único.

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"A minha vida sempre foi estranha. 

Desde criança o azar me persegue e muitas pessoas se afastaram de mim por isso.

Alguém disse que eu nasci sob uma estrela, por isso estava condenado. Mas, por mais que tenha sido abandonado para morrer, ainda fui acolhido por dois homens incríveis, que me criaram e educaram como seu filho.

Foi graças a essas pessoas que não deixei meu destino ditar meus sentimentos, que consegui me manter até certa idade.

Mas a solidão realmente dói.

Nada machuca mais do que não ter ninguém do seu lado; e olha que eu já me machuquei muito mais do que qualquer pessoa pode imaginar!

É claro que existem meus pais, mas eu não me perdoaria se eles fossem condenados por minha culpa.

Meu único desejo,

é um amigo."


Bennett suspirou quando finalmente terminou o desabafo, enrolou a carta e dobrou até ficar minúscula, então prendeu num pingente e pendurou. 

Esse era seu desejo de ano novo.

A árvore de desejos estava lotada e, mesmo que tivesse acabado de pendurar o seu, já havia perdido ele nas multidões.

Não tinha quase ninguém agora, mas quando chegou estava particularmente cheio. Era pra ter vindo bem mais cedo, mas ele perdeu o horário e não conseguiu pegar o ônibus a tempo.

O céu estava cinza nesse momento, o último ônibus de vinda já tinha partido e tudo que restava era andar novamente.

Como sua sorte não podia deixar a desejar um dia sequer, começou a chover assim que passou a andar.

Ele apertou o passo mas isso não impediu a chuva de encharcar suas roupas. Uma poça particularmente grande de água afogou seu tênis novo e a sensação horrível de estar com o pé molhado dentro do sapato o fez parar. Seu bufo foi interrompido por um resmungo lamentável.

Bennett limpou os ouvidos, se certificando de que não estava escutando coisas enquanto seguia o choro minúsculo.

Ele foi parar no fundo de um beco, entre uma conveniência e uma barbearia.

Dentro de uma caixa de papelão molhada estava um pequeno filhote de cachorro, tremendo embaixo de uma goteira. Parecia um mini lobinho cinzento, meio sujo e assustado.

Bennett sentiu o coração apertar.

O filhote abriu bem os olhos quando notou que era observado, encolhendo ainda mais na caixa.

"shhh… eu não vou te machucar" — Bennett sussurrou, aproximando uma mão do focinho do cachorro para ele cheirar.

A natureza curiosa do cachorrinho o ajudou a tomar coragem.

Ele cheirou um pouco e lambeu o joelho do dedo, voltando a resmungar.

Bennett sorriu, acariciando o pelo áspero até que o bebê estivesse confortável o suficiente para pegá-lo no colo, bem apertado e protegido no peito. 

Ele se moveu para fora do beco, notando finalmente que a chuva de verão tinha ido embora e o sol parecia brilhar para ele por trás das nuvens.

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⏰ Última atualização: Jun 17, 2021 ⏰

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