O MUNDO parecia parar toda vez que Leonardo puxava a corda fina de um arco. O silêncio trazia uma paz inebriante que o jovem duque raramente tinha na vida. Era como tocar um violino. A linha tênue entre uma boa nota e um garrancho era a mesma entre um bom tiro e uma falha. Tudo era posto em risco em um último movimento decisivo. Leon ergueu seus olhos claros da ponta reluzente da flecha e os guiou até o alvo escolhido, uma pequena maçã, que não passava de um quase invisível ponto vermelho a metros e metros de distância. Ele podia sentir desde o vento suave que dançava entre as folhas das árvores que cercavam a pequena clareira de tiro até a trêmula flecha, que zumbia por liberdade em suas mãos. Tomando fôlego uma última vez, soltou a corda.
A flecha atravessou a distância em meio batimento, perfurando a fruta com nada mais que um zumbido melódico. Leon abaixou o arco com um suspiro satisfeito e grunhiu em luto quando sua calma foi despedaçada por um coral desafinado e irritante de perplexidade. Ignorando os donos das vozes, se manteve estudando seu sucesso até que sentiu o primeiro se aproximar, soube quem era no momento em que uma pesada mão se enterrou no centro de suas costas quase lhe arrancando o equilíbrio.
- Desgraçado talentoso, isso é o que você é - rugiu a voz grave se pondo ao seu lado.
Leonardo se limitou a um resmungo mal humorado ao estender o arco para o recém-chegado. Lorcan era uma muralha de músculos e força envelhecido e aperfeiçoado por longos anos em campos de guerra e fortalezas de proteção do reino, já Leon não passava de um brotinho quando teve a vida salva pelo homem e, desde aquela época, sabia que não passava de um aprendiz que precisava ter aquela força para si. E, sendo sincero, Leon tinha conhecido todos os dez homens, que agora se reuniam ao seu redor, da mesma forma. Todos eram almas abandonadas para morrer em sacrifício como guerreiros defensores da honra de seus mestres covardes. Alguns deles nem mesmo tinham alcançado a idade adulta quando conheceram seu pequeno benfeitor.
Por mais irritantes que fossem, Leon estendeu seu olhar para eles com carinho e respeito. Dez vidas que escolheram confiar em um nobre uma última vez mesmo ele sendo inexperiente e novo. Dez juras de lealdade, dez guerreiros mortais, dez lâminas e sobretudo, seus amigos mais fiéis.
- Ninguém está surpreso de verdade, todo mundo já sabia que a flecha acertaria - consolou Ariel, tomando a frente do grupo escandaloso.
A jovem era a única existência feminina do grupo, mas sua especialidade em manuseio de pequenas lâminas rendeu a ela a quinta posição entre eles. Era também a mais próxima em idade comparada a Leon, que era o caçula do grupo com seus recentes 20 outonos.
-Eu ainda defendo a teoria do pacto. Essa mira não é humana, quem enxerga a essa distância? - rebateu Fizan. Seu orgulho como arqueiro do grupo sempre balançava quando assistia a Leon.
Houve um tempo em que Leonardo temeu que esse sentimento se tornasse algo ruim entre os dois, mas o arqueiro se mostrou um teimoso nato, fazendo desse sentimento um combustível inesgotável, que intensificou seu enorme objetivo de superá-lo. E sua conquista como segunda lâmina era prova de que não ficava nem mesmo um passo para trás de Leon.
- Não me venha com essa, que todo mundo sabe que quem apelou para esses lados foi Lorcan - concluiu Leon com resignação.
- Tomei de graça, e olha que nem abri minha boca - resmungou o guerreiro, rendendo uma rodada de risadas dos demais.
Leon se permitiu sorrir. Momentos assim eram preciosos para o jovem duque, mas esse, infelizmente, não durou muito. O estalar de folhas silenciou o grupo, onze cabeças se voltaram para a entrada da clareira. Leon sentiu o coração errar uma batida antes de voltar ao rotineiro tum tum de sempre ao ver quem era. A mulher vestida em um manto vermelho e branco - as cores usadas pelos servos pessoais da rainha - encerrou sua caminhada a poucos metros do grupo e se curvou. A donzela da rainha possuía cabelos longos e cacheados tão escuros quanto ébano, pele em um tom de marrom tão belo que parecia reluzir sob a luz do sol, e seus olhos, de um castanho profundo, prenderam a atenção do duque assim que ela se levantou.
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Bruxa de Ferro - Livro 1 ( Duologia Metais)
FantasyUm reino Uma coroa Uma espada Dois irmãos "-Enquanto sua linhagem reinar seu povo estará a salvo, sejam eles bons reis - seu sorriso se alargou - ou talvez nem tão bons, mas enquanto seu sangue existir tudo estará em ordem, lhe dou minha palavra. -E...