Capítulo Único

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Às vezes, Law parecia um gatinho.

Todo manhoso, se aconchegava no garoto de borracha, procurando calor humano ou talvez só a companhia do outro. Com a posse do colo alheio —especificamente o de Luffy—, relaxava os músculos e apresentava uma expressão de deleite que ninguém ousava retirar, seja questionando-o ou o importunando com o que quer que fosse.

E ai de quem fizesse qualquer coisa! Nesses momentos, o perigo que geralmente acompanhava os olhares e ações de Law passava para o raio de sol chamado Luffy. O chapéu de palha se tornava extremamente protetor desses momentos ociosos e cheios de afagos; lançava olhadas feias e sérias a quem quer que pudesse interrompê-los e se agarrava ao outro como se seus braços, mãos ou sua presença pudessem tornar aquele momento ainda mais duradouro.

Os momentos de enlace entre os capitães não passou despercebido por suas tripulações.

Os piratas do coração, quando viram fotos de Trafalgar deitado sobre Luffy com uma face serena, não acreditaram. Aquilo, segundo eles, era montagem, uma brincadeira de mau gosto. Entretanto, tamanha foi a surpresa quando, em uma das diversas vezes em que as duas equipes se encontraram, Law deu as instruções a seus companheiros e foi ao encontro de Luffy, recebendo um abraço apertado e respondendo isso com um barulho que eles nunca tinham ouvido antes.

Aquilo tinha sido um ronronar?

Se tivessem perguntado ao Chapéu de palha, saberiam que sim e teriam consciência de ainda mais coisas: Law fazia um som diferente para cada toque que Luffy lhe dava. Um cafuné levava a gemidos baixinhos de satisfação, passear os dedos pelas tatuagens trazia gemidos manhosos, acariciar as bochechas e maxilar o faziam suspirar indefinidamente.

Tais expressões de contentamento eram do conhecimento da tripulação do garoto de borracha. De acordo com a maioria, isso era uma infelicidade. Ninguém gostaria de acordar ouvindo gemidos — por mais baixos que fossem — que, assustadoramente, tinham sido provocados por seu capitão em um cara alheio a qualquer forma de contato muito próximo. Tampouco alguém seria louco de gostar de cozinhar tendo como paisagem dois homens enrolados um no outro. Ademais, a pescaria não ajudava a relaxar quando a cada poucos minutos eram ouvidos barulhos de beijos estalados.

Exatamente isso. Beijos.

Trafalgar Law, o cirurgião da morte, ex-shichibukai, pirata com uma recompensa enorme e extremamente sombrio se tornava um bichano lerdo nos braços de Luffy. Toda a aura maligna que acompanhava o tatuado contrastava de uma forma bastante peculiar com os raios de felicidade e compaixão que o Chapéu de Palha emitia. Tudo ficava ainda mais esquisito quando eles estavam juntos, deitados sob o céu azul, trocando carícias involuntárias — aqueles gestos de afeto que casais adquirem depois de um longo tempo juntos.

Luffy pouco se importava em demonstrar sua predileção e carinho na frente dos outros; se ele fazia isso quando estava sozinho com Torao, por que teria que se abster desses toques quando tinha mais alguém? Se ele queria, ele faria.

No início, Law não permitia. Fugia.

Aos poucos, suas fortificações contra o garoto de borracha foram ruindo — se é que um dia realmente existiram. E chegou ao ponto de ele mesmo ir em busca do toque do outro, puxando-o para si e, na maioria das vezes, utilizando-o como um travesseiro.

A agitação de Luffy era suprimida pela vontade de deixar o Torao confortável. Ter o homem tão tranquilo e manhoso sob seu domínio e por causa dele, era uma sensação que ele não queria que acabasse. E era exatamente por isso que se tornava tão protetor desses momentos.

Os suspiros foram os primeiros, logo os gemidos e arrepios foram notados, as risadinhas eram periódicas e, por último, os selinhos se mostraram os donos da situação. Law podia não dizer nada, mas sentir os lábios de Luffy passearem por seu maxilar era algo que melhorava substancialmente o seu dia; ter seu pescoço sob a mercê dos beijinhos suaves do garoto poderia ser comparado à sensação de estar no paraíso e era impossível não soltar alguns indícios de deleite. Entretanto, apesar de boas, nenhuma dessas situações se comparava àquela em que, após dormir, a primeira coisa com a qual ele se deparava era o rosto sereno de Luffy sobre seu peito. Isso, para Law, era o suprassumo da perfeição, do prazer, da felicidade... Seu coração se enchia de calor e ele pensava que poderia morrer só de ver a expressão do garoto quando este lhe direcionava as íris cor de chocolate, os olhos ainda nublados pelo cochilo, a bochecha ainda babada.

Ninguém questionava, ninguém nem se aproximava.

Esses momentos bastante corriqueiros no cotidiano da tripulação do chapéu de palha traziam uma calma não somente aos capitães envolvidos, mas também a quem quer que os observasse. Obviamente, os ruídos que pudessem provocar irritavam alguns, a melosidade não notada pelos dois enjoava outros, mas a paz em seus rostos era o suficiente para que ninguém ousasse impedir a ocorrência dessas situações.

Entre as tripulações havia uma piada interna da qual somente Luffy tinha consciência. Não era exatamente a noção de que aquilo era motivo de risos entre seus companheiros, mas a percepção de que Law realmente parecia um gatinho: normalmente era arredio, não queria que o tocassem, dormia em qualquer lugar, insubordinação poderia ser seu segundo nome; o outro lado disso era que derretia sob o mínimo toque que Luffy lhe destinava, ronronava satisfeito quando recebia sue cafuné pré-sono... Um bichano por completo!

O que os piratas não sabiam era que Law conhecia essa sua denominação vexatória, porém de outra forma, uma inimaginável para eles.

— Mugiwara-ya...

— Hmm? Meu gatinho manhoso tá precisando de alguma coisa?

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