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Ela era perfeita pra mim, e eu estava perdidamente apaixonado.

Não sei dizer como nos conhecemos, por vezes, tenho a sensação de que ela sempre esteve comigo, de alguma forma.

Chamada Maria, o mesmo nome que minha mãe. Maria foi abençoada com longos cabelos pretos que cheiravam à flores do campo. Os fios escuros caíam escorridos como cascatas por suas costas, seguindo cada uma de suas belas curvas até chegar abaixo de sua cintura. Ela tinha olhos pretos também, tão brilhantes que me faziam pensar nas estrelas todas as vezes que me recordava deles. Sua pele de porcelana não era maculada por nenhum tipo de marca, era tão macia que eu gostaria de perder horas apenas lhe acariciando, mas eu não podia...

Ela era um pouco mais baixa do que eu, o que me fazia pensar que se um dia tivéssemos a chance de morar juntos, eu poderia alcançar os potes nas prateleiras mais altas e seria então o seu herói do dia-a-dia. Eu poderia segurá-la pela cintura fina e erguê-la para que alcançasse também, já que ela parecia ser muito leve.

Seus movimentos, tão graciosos e delicados... Qualquer coisa feita por suas mãos pequenas seria como o trabalho de um anjo. Céus, ela seria um anjo? Um anjo mandado diretamente de algum lugar no paraíso como um presente para mim? Eu não poderia dizer que não (apesar de nunca ter acreditado muito nessas coisas).

Sua risada era como melodia aos meus ouvidos. Ela sempre colocava a mão à frente dos lábios carnudos e rosados, escondendo por partes seus dentes brancos e bem alinhados. Ela tinha uma risada sonora, aquilo era mesmo muito bom de se ouvir. Sua voz não ficava para trás nisso, o timbre doce transformava qualquer frase numa bela canção, e quando ela realmente cantava... Nossa, quando ela cantava era como mais uma vez estar na presença de algum ser angelical. Não, um coral completo de anjos.

Maria não tinha apenas beleza e graciosidade para dar ao mundo, no entanto. Ela sempre entregava tudo com perfeição quando se comprometia à fazer, tinha pensamentos pacíficos e a vontade de um lugar melhor, onde cada um desempenhasse seu devido papel com maestria, como ela mesma se dedicava a fazer.

Gostava de ler também, e eu amava a imagem dela segurando um livro em seu colo, enquanto passava os olhos atentos por cada palavra cuidadosamente escolhida por seu autor.

Maria poderia muito bem ser a perfeição encarnada, uma prova de que milagres aconteciam, de que seres celestiais poderiam sim, pisar nesta terra.

Não vou mentir, apesar dessa verdade não ser motivo de orgulho, às vezes eu me sentia enciumado apenas com a possibilidade de mais alguém colocar os olhos em Maria. Eu sabia que qualquer pessoa com uma visão saudável também conseguiria ver as mesmas coisas que vejo, não era questão de opinião minha, Maria ser perfeita era um fato. E esse pensamento me assustava, pois não queria ter de disputar a atenção de Maria com mais ninguém.

Ela poderia me acalmar quanto à isso, tenho certeza. Com sua doce voz me diria que eu não tinha com o que me preocupar, me diria que todos os meus sentimentos por sua pessoa eram recíprocos e ela não dividiria sua atenção com qualquer outra pessoa. E eu acreditaria. Acreditaria porque essa seria a verdade, porque Maria não mentia. Nunca. Todas as suas palavras suaves e juras de amor seriam a mais pura verdade. Eu nunca precisaria me preocupar com sua fidelidade.

Mas Maria estava distante, ah, tão distante... Parecia perto, mas eu sabia que ela era inalcançável, isso começou a adoecer meus sentimentos. Não poderia existir tristeza maior no mundo neste momento, a detentora de todo meu amor e carinho estava em um lugar onde eu nunca poderia encontrá-la, onde eu nunca poderia tocá-la. E não importava o quanto eu tivesse apaixonado por Maria, eu nada podia fazer para resolver esse problema.

Eu deveria imaginar, o universo nunca iria colaborar para que eu estivesse perto dessa pessoa tão perfeita.

O problema era que eu pensava dia e noite em Maria, não conseguia tirá-la de minha mente. Eu não podia me apaixonar por outra pessoa, qualquer outra mulher que eu conhecesse nunca chegaria aos pés de Maria, por mais que eu tentasse, por mais que eu procurasse. Algumas chegaram perto, admito, mas sempre tinha algo faltando. Isso porque nenhuma nunca poderia ser totalmente igual à Maria.

Ela era perfeita pra mim, e eu estava perdidamente apaixonado.

E ela só existia na minha mente.

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