Eu sempre fui o tipo de garota que sonhava com romance, tipo aqueles de filme dos anos 90, com um cara fazendo surpresas inesperadas para conquistar o coração de alguém. Com o passar do tempo, porém, as coisas se tornaram cada vez mais o inverso disso.
Namorar caras mais velhos que fogem de relacionamento, contudo, nunca ajudou muito a realizar esse sonho. Eles tinham aquele ar de quem fugiria assim que você fechasse os olhos.. e alguns realmente fugiram.
Mas com ele era diferente.. era meu menino, era meu namoro adolescente com corações de papel e flores colhidas no campo. Era tudo que eu sempre sonhei e estava ali bem na minha frente.
É lógico que eu não era mais uma adolescente - um emprego e boletos pra pagar acabam por tirar essa inocência de você. Mas era perfeito como ele sabia ser meu menino durante o dia e meu homem durante a noite.
Em um dia de inverno, estávamos deitados na cama como de costume, após o almoço, em silêncio. Quando você se acostuma com a companhia de alguém, até o silêncio é prazeroso. Foi ali, em nosso primeiro ano de namoro, que um pensamento voltou a minha mente, e eu pensei "por que não?!".
- Então, eu estava pensando... Você e a Luísa usavam aliança de compromisso? Tipo essas de prata de namoro.
- Não.
- Por quê?
- Porque eu não gosto. Atrapalha e tal.
- Hum...
É óbvio que bastava o meu "hum" para ele saber que era muito mais do que uma simples pergunta.
- Não. Isso não. Eu nem posso usar, meu trabalho não permite.
- Primeiro que tu não trabalha, só estuda e segundo que eu nem falei nada.
- Sei! Mas ia dizer...
Depois desse dia, obviamente que eu não deixei o assunto morrer. Acho que esse na maior parte do tempo era o meu erro, não deixar o assunto morrer até se tornar extremamente cansativo.
Sempre que surgia a oportunidade, lá estava eu falando sobre como eu queria um anel novo, ou como eu teria sido muito feliz se algum dos meus ex tivesse me dado uma aliança ou sobre como a aliança é um sinal de amor e respeito.
Claramente, nada dessas coisas foram o suficiente. Minha sogra ainda fez questão de, um belo dia na cozinha, expressar como ela era contra o anel de compromisso. "É sinônimo de eu estou grávida", ela disse - o que extinguiu qualquer chance de eu ter um, já que ele sempre acatava as ordens da mãe.
Mas um dia, tudo mudou. Ele recebeu uma proposta irrecusável para outro estado e ficaríamos longe por 1.342,5 Km e por mais que eu tivesse chorado de felicidade, no fundo meu peito apertava com todos os "e se...".
Eu sabia que as coisas não seriam fáceis e a família amorosa demais já tornaria a situação difícil, então procurei não demonstrar nada que pudesse fazer ele se sentir mal por ir embora. Fui até o shopping mais próximo e comprei uma camiseta nova de presente. Chegando em casa, escrevi cartas e achei minha velha corrente dourada de coração pra que ele lembrasse de mim.
Na casa dele, ele chorou e disse que me amava. Nos abraçamos e choramos juntos, até que ele disse:
- Eu tenho um presente pra ti, mas ainda não chegou. Chega em três dias.
Eu adoro um presente, não vou negar. Mas olhei no fundo daqueles olhos verdes e pensei "MEU ANEL". Finalmente ele havia entendido todas as mensagens e me daria um anel, como prova de que ele voltaria e de que me ama. Seria o presente perfeito pro momento e era tão a cara dele fazer isso.
É óbvio que eu passei os próximos três dias tentando descobrir o que era o meu presente, o tamanho, a cor, a loja, mas nenhuma informação me foi dada - a não ser que havia sido comprado em um site conhecido que vende de tudo.
Quando finalmente chegou, a caixa era grande demais e minhas esperanças caíram para 50%, mas, hey, podia ser uma pegadinha igual ele fez no natal, me fazendo procurar em tudo. No abrir a caixa, lá estava ela..
O anel, você deve ter dito.. Mas não.. lá estava minha caneca de caldeirão de Harry Potter. O presente que eu havia pedido há meses atrás porque combina tudo que eu amo: bruxas e Harry Potter.
E é claro que eu fiquei feliz, eu amo minha caneca de caldeirão, mas talvez o meu rosto estivesse um pouco decepcionado, porque ele ficou me perguntando se eu havia gostado e eu disse "é claro que eu gostei" o tempo todo, até ele finalmente arrancar de mim o real motivo:
- Eu achei que fosse uma aliança. Mas eu amei minha caneca.
- Eu nem sei o tamanho do teu dedo
- Podia ter perguntado pra minha mãe ou algo assim.
- Tudo bem. Tu não gostou e eu errei... de novo.
- Não! Eu amei. E esse risco na alça, torna ela única.
E mais uma vez, eu sutilmente todos os dias falava sobre. É só que eu não podia evitar. Achava que seria perfeito, como aquelas pulseiras que são feitas pra casal e servem pra você se lembrar da outra pessoa. Era isso que eu queria: algo que estivesse sempre comigo, que eu pudesse sentir e lembrar que estava tudo bem.
Por incrível que pareça, acho que eu consegui transformar o lance em uma piada, porque eu sempre ria e fazia parecer engraçado e fazia ele rir também. Mas os dias foram passando, o prazo apertando e nada da aliança, até que um dia eu resolvi deixar pra lá e aí aconteceu...
- A gente vai passar lá no meu amigo.
- Por quê?
- A gente vai ir lá.
No mesmo tempo um click aconteceu na minha cabeça... a namorada do amigo vende jóias então... Sim, finalmente era o anel. Eu sorria de orelha a orelha e dessa vez nada iria impedir, exceto...
...Que não serviu! Nem o meu e nem o dele. E era o único par.
Naquele momento desisti. Disse que não queria mais e ele seguiu buscando mesmo assim e a cada falha eu ficava mais triste, mas tentava agir como se nada estivesse acontecendo, já que não importava mais. Vai ver não era pra ser.
Eu estava no trabalho, era de tarde, quase a hora de ir embora e ele me mandou mensagem dizendo que não havia conseguido, que sentia muito. Eu no fundo quis pensar que ele estava me enganando, mas eu sabia que não. Que ele não havia conseguido.
Eu disse que estava tudo bem. Que amava ele e apreciava ele ter feito aquilo por mim, porque no fundo eu sabia que aquilo era por mim, que ele de fato não queria (e depois a mãe dele me confirmou que sentia o mesmo).
Então eu fui pra casa, arrumei as minhas coisas, esperei ele aparecer e me levar pra casa dele. Sentei na cama escorada na parede de carrinhos com meu livro em mãos. Ele parou na minha frente, sorriu de canto e disse:
- Fecha os olhos.
É CLARO que eu estava gritando por dentro. Agora eu tinha 90% de certeza que era o meu anel. E ERA! Era prata, lindo e brilhoso. Dentro estava gravada a nossa data de namoro e a palavra "always" mostrando que ele realmente fez aquilo por mim porque ele não era fã de Harry Potter.
Eu me senti completa, realizada, feliz e amada.
Quatro meses depois, minha aliança foi parar no fundo do guarda roupa, guardada para que eu não pudesse vê-la e sentir que aquilo não existia mais, não fazia mais sentido. Gosto de pensar que ele gastou dinheiro a toa no fim das contas, mas não é meu problema.
Há alguns dias, soube que ele carrega a dele na carteira, mesmo depois de meses. Às vezes, penso que ele disse isso pra me magoar, aumentar o ego e tentar ver se ainda sofro por ele.
Às vezes, como Dumbledore falou a Snape, penso que talvez seja:
- Her, after all this time? (Ela, depois de todo esse tempo)
- Always. (Sempre)
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Aquele Das Minhas Histórias
RomanceE se você pudesse colecionar histórias? E se elas talvez fizessem mais sentido para alguém? Aqui, nesta coleção, tem algumas das histórias mais importantes ou engraçadas da minha vida para que você possa aprecia-las e quem sabe essas sejam uteis no...