Isso não é adorável, Chu Wanning?

Capítulo Único

Notas da Autora:
Contém spoilers fortes do terceiro livro, se você não terminou ele, não leia.

A melodia da melancolia era o único som ouvido dentro daquele extenso pavilhão. Sobre os soluços de uma alma em pedaços, Chu Wanning lamentava aquele destino que se transfigurou em uma rosa despedaçada. Em poucos anos, o seu murmúrio se tornou a devota mais tola que o acompanhava.

Portando diversos cosméticos, em cima de, uma fisionomia enfraquecida, o mesmo se viu quando era Yuheng do Céu Noturno nos seus dias comuns. Aquela pessoa não existia mais, não sobrou nada daquele cultivador forte e respeitado por todos. Porque ele morreu, quando lutou contra o seu discípulo e o homem que mais amou nessa vida. Na face debilitada, a aljôfar gotejava como a garoa gélida de inverno. Chu Wanning trajava vestes escuras da melhor qualidade, mantos com camadas grossas e costuradas à mão. A roupagem ocultava a própria vergonha manchada, mas não escondia um ser em estilhaços.  

Ruínas que ousavam na procura de memórias felizes. Noites em que sonhava com um passado perdido nas lacunas do tempo, onde se podia sorrir sem temer nada. As suas mãos pálidas e trêmulas secaram as lágrimas, elas jamais poderiam aparecer na presença de terceiros. Mesmo que fosse uma casca vazia, Chu Wanning tinha que mostrar que algo nele ainda vivia. Uma noite fria, para um coração em lascas. Uma grande quantidade de joias com pedras preciosas, estavam à sua disposição. Taxian-Jun gostava de enfeitar Chu Wanning, exibir que a sua concubina poderia ter tudo o que quisesse, mesmo que fosse em uma forma de humilhação para o mestre. Os cabelos longos, onde se assemelhava com uma tinta sendo usada em um papel, estavam presos com dezenas de grampos e a coroa que mostrava o seu status na corte. 

Quem poderia imaginar que seu destino terminaria assim? Chu Wanning acreditava que morreria em batalha, e não como uma concubina nos braços frios do ressentimento. Deu uns passos para trás, ouvindo o som das joias que prendiam as mechas escuras. Inalando o ar da solidão do próprio pavilhão, ele abriu as portas do cômodo; sendo recebido por várias servas ajoelhadas. Escondendo as mãos trêmulas dentro das próprias mangas, ele pronunciou. 

— Por que Mo Ran quer a minha presença? — perguntou com a voz fria, opaca e neutra.

— Vossa Alteza, o Imperador quer comemorar a conquista de novas terras ao seu lado. 

— Hm.

Sem dizer mais nada, Chu Wanning caminhava com passos calmos, entretanto, a cada passo que dava, as partes que estavam em cacos dentro dele, se quebravam ainda mais. Mo Ran festejava uma conquista que custou sangue de pessoas inocentes. Nenhum pranto poderia ser derramado, porém ele choraria por aquelas almas quando voltasse para o seu pavilhão. Então, colocou o véu sobre a cabeça, ocultando uma presença decadente. Chu Wanning não era mais o Ancião Yuheng, e sim a concubina Chu Fei. Sendo referenciado pelos guardas, aguardava ser anunciado.

— A Concubina Imperial, Chu Fei.

Ouvir esse nome era pior que ser picado por um espião venenoso. Tendo a permissão autorizada, o recém chegado caminhava com passos elegantes e firmes. Um sorriso jocoso se abriu nos lábios de Taxian-Jun, ignorando a presença de outras pessoas no salão. Se levantou do trono, o Imperador seria a primeira e única pessoa a receber Chu Fei. Cada vez que colocava um pé na frente do outro, Chu Wanning tinha a sensação que acabaria desmoronando na própria culpa e a incapacidade de não ter protegido os seus discípulos. Quando o véu da mentira foi jogado sobre a sua cabeça, escondendo as próprias desconfianças, e não ver Mo Ran mudar. Mas ele tinha que resistir, Xue MengMeng ainda estava vivo, enquanto o discípulo vivesse bem, aguentaria esse fardo. 

Não somente por ele, mas pelo doce Mo Ran que se sacrificou em seu lugar. Para suavizar os próprios pecados, as vidas de muitas pessoas que se perderam a vida pelas mãos do imperador e, ainda se encontravam com dor no submundo. A própria dor e o sacrifício de um jovem rapaz apaixonado, Chu Wanning teria que ficar ao lado de Taxian-Jun pelo resto da eternidade. Carregando uma cruz pesada que não era dele, todavia tomou como sua, compartilharia com Taxian-Jun os pecados dessa vida e o resto da eternidade.