PRÓLOGO

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Zane estava de pijamas no sábado de manhã, tão concentrado em escrever as linhas do seu romance que não escutou o mordomo da casa chamar-lhe por cinco vezes. Até que finalmente o som grave e rouco do senhor que tinha a mesma idade de seu pai, foi escutada:

— Jovem senhor Zheyuan?!

— Ahn? — Levantou a cabeça e piscou os olhos. Ele tirou as mãos do teclado do laptop. — O que foi, Sr. Mu?

— Seus pais estão chamando você para o café da manhã.

— Assim tão cedo? — Estranhou e espiou no relógio, percebendo que perdeu noção da hora e já era mais de nove horas. — Tudo bem, eu já estou a caminho. Vou me trocar.

— Não demore, eles já estão impacientes, jovem senhor. — O mordomo fechou a porta e saiu.

Zane tirou os óculos e fechou o laptop. Se levantou e tomou uma rápida ducha antes de escolher um traje em seu armário. Suas roupas não refletiam sua personalidade e eram escolhidas por um estilista pessoal contratado por seus pais para ele parecer sério e focado nos estudos de medicina. Escolheu um conjunto básico e cinzento. Seguiu segurando o paletó dobrado no braço até a sala de jantar. Em uma mesa de dezesseis lugares, apenas três estavam postos.

— Bom dia meu filho! — A mãe sorriu. Dona de uma beleza única, a chinesa tinha os cabelos presos em um coque e usando uma camisa bufante vermelha.

— Dormiu demais? — Seu pai de terno risca-de-giz ralhou.

O Sr. Sheng, ou Doutor Sheng, como era conhecido, era um chinês de baixa estatura, portanto Zane o ultrapassou logo na adolescência. Apesar disso, ele não tinha autorização para olhar seu pai de cima, o que era sempre problemático quando se tinha 1,80m.

— Querido, ele está cansado, estudando demais. — A mãe abanou a mão de unhas vermelhas e pegou a xícara de café para dar um gole.

Em cima da mesa havia muitas coisas intocadas, bolos e doces diversos, frutas e pães, mas seu pai e mãe preferiam o puro café para iniciar o dia a dia e no máximo uma torrada.

— Como está a faculdade?

— Ah, tem estado ótima. — Zane colocou o paletó em cima da cadeira antes de se sentar à mesa com os pais.

Como tudo o que fazia era para agradar à família, aquela frase não poderia ser mais mentira. Não que ele odiasse medicina, não era isso, claro que herdou do pai e do avô o amor pela medicina, mas não era, nem de longe, sua paixão. Zane gostava de romances e soap operas! Ele queria escrever profissionalmente, ser publicado e ver seus livros transformados em produções televisivas. Ele também preferia praticar snowboarding e ski do que ter que tocar piano todo Ano Novo Chinês quando suas tias vinham ao Canadá visitar. Não verbalizaria, entretanto.

— Ótimo. Seu avô está ansioso, você se formará em dois anos. Já escolheu sua especialização? — O pai logo questionou.

Por anos ele arrastou essa decisão, mas conforme passava, a família pressionava.

— Provavelmente cardiologia. — Respondeu de forma robótica se servindo de suco de laranja e pegando um bolo decorado de osmanthus. A resposta era o que escutou a vida inteira, já que seu pai e o avô eram cardiologistas renomados.

— Doce logo de manhã? Coma um pão antes, Zheyuan! — Sua mãe protestou.

Como um bom filho, largou o doce no prato e surgiu para a cesta de pães escolher um.

— Muito bom! — Seu pai tinha agora um sorriso orgulhoso na cara. — Eu sabia que você estava pronto.

— Eu disse, querido. — Sua mãe bateu os cílios.

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⏰ Última atualização: Jun 19, 2021 ⏰

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