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   A espera se torna angustiante quando o tempo não ajuda, qualquer movimento meu era monitorado por câmeras. Permaneço sentada no colchão da minha cama, como de costume. O portão da sela lacrada se abre, e como todos os dias a cadeira de rodas entra primeiro e logo depois os três homens para me prender a ela.
   —Bom dia Ella, como se sente?
   Observo as mãos fervorosas apertando as fivelas em meus pulsos e canelas. Segui o olhar surpreso de um dos homens em meus olhos. Alguma coisa o pertubara.
   —Está tudo bem querida? -abaixou sobre as pernas e acariciou meu rosto. Robertt era um dos enfermeiros, o mais acolhedor de fato, dentre todos os outros desse lugar macabro.
   —Sim. -respondi baixo.
   Mas minha resposta não valia de nada a não ser comprovar que somente estou viva e consciente. Os outros prisioneiros e prisioneiras que estão no mesmo barco afundando que eu, sabem que não estamos bem.
   —Bom, vamos começar com a entrevista diária! A melhor parte do meu diaa!!! -sorriu Robertt. —Ganho meu salário para isso afinal, pois bem Ella.
   Em sua bolsa branca com um símbolo da medicina desenhado nas extremidades, retira um medidor elétrico. O encaixa na superfície do colar eletrônico em meu pescoço e anota em seu boletim o número. Aperta alguns botões do medidor e sinto uma corrente elétrica tomar meu corpo, as convulsões de choque me faz fechar os olhos rapidamente. Era doloroso...
   —Ok, está funcionando perfeitamente. -diz ele, sempre fazendo anotações.
  Um dos seguranças, fecha o portão da sela e permanece ali de pé de braços cruzados. Suas roupas eram cinzas e sociais, pele negra e bastante alto. O outro segurança caminhou até minha cama e deitou-se acomodando as pernas.
   —Ella? -chamou Robertt tentando recuperar minha atenção. —Irei começar.
  —Ok. -respondi.
   Era triste ser submissa a qualquer comando quando se tem um colar eletrônico a forçar qualquer intenção minha. Era doloroso e me aquietava, pois não havia outra saída ou opção melhor para seguir.
   —Qual seu nome completo?
   —Ella Lennox Monroe.
   —Qual nome de seus pais?
   Fiquei pensativa, apesar de não lembrar muito deles, havia perco o tempo de quanto tempo faz que estou aqui como prisioneira.
   —Parker e Jack.
   —Etnia?
   —Charleville, Austrália.
   —Se descreva!
   —Branca, altura média de 1.67, loira, olhos azuis, massa corporal padrão normal.
   —Muito bem! -disse Robertt.
   Houve gritos vindo dos corredores, os seguranças ficaram alarmados. Robertt e eu nos encaramos fixamente e tive a certeza que estavam com medo. Era como se entrasse em minhas narinas a temperatura corporal deles. Houve um silêncio dentro da sela sobrenatural e voltei a ouvir o que estava a ocorrer do lado de fora.
   —Está tudo bem. -Robertt me confortou afagando minha mão trêmula debaixo das fivelas, olhou para os seguranças e acenou com a cabeça. Os dois saíram em um átimo do local nós deixando a sós.
   Assim que saíram uma ansiedade enorme serpeteou pelo meu estômago parecendo revirar minhas entranhas.
   —O que está acontecendo lá fora? -perguntei sem pestanejar. —O que estão fazendo com a gente?
   —Nada que possa se preocupar, está tudo sobre controle. Agora se acalme pois sua pressão arterial está elevada! Não quero que leve outro choque.
   Respirei fundo e me concentrei, fechei meus olhos e não conseguia pensar em nada coerente, estava tudo um caos absoluto.
   —Podemos continuar?! -sorriu, reencontrando a folha do boletim.
   Permaneço quieta e mumificada com tantos gritos vindo dos corredores.
   —Vejo que não fez sua refeição. Sabe que se ficar fraca você não irá aguentar lá dentro nas mãos deles não sabe? -disse ele com pesar.
   —O que vocês estão fazendo comigo?
   —Eu não posso te contar, você mesma por si própria vai descobrir. -disse olhando para seu caderno. —Já que não anda fazendo sua refeição, não há como eu saber sobre suas reações.
   Passando os dedos sobre o queixo, se aproximou e me examinou. A textura da pele, as unhas, o cabelo, estatura corporal e muscular, e por fim em meu rosto.
   —Abra a boca Ella.
   Assenti, o que há de mudar em minha boca? -pensei. Com receio abri.
   Delicadamente ele apoiou os dedos sobre meus lábios e os afastou para baixo, tentando ver meus dentes. Um por um Robertt examinou, e fez anotações. O cheiro da luva de látex era insuportável.
   Com uma lanterna iluminou meus olhos, e estantaneamente senti as pupilas dilatarem. Me assustei assim como ele.
   —Como fez isso Ella? -perguntou ainda fazendo testes com a lanterna em meus olhos. —Devia ser ao contrário, concorda?
   Tremendo sob suas mãos, pensativa e com medo. Era a avassaladora a vontade de me levantar e sair correndo mesmo sem rumo, mesmo sem certeza das dúvidas. Estavam me transformando em alguma coisa.
   —Consegue diminui a pupila enquanto ilumino ou não tem controle?
   —N-não tenho c-controle.
   Robertt se afastou com um semblante abatido e pragmático, tornou a fazer anotações e se pôs de pé. Guardou seus utensílios na bolsa e saiu sem aos menos dizer tchau.
   Ofegante tentava me desprender da cadeira de rodas, as veias das mãos estavam em tempo de explodir com a força que fazia. Era falha, fraca.
   Já não havia gritos, o silêncio reinou no ambiente, os passos apressados dos seguranças chegaram até o portão da minha sela, novamente vieram de encontro a mim. Porém para me levar dali para o inferno. No caminho injetaram uma substância sonolenta e a última imagem que vi com meus olhos desvairados eram de dezenas de jovens sendo levados assim como eu para um lugar aberto, com árvores e ar puro. Alguns incontroláveis, agressivos e outros já dopados pela substância cujo seja misteriosa para nós. Desconhecidos uns dos outros, sem destino, sem vida. Passos largos e decididos me guiam, e ouço em meu ouvido as últimas palavras de Robertt.
   —Ella Lennox Monroe, você está livre!... -sussurou baixinho enquanto tirava o colar de meu pescoço. —Mas cuidado! Sei que pode se controlar, então se cuide para ninguém descobrir o que você é de verdade.
   Senti seus lábios em um gesto de carinho no topo da minha cabeça, depois daquele laço sentimental de amizade e cuidado me senti fria, e desamparada, sem vida...

  
  
  

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⏰ Última atualização: Jul 31, 2021 ⏰

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