Durante muito tempo, Ochako, a atual heroína número 4, sonhou com sua alma gêmea e com o dia em que daria os primeiros passos na vida a dois. Quando pequena, via um príncipe encantado que daria flores e chocolates sempre que fossem a encontros noturnos pela cidade; aos quinze se viu ao lado de alguém que escreveria cartas e a levaria para caminhar nos mais belos parques do Japão. Aos vinte, tudo havia mudado, desde o início da carreira até os círculos de amizade e, com isso, seus sonhos não foram mais os mesmos que os da garotinha romântica que um dia jurou ser. Quando a mais famosa turma da UA se formou há cinco anos, muitas escolhas foram feitas, e a maioria de seus colegas haviam seguido caminhos tão diferentes que a saudade às vezes a deixava com um desejo de voltar e fazer tudo novamente só para tê-los ao seu lado, mesmo se fosse por meros instantes.
Seu sentimentalismo era conhecido, a compaixão que tinha com todos ao seu redor sempre era comentada pela mídia, e de vez em quando sofria com suas consequências. Muito entregue às emoções, confiou seu coração ao jovem explosivo de olhos escarlates numa noite de inverno quando teve que ficar no dormitório durante o recesso de natal. — Ah, sim, foram bons tempos — Lembrar de Katsuki a deixava calma e tranquila de um jeito muito estranho e talvez esquisito. O loiro havia se tornado sua alma gêmea antes de Ochako perceber o que estava acontecendo, foi falha sua não ter notado mais cedo. Nunca soubera se o pensamento era recíproco de verdade, mesmo juntos há quase seis anos, não podiam dizer que pertenciam um ao outro. Complicado demais? Talvez, mas Katsuki era confuso, e Ochako clara demais quando apaixonada.
Sem palavras sinceras, sem declarações fortes o bastante para os dar certeza de um futuro que poderia ser real. O casal "Bakuraka", como o público adorava chamá-los, era conhecido em todo o mundo, diversas foram as vezes em que atuaram juntos como equipe contra vilões e no fundo sabiam que era uma dupla perfeita na luta. E no amor? Esta, quem sabe, fosse a incógnita que mais rondava a cabeça da morena. Ochako estava no terraço de sua agência, aberta junto com Momo há não muito tempo, enquanto observava o movimento da rua abaixo segurando a garrafa de vinho que achou na copa onde a pequena reunião de amigos acontecia.
Era um evento certo todos os anos, os solteiros se reuniam na agência de alguém do grupo e fingiam que o feriado comemorativo não era apenas para os casais. Céus, Ochako detestava o dia dos namorados por não poder chamar seu amor de namorado. Por que Katsuki nunca havia feito o pedido? Acabou bufando antes de tomar mais um gole do líquido suave demais para o seu gosto quando ouviu o som metálico das engrenagens do elevador.— Já disse que não vou cobrir sua escala no fim de semana, Mina. — Ochako já reclamou enquanto se virava esperando ver a rosada.
— Pessoa errada. — Kirishima riu se aproximando, pegando algo do bolso. A heroína ficou em silêncio o vendo se apoiar na parede do parapeito no tempo que levava um cigarro aos lábios — Por que está aqui sozinha?
— Pensei que ia parar com essa merda de cigarros. Mina sabe que ainda os compra?
A troca de assunto fora sim evidente e proposital, a última vez que viu Kirishima foi cinco meses atrás, dias antes de Bakugou sair do país em missão para o governo. Lembrar daquela noite, dos porta-retratos quebrados, dos gritos e das palavras ditas sem pensar pesava no coração da garota. Não fora sua culpa, tão pouco fora de Katsuki também; sabia que não eram muito de conversar e, quem sabe, esse tenha sido o momento de muitos dos diversos motivos que os levava a discutir. Só que dessa vez tinha sido diferente.
Nas anteriores, Katsuki não estava prestes a deixar o país, seus amigos nunca haviam presenciado esses momentos e Ochako, até aquele dia, nunca se sentiu tão frustrada com o relacionamento. Ter o Ground Zero em sua vida foi fácil no começo, parecia certo e tudo se encaixava como se fossem feitos para conhecer um ao outro; mas a maturidade chega para todos e vem sem preparo algum, sem avisar, pegando-os de surpresa para ver se conseguiriam seguir em frente.
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Boyfriend?
Fanfiction| Katsuki a fazia se sentir casa, era seu abrigo e onde estivesse, Ochako estaria bem. Infelizmente, nem tudo era um mar de rosas. Lembrar daquela noite, dos porta-retratos quebrados, dos gritos e das palavras ditas sem pensar pesavam no coração...