 20 anos e olha no que deu. Pior do que estou passando, não dá para ficar. Sei que não devo confiar 100% nele, mas é o único que estendeu a mão, me defendeu e cuidou de mim, mesmo eu sendo uma estranha que mora na rua vizinha. – Expressou-se calmamente.

— Entendo! Bem, como psicóloga quis dar um toque. Pedi para você retornar à consulta, pois te senti perdida na última vez que nos vimos. Aqui é um espaço que você pode liberar tudo que está pensando ou sentindo. Não se preocupe, nada saíra daqui, seria uma quebra de conduta da minha parte. A primeira consulta sempre é difícil, como vejo que não se sente confortável, irei deixar meu contato contigo (pegou o cartão de visitas na bolsa). Por favor, não hesite em me ligar.

— Sabe, não é nada pessoal. Sei que está tentando me situar, mas a minha cabeça está um turbilhão. Preciso conversar com meus pais e ainda não tive coragem para vê-los. Estou conhecendo um mundo novo, é como se eu tivesse nascido agora...

— Super compreendo! Então, como você imagina essa conversa com seus pais?

— Só quero a verdade. Poder compreender o motivo de fazerem isso comigo. Não consigo entender como dois professores e pesquisadores renomados, foram capazes de privar a filha de, certa forma, viver. Isso machuca! Eu amo meus pais, mas estou magoada.

— Você merece uma explicação. Não tenha medo! Acredite, você não fez nada de errado. Sente com eles e diga como está se sentindo. Creio que estarão dispostos a te ouvir e explicar.

— Tomara! Muito obrigada, Julia. Sinto-me bem melhor! – expressou alívio

— Por nada! Estou aqui para isso! Por favor, se cuida e não esquece de me ligar.

— Certo! Até mais!

— Até! – finalizou Julia o diálogo.

Ao sair da sala, Marília se deu conta de que o Gabriel não estava. Esperou e esperou, mas ele não apareceu. Então, ela levantou-se e retornou para o quarto, afinal, era o dia de partir dali.

Chegando a recepção para informar sobre a alta, Marília foi avisada que Gabriel já havia feito isso e que deixara umas coisas para ela retornar para casa. Ao sair do hospital, Marília se depara com uma Mercedes vermelha e uma mulher emanando energias poderosas, era a Michelle, sócia do Gabriel. Michelle gritou:

— Ei! Você deve ser a Marília, certo?

— Sim... como você sabe? – perguntou desconfiada.

— Bem, me chamo Michelle. Sou sócia do Gabriel. Ele me enviou uma foto sua e pediu desculpas por não poder cumprir a promessa de te esperar, surgiu um imprevisto. – concluiu ela em um tom jocoso.

— Ah! Tudo bem! Muito prazer!

— Você é mais linda ainda pessoalmente. Não sei o motivo do Gabriel ter se apegado a você, mas como amiga dele, resolvi ajudá-lo. Só um aviso, não se engane! – disse Michelle em um tom mais sério.

— Hum... obrigada! Espero que esteja tudo bem com ele. – respondeu Marília desanimada.

— Ele está super bem! Vamos?!

— Sim!

Durante o caminho não trocaram nenhuma palavra. Marília olhava o horizonte pela janela do carro e a sua cabeça projetava mil e uma situações. Sem perceber, Marília estava apaixonada por Gabriel e temia perdê-lo, mas sabia que não poderia desejar tal coisa. Só desejara que estivesse bem aonde estivesse e pensava em retribuí-lo por tudo.

Michelle admirava Marília pensativa, pois passava um ar tão inocente e, ao mesmo tempo, temia que ela sofresse por causa do Gabriel. Michelle queria cuidar de Marília como uma irmã, porém,  achou estranho tal sentimento e anunciou que haviam chegado.

— Você ficará bem? – perguntou Michelle.

— Creio que sim! Muito obrigada! Sei que devo ter tomado o seu tempo e espero poder compensar isso algum dia. Por favor, agradeça ao Gabriel por tudo. – respondeu Marília.

— Ei! Não se preocupe! O Gabriel pediu para te dar isso. Fui! – Respondeu Michelle, apressada.

Michelle havia entregado uma sacola para Marília, dentro dela havia um smartphone. Assim que pegou o aparelho, o celular tocou.

— Olá!? – disse ela.

— Marília, eu posso explicar o meu sumiço. Por favor, me encontra na praça onde nos vimos a primeira vez, hoje à noite, por volta das 18 horas. – Disse Gabriel.

— Ok! Não precisa se explicar, compreendo! - Respondeu Marília.

— Preciso e irei. Me aguarde! Até!

— Até!

Confusa, Marília não quis pensar muito sobre, já que tinha outra situação para enfrentar: os pais.

Assim que entrou em casa foi recebida com muita festa. Havia uma faixa de boas - vindas, balões e uma caixa enorme. Antes que Marília pudesse dizer algo, a sua mãe veio logo abraçá-la, em seguida seu pai. Logo anunciaram um grande presente e pediram para ela abrisse, cheios de expectativas e sorrisos. Marília deduzindo o que seria, negou-se a desembrulhar e com uma expressão séria tentou cortar o clima, mas seus pais insistiam naquele teatro que retomava ao início: a bolha.

— Irei abrir para você! – Disse a mãe amavelmente.

— Tanto faz! – desdenhou Marília.

Com um sentimento de zero surpresa, era exatamente o esperado. Uma nova bolha. Marília, desacreditada, caminhou até o seu quarto sem pronunciar uma única palavra. Lá ela deitou na sua cama e não conseguia conter as lágrimas. Tudo aquilo era uma mentira, seus pais a tratavam como uma piada e ela estava sentindo coisas pelo Gabriel, porém, não compreendia aquelas emoções, enquanto o aviso de Michelle martelava em seus pensamentos e coração, desfazendo qualquer memória romântica dele e surgindo o medo de ser mais uma mentira, mais um a iludi-la. E assim Marília dormiu em meio as lágrimas. 

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⏰ Última atualização: Jun 13, 2021 ⏰

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