Encontro com os lobos

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Ivy andava de um lado ao outro da estrada, tinha dirigido até La Push decidida, mas agora estava tensa, não sabia como agir.
Respirou fundo enquanto reunia coragem para entrar no carro e prosseguir, quando ouviu uma voz grave atrás dela.

- Você está perdida? Precisa de ajuda?
Ela observou o homem que se aproximava, era quileute, sem dúvida, traços duros davam a ele uma aparência séria,quase hostil.
- Não estou perdida, apenas parei para descansar. Estou indo a La Push, ver um amigo, mas não sei exatamente onde mora -disse ela com o queixo empinado,sem querer demonstrar o nervosismo que sentia.
- Moro lá, talvez seja alguém que eu conheça,posso te acompanhar.- disse ele, ainda sério.
Ela pensou um segundo se deveria aceitar a ajuda dele, não devia ter dito que era um amigo...
- Está com medo de um estranho em seu carro? - perguntou ele com um sorriso sarcástico- Não teve medo de ficar parada sozinha numa estrada deserta, mas tem medo de mim?
Aquilo fez Ivy ceder ao seu mau gênio, - Dane-se !- pensou.

Entrou no carro e abriu a porta do carona para ele.
- Não fique com medo - disse ele em tom de zombaria- apenas diga o nome do seu amigo e eu te levo lá.
- Não tenho medo de você Lobinho, - disse ela irritada,fazendo ele se sobressaltar- E o nome dele é Samuel Uley.

Ele ficou algum tempo olhando para ela , aparentemente incapaz de falar .
- Então, para onde?- disse ela
Ele apontou o caminho, sério e calado. Depois de 5 minutos, ele perguntou:
- De onde conhece Sam?
Ela se encolheu pensando na mentira que dissera.
- Bem, nós não somos exatamente amigos- disse ela corando - Sou mais uma "amiga da família" ,pode se dizer.
- E de onde conhece a família de Sam - disse ele, com o sorriso sarcástico voltando.
- O pai dele é amigo do meu pai, e meu padrinho. - disse Ivy, vendo ele se irritar e começar a tremer ao som da palavra pai.
- Calma, não vai se transformar no meu carro- disse ela fazendo ele arregalar os olhos novamente.- Eu posso explicar tudo a ele e ,se possível aos anciãos
Ela parecia assustada até para si mesma, e provavelmente foi isso que o fez se acalmar.

- Vamos começar de novo? - disse ela com um sorriso tímido. - Meu nome é Ivy Thompson, e o seu?
- Samuel Uley- resmungou ele
Ela pisou no freio abruptamente,olhando para ele com os olhos arregalados.
- Quer nós matar?- disse ele
- V-v-você é Sam?- disse ela branca como cera
- Foi o que eu disse. - disse ele secamente. - Vamos logo, estou ansioso pelo que vai dizer a mim sobre aquele homem.

Ivy se irritou com a forma como ele se referia ao pai, afinal ,tio Josh era alguém que ela amava, com quem sempre pudera contar,mas também sabia que para Sam ele era o pai que o abandonou, tentou respirar fundo e se acalmar.
- Bem,vai ser uma longa história- disse ela , acelerando o carro novamente.

Estacionaram em frente a uma casa com muitas flores em volta, Ivy automaticamente se lembrou do jardim de sua mãe, e tocou as pétalas com um sorriso melancólico.
- Gosta de flores?- perguntou uma mulher com um garotinho que parecia ter cerca de 2 anos no colo.
Ivy olhou para ela e foi difícil não demonstrar o choque ao ver seu rosto, as cicatrizes deixavam claro o que havia acontecido, afinal, sua mãe tinha uma cicatriz semelhante no braço.
- Minha mãe tem muitas, cresci rodeada delas- disse Ivy sorrindo e estendendo a mão- Sou Ivy Thompson.
- Sou Emily Uley- disse a mulher ,enquanto o garotinho em seu colo esticava a mão em direção ao cabelo de Ivy.
Ambas riram enquanto ele segurava uma mexa do cabelo dela e olhava atentamente.
- Acho que ele nunca viu um cabelo ruivo na vida- disse Sam pegando o garoto e abraçando Emily.
-Entre Ivy, tem muito a falar.

Ivy sentou secando as mãos suadas na calça jeans,tentando organizar os pensamentos, como começaria sua história sem falar demais.
- Como eu disse, nossos pais são amigos-comecou ela da parte que achou mais segura.- meu pai salvou a vida do tio Josh a alguns anos, e ele insistiu em trabalhar para meu pai como retribuição. Mas com o tempo,ficaram amigos.
Não parecia que Sam iria fazer perguntas, e Emily apenas ouvia enquanto brincava com o garotinho,então ela continuou.
Alguns anos atrás, quando minha mãe ficou grávida, ela teve complicações ,na gravidez, quase morreu e precisou de uma doação de sangue, seu pai doou e tudo se resolveu. Mas depois que eu nasci, conforme crescia, começaram as estranhezas, eu crescia rápido, era muito forte, tremia quando fazia birra e um dia , aos 3 anos, me transformei em loba,pela primeira vez.

Ivy fez uma pausa ao observar a expressão dele, choque ,descrença dúvida, e depois a expressão seria voltou.
Isso é impossível- disse ele. - Mesmo eu só me transformei na adolescência, e com a proximidade de vampiros.
-Tio Josh também não entendeu- disse ela na defensiva- explicou aos meus pais as antigas histórias, e imaginou que a diferença se devia ao fato de eu não ser descendente direta.

Meus pais me esconderam e protegeram desde então, cresci tendo contato apenas com eles ,com tio Josh e com os cavalos. Agora que cresci, tio Josh disse que eu deveria vir aqui, falar com os anciãos, me juntar aos quileutes como protetora-disse ela abaixando a voz e os olhos. Imaginava como eles estavam vendo ela agora, uma adolescente ruiva de 1,55 de altura, magra e que , supostamente,podia se transformar em loba.

- Lá na estrada, você me chamou de lobinho-disse Sam- Como sabia?
-Seu cheiro- disse Ivy - Tenho um ótimo olfato, como você também deve ter. Tenho muitas semelhanças com os lobos das histórias do tio Josh, mas algumas diferenças.
- Vamos falar sobre isso com os anciãos- disse Sam se levantando
- Acha que eles vão acreditar em mim? Me aceitar ?- disse Ivy insegura
- No que me diz respeito, se você é uma loba e tem o sangue do meu pai, você é minha irmazinha- disse Sam sorrindo.

Sam conseguiu reunir os anciãos, e Ivy contou sua história novamente, eles e o resto da alcatéia,que ela descobriu ser imensa, a encheram de perguntas, desde as mais lógicas,sobre se já havia caçado vampiros  - Sim, já-  até sobre se tinha namorado  - Não ,não tinha - ao que o jovem recebeu um cascudo de outro membro da alcatéia.
Acabaram aceitando sua presença, culpando Joshua Uley pela confusão , e seguindo suas vidas.

A vida de Ivy entrou numa rotina nos dias que se seguiram, ajudava Emily, de quem se tornara amiga,brincava com o pequeno Eliah,filho de Sam, patrulhava com os lobos, que ainda faziam piada com seu tamanho e por sua versão loba ser branca como ela, e conversava com Billy, que parecia ser o único interessado em saber de Joshua Uley , e com esse ela tinha cuidado para não falar demais.
Ela se comportava como a irmãzinha de Sam, o que era fácil, gostava dele, principalmente depois da primeira conversa que tiveram após a reunião com os anciãos.

Ela se lembrava de ter ficado confusa com a aceitação fácil dele.
- Sam, porque você me aceitou tão fácil?- ela perguntara .
Ele pareceu pensar um momento.
- Você parecia confiante ,mas quando falou sobre ter crescido isolada, apenas com seus pais e ... o meu, pareceu triste, e eu me lembrei de como era ser o único lobo, confuso, assustado, mesmo com o apoio dos adultos,não havia outros.- ele sorriu para ela um sorriso triste. - Fico feliz por vc ter vindo para junto dos seus.
Ela sentiu aquelas palavras como um golpe, mas não podia fraquejar.
- Tio Josh teve medo que você não me aceitasse por raiva dele, que acabasse, você sabe, descontando em mim.-disse ela
- Ele tem essa opinião a meu respeito?- perguntou com ar de desdém
- Não, ele apenas sabe que te magoou  te deixando, e entende que você poderia estar ressentido a ponto de não pensar direito,mas ele sempre falou bem de você.

Sam olhou para ela pensando que era brincadeira,mas seu sorriso era genuíno.
- Sério, ele dizia o quanto você sempre foi inteligente, que era forte, e não se assustava fácil como as outras crianças- disse ela sorrindo- Várias vezes ele disse que queria que nós tivéssemos crescido juntos, que seria algo bom para ambos.
- Nisso ele estava certo-disse Sam- eu sempre quis uma irmã mais nova para implicar.
Ambos sorriram e desde então ela tentava agradar ele em tudo, ser a irmã que ele desejara, mesmo que as vezes se culpasse pelo que não podia dizer a ele.

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