Folclóricos: e a Única filha

Capítulo 1- O Lago Escuro

Em uma terça feira tardia, algo impressionante estava para acontecer, algo sem sentido, estranho, porém, mudaria a vida de Mia para sempre...

~Sexta-feira~

Mia estava a caminho da sua residual rotina chata de uma adolescente. Levantar da cama, cuidar da pele com produtos de segunda mão e usados que sua avó lhe dera, vestir uma roupinha qualquer e seguir a caminho da sua monótona vida, que tinha certeza que, não sabe o porquê, algo estava sendo roubado , algum momento talvez, ou alguma sensação, o que sabia era que, àquela vida não era a que queria ter. Não queria morar com a vó desprezível , não queria estudar assuntos de exatas extremamente chatos e sem nenhum motivo sequer, e também não queria seguir uma vida salariada e comum atras de um computador e desperdiçar horas de sua vida. Mas sabia que, isso foi roubado , o poder da escolha fora surrupiado de suas mãos, e tinha que estar ali, naquele casarão onde a sua vozinha, Dona Loira Coelho, lhe abrigava com muito mal gosto e mal humor.

Estava, porém, muito feliz naquela manhã, pois estaria finalizando o ano letivo e finalmente iria começar as suas férias, e depois, o estimado ensino médio. Despiu a camisola puída, também presentinho da avó, e vestiu o uniforme branco e preto e uma calça jeans um tanto folgada, com sapatos surrados e meias esburacadas. Penteou seu longo e liso cabelo negro azulado a esmo e deixo-o despencar em seus ombros, formando uma cortina negra em suas costas. Colocou uma fina linha de delineador nas pálpebras, sobressaltando os seus olhos verdes cana e partira a arrumar o seu quarto.

O quarto, não era tão grande assim, tinha uma grande mobília de madeira marrom do lado da sua cama de solteiro, onde coloca sua dúzia de roupas penduradas em cabides velhos e gastos. Tinha um tapete peludo cinza que combinava com as paredes do quarto, um ventiladorzinho sob um móvel pequeno da mesma espécie do grande móvel que ficava ao lado da sua cama. E a cama, extremamente bagunçada com lençóis e fronha super gastos e surrados, e uma penca de livros escolares que, ela não esperava as horas para se livrar deles.

Depois de tudo concluído, desceu correndo para a cozinha que, diferente do quarto, era extremamente grande e super bem-organizado, um ambiente límpido e minimalista, que tinha uma excelente vista para o litoral que se encontrava no fundo da casa. Preparou um misto quente e lá viu, sua avó, acompanhada de seu filho, que também morava conosco. Loira olhara para ela com um ar de superioridade, com aquele corte de cabelo que não favorecia o rosto redondinho e cheio de saúde, lábios finos e puxados e uma roupa bufante com estampa de onça e olhos esbugalhados, os mesmos olhos de Mia, talvez fosse a única coisa que elas tinham em comum.

Seu tio era muito seco e curvo, uma aparência desgastada e a pele caramelo, igual à da sobrinha, tinha cabelos amarronzados milimetricamente cortados e espetados e andava com uma pequena capa em suas costas, o que era um tanto peculiar, visto que o homem possuía 37 anos e tinha atitudes de um garoto de 10. Ele olhava para sobrinha com um sobressalto de pavor, como se a menina mordesse, e agarrara em sua capa e se envolvera como um escudo, quando ela estava avançando para ele e para a sua avó, que ainda olhando para Mia, franziu o rosto vendo-a de encontro com a madame.

- Bom dia Dona Loira- Falou com um gesto educado, como se estivesse falando com a patroa. – Bom dia tio Arlino.

-Posso saber o motivo dessa sua alegria tão contagiante? - Loira pareceu tão ríspida, muito mais do que o normal dela- finalmente descobriu o que quer fazer dessa sua vida tão miserável?

Mia ficou extremamente chocada com a atitude da sua vó, normalmente é rígida e ríspida, malmente fala com a neta. O choque foi tão grande que seu tio Arlino soltou a capa, boquiaberto.

- Hoje é meu último dia de aula- Falara tão baixo que parecera um ruido, olhou para o chão imaginando a melhor forma de ser enterrada viva- Por isso a minha felicidade.