personagem de quadrinhos.Pelo menos ele havia penteado o cabelo, embora os fios começassem a cair.Meu pai não se importava com isso tanto quanto os outros homens pareciam seimportar. “Só quer dizer que vou precisar de menos cortes, Dave”, ele me dizia,rindo enquanto passava os dedos pelo cabelo ralo. Eu não comentava que eleestava errado. Ele ainda precisaria do mesmo número de cortes, pelo menos atéque todos os fios caíssem.– Realmente não sei se podemos fazer algo quanto a isso – o homem dahipoteca disse. – O senhor já foi informado antes.– O outro homem falou que seria suficiente – meu pai respondeu, com asmãos grandes entrelaçadas à sua frente. Ele parecia preocupado. Muitopreocupado.O homem da hipoteca só continuava sorrindo. Então, bateu um dedo na pilhade papéis em sua mesa.– O mundo é um lugar bem mais perigoso agora, sr. Charleston. O bancodecidiu que é melhor não correr riscos.– Perigoso? – meu pai perguntou.– É, o senhor sabe, os Épicos...– Mas eles não são perigosos – meu pai afirmou, inflamado. – Os Épicosestão aqui para ajudar.Isso de novo não, pensei.O sorriso do homem da hipoteca finalmente vacilou, como se ele tivesse seespantado com o tom do meu pai.– Você não entende? – meu pai perguntou, curvando-se para a frente. – Nãosão tempos perigosos. São tempos maravilhosos!O homem da hipoteca inclinou a cabeça.– A sua antiga casa não foi destruída por um Épico?– Onde existirem vilões, existirão heróis – meu pai disse. – Aguarde. Elesvirão.Eu acreditava nele. Na época, muitas pessoas pensavam como ele. Só faziadois anos desde que Calamidade tinha aparecido no céu. Um ano desde quehomens comuns começaram a mudar. A se transformar em Épicos – quasecomo os super-heróis das histórias.Nós ainda éramos esperançosos naquela época. E ignorantes.