Náufrago.
“ Um barco a remo, três sobreviventes e um navio afundando. Que belo início de semana. A cada puxada nos remos meus braços ficavam mais dormentes. Tudo por causa de um maldito motim. Uma pena capitão Jack, ter olhado para o lado errado bem na hora do ataque, aquele maldito desmunhecado, era um bom homem, apenas confiou nas pessoas erradas; e eu ainda tentei avisá-lo. Agora não importa muito. Tudo o que restou, além de mim, foram o cozinheiro e um rapaz magricela – que tenho certeza de ser eunuco. Já se fazem quase dois dias inteiros que eu estou remando para fugir das ondas agitadas, e temo não conseguir por muito mais tempo.
“ Ei, grandalhão, por que não me ajuda a remar?” Disse ao cozinheiro.
“ Por que deveria?! Eu poderia ter te jogado no mar quando o vi fugindo como uma moça, mas não o fiz. Você rema!” Decretou o maldito enquanto roía as próprias unhas.
Como eu odiava esse cara! A minha vontade de acerta-lo na cabeça com o Remo e deixá-lo afundar no mar, era quase tão grande quanto ao cansaço; mas ele e é um desgraçado corpulento e cabeça dura, uma luta contra esse bruto ignorante seria suicídio - Ainda mais em um bote.
“ Pelo o quê me lembro, tu também fugiu igual uma moça. Isso nos faz iguais.” Disse a ele.
Ele cuspiu para a água. Tenho quase certeza que ele fora um dos traidores, e quando a coisa ficou feia, fugiu como um rato. E quanto a esse Magricela loiro, não o conheço bem, ele entrou para a tripulação a menos de um mês, é só uma criança que sabia dar nós.
Quando o sol alcançou o alto do céu já estava cansado de queimar nosso couro. Amarrei os trapos que eu vestia na cabeça para tentar me proteger de uma insolação, mas o calor e a fome já estavam vencendo a luta. Pelo menos o rapaz tomara iniciativa em me ajudar com um dos remos. Já sentia meu estômago colar nas minhas costas e a visão ficar turva. Teríamos comida, se ela não tivesse caído no mar quando o cozinheiro, com todo o seu peso, virou o bote tentando embarcar. Algumas horas depois já não conseguia sentir meus braços. Eu fora vencido. O mar estava irritantemente calmo e o vento estava tímido. Tentamos um protótipo de vela usando um dos remos e uma camisa, mas elas estavam ensopadas de suor e água do mar, além de ser pequena de mais para fazer mover o bote. O cheiro do cozinheiro, com o passar das horas, ficou cada vez mais insuportável. Eu vomitaria se tivesse algo em meu estômago.
Estávamos agora totalmente à deriva e sem esperanças. Sem nem sinal de terra, não importava para aonde olhássemos.
No terceiro dia eu descobri uma coisa muito importante: Água do mar e mijo são a mesma coisa, só que um te mata mais devagar. Quando fugi só consegui recuperar uma navalha enferrujada( Aonde eu estava com a cabeça?), uma pistola duvidosa( Que falhou ao ser usada como instrumento para caça.), uma garrafa de rum - que acabara em menos de dois minutos e um saco de peixe seco que havia sido derrubado ao mar. Como sinto falta do peixe seco que comíamos no jantar. Agora só restava mijo e a imensidão zombeteira do mar. Maldito seja o mar.
Perdi a conta dos dias depois do sexto, eu acho. Só sei que a podridão estava intragável, as costelas protuberante e o mijo já estava salobre e escuro, preferiria morrer ao beber aquilo, e nesse ritmo não demoraria tanto.
“ Ei garoto, você tem cara de que gosta de rapazes.” O cozinheiro disse ao rapaz loiro. “ Não quer me chupar? Já a muito tempo não sei o que é uma boa rapariga.”
“ Você só pode estar brincando...” A indignação escorreu para fora da minha boca enquanto eu me debruçava na borda do bote.
“ Está enganado ao meu respeito, cavalheiro.” A voz do moleque ela fina e pelo sotaque irritante era britânico. “ O sol está muito forte hoje, deve estar te fazendo mal, por que não se joga no mar para clarear as ideias?”
O Cozinheiro esticou o braço comprido e flácido, e puxou o rapaz para perto de seu rosto, próximo o bastante para que conseguisse sentir o hálito azedo de merda, sal e mijo. “ Tenho certeza que gosta de rapazes. Olha só pra você!”
O rapaz acertou-lhe uma cotovelada no estômago, mas sua pouca força em junção com os dias sem comer, mal fizeram as banhas suadas do brutamontes balançarem.
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Náufrago
Historical FictionUma garrafa encontrada em uma praia traz uma mensagem. O relato de um sobrevivente?!