• 𝙏𝙃𝙀 𝙋𝙊𝙒𝙀𝙍𝙁𝙐𝙇𝙇, ᴄʜᴀᴄʜᴀ

── 047.

Eu nunca entendi muito bem como funcionavam as coisas quando se está quase morto. Eu não conseguia captar realmente o que se passava comigo.

Sabia que estava em um hospital e sabia também que estava numa espécie de coma induzido.

Ouvi Rick falar que iriam aplicar medicamentos para que meu estado não se agravasse, mas eu estava bem, não estava ? Sei que fui operado. Sentia dores insuportáveis no peito, na barriga... na cabeça, Mas nenhuma delas se comparava a dor em meu coração.

Dor por não ver o rosto lindo que eu amava. Tentava a todo custo segurar sua imagem em minha mente, para que, se eu me fosse, levasse-a comigo.

Mas eu não podia morrer agora, podia ?

Como dizem, todos temos uma missão aqui na terra. Nunca acreditei nessa baboseira, mas agora eu precisava crer.

Eu não tinha cumprido minha missão tinha ? O que eu fiz nessa minha porra de vida até hoje, além de matar e traficar ? Nada. Que droga de missão eu tinha então ? A única coisa que eu tinha em mente era que minha missão era amar Charli.

Amar e protege-la do imbecil do irmão. Então... eu tinha que ficar. Além disso tinha meus filhos. Deus iria permitir que eu fosse embora sem ao menos conhecê-los ? Não... era injusto.

Em meu estado mental deprimente eu rezei pela primeira vez em muitos anos. Eu tinha que ficar bem. Minha família não estava completa. Eu não vivi minha vida de casado, de marido apaixonado como eu deveria.

Implorei a Deus para que me deixasse voltar, embora eu soubesse, que não merecia isso.

Já matei, torturei, fiz horrores. E sabia que se se continuasse a viver, eu voltaria a fazer isso.

Em certo momento eu não tive certeza se estava em coma, se estava realmente morto. Até começar a ouvir a voz dela.

Todos os dias eu ouvia sua voz sofrida dizendo que me amava e me pedindo para voltar.

E por que, merda, eu não reagia ? Tentei por várias vezes erguer meu braço e abraça-la, mas nada.

Só ouvia seu choro e o pedido angustiado.