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Toc toc.
São duas da manhã, quem pode ser a essa hora?
Toc toc.
Batidas leves, não parecem de alguém pedindo socorro.
Toc toc.
Não, eu não vou levantar. E se for um maníaco? Eu não conheço ninguém nessa cidade. É impossível alguém são estar batendo a minha porta às duas da manhã.
...
Parou? Ufa, parou. Seguirei aqui na minha cama,
TOC TOC!
QUE MERDA É ESSA? Caralho, caí da cama de susto!
Desço as escadas correndo, em desespero. Deve ser alguém realmente precisando de ajuda.
Abro a porta. Mas não tem ninguém aqui. Saio, olho ao redor, nem sombra de vida humana acordada. As casas ao meu redor estão em completo breu.
Dou meia volta. Minha porta está fechada. Não está ventando, como ela poderia ter fechado? Olho pelas janelas laterais, e minha casa segue no breu, assim como as da vizinhança. Não, não tem ninguém aqui e eu provavelmente ouvi um pássaro noturno batendo em uma janela.
"Toc toc", algo sussurra em meu ouvido. Olho para os lados, não tem ninguém aqui. NINGUÉM!
Corro para a porta, mais rápido do que o vento. Seguro a maçaneta, e por uma fração de segundos, acredito que ela está trancada. Mas não está. Respiro em alívio. Entro em casa e acendo todas as luzes. Ligo a tv, fecho as cortinas, tranco as portas e janelas, pego o celular pensando em ligar para alguém. São duas da manhã! Preciso lembrar que estou no meio da madrugada. Preciso parar de ver filmes de terror.
Toc toc.
Puta que pariu! Agora são batidas, leves novamente. Mas não vêm da porta. Estão vindo do teto, sussurro, como se alguém aqui pudesse confirmar a minha desconfiança.
Toc toc, a batida. "Toc toc", o sussurro.
Todo o meu corpo está arrepiado. Deve ser um animal preso no sótão, só existe essa explicação possível. Subo as escadas pé ante pé, com um medo tão grande, que eu nem sabia que poderia sentir. Ouço passos. Ouço uma respiração. Está atrás de mim. Paro. Tenho certeza de que vou fazer xixi nas calças. Estou tremendo tanto que eu não me sinto capaz de controlar nenhum músculo do meu corpo.
"Toc... toc", está atrás de mim, sinto a sua respiração.
A luz cai, estou no breu. Grito, alto, muito alto. Algo passa por mim, correndo.
A luz volta, não durou nem quatro segundos.
Olho ao redor. Não há nada, ninguém, sem passos ou respiração.
Toc toc.
Respiro fundo e volto a subir. Começo a torcer para que seja um assassino. Porque aí eu vou ter a certeza de que é um ser humano.
Paro no primeiro degrau da escada para o sótão. Está escuro. É óbvio que está. Algo caminha lá em cima, devagar, passos leves, respiração forte. Ziguezagueia pelo andar, como se estivesse preocupado.
Piso no segundo degrau, que range. Os passos param. A respiração para. Engulo em seco, volto a subir. Seguro o celular firme no bolso, ligo a lanterna sem tirá-lo de lá. A luz cai novamente. Espero, vai voltar em poucos segundos. Não volta. Espero um minuto. Dois. Três. Cinco... A luz não volta. São duas da manhã, em uma cidade de interior. O posto policial fechou às dez. Eu não tenho para onde correr.
Volto a ouvir os passos. Agora estão muito lentos. As madeiras do piso rangem, ele, seja lá o que for, está se aproximando da porta do sótão. A porta se abre, rangendo devagar. Um feche de luz da lua ilumina uma sombra. Não há forma de algo que eu conheça, apenas uma sombra.
"Toc toc", foi sussurrado em minha frente. Ali, no degrau acima. O senti se afastar, então voltei a subir. A certeza da morte me deu coragem, então subi.
Toc toc.
Cheguei ao sótão. A sombra se mexeu, se aproximou. Lembrei do medo, merda. Estou chorando. Eu vou morrer assim? Sem nem saber o que vai me matar...
"Toc... toc". Caminho pelo sótão. Não vejo mais a sombra.
Algo passa por mim. Não vejo nada. Continuo chorando, o desespero me deixa inerte.
"Toc... toc", o sussurro insiste.
Engulo em seco. Acho que entendi.
"to-c... to-c", parece impaciente.
Está mais frio. Estou tremendo. Uma névoa paira pelo cômodo, parecia um anúncio.
- Q-quem é? – minha voz de mistura ao medo, ao choro, ao desespero.
