Sei lá

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Naruto Uzumaki

Droga. Droga. Droga. Mil vezes droga!

Já não bastava eu estar exatamente atrasado para o trabalho pois, pela graça divina, eu joguei meu celular no chão enquanto dormia e por isso, meu despertador não tocou. Óbvio, né? Se o celular quebrar, então é lógico que o despertador não vai tocar. Agora, como eu consegui fazer a proeza de tacar meu aparelho no chão é incrível, principalmente por ser a terceira vez que isso acontece.

— Respira, Naruto, respira — digo a mim mesmo como uma forma de me manter no controle e não surtar às oito da manhã.

Agora eu tenho que levar meu celular para o concerto e depois ir para o trabalho, seria fácil fazer isso. Olho para o aparelho com a tela negra e toda espatifada em mãos, deve ter, no mínimo, umas vinte ligações do meu chefe e ele já deve ter cavado minha cova. É melhor eu parar de divagar no meio da minha sala e correr, pois ainda tenho que passar no Zabuza, estou rezando para que ele esteja com a loja aberta.

Enfiei o celular no bolso da minha calça, peguei minha pasta, a máscara e as chaves do aperto, dessa vez me certifiquei de trancá-lo muito bem quando sai. Enquanto descia as escadas aproveitei para colocar a máscara e enfiar minha blusa por dentro do cós da calça, o que eu não precisava era encontrar meu chefe com a aparência toda desarrumada.

Passei pelo porteiro e desejei-o bom dia, assim que botei os pés na calçada me senti naqueles filmes de faroeste, não tinha uma alma viva na rua. Se eu esperasse mais uns segundos tenho certeza que eu conseguiria ver uma bola de feno rolando pela rua deserta. Nunca imaginei ver algo assim nas ruas de São Paulo e isso é muito assustador, pois sinto que estou no meio de um tiroteio entre dois cangaceiros, onde os caras se preparam para sacarem as pistolas e o primeiro que aperta o gatilho ganha. Isso é influência do filme que eu assisti ontem antes de dormir, "O Auto da Compadecida" é um dos meus filmes preferidos e já perdi a conta de quantas vezes eu revi ele. O som de uma buzina me despertou do cenário do pequeno vilarejo no sertão da Paraíba, aliás, eu nunca fui à Paraíba, como deve ser?

Anotei mentalmente essa provável futura viagem para quando a pandemia acabasse, mas primeiro eu tinha outras preocupações e a que ocupava o topo da lista era levar o meu celular para o concerto. A minha sorte é que a loja de eletrônicos de Zabuza fica no caminho para o meu trabalho, então eu não precisaria ir muito logo. Apressei o passo e logo eu já estava correndo pelas ruas vazias, afinal, eu estava extremamente atrasado.

Quando finalmente parei em frente a loja azul com sombras pretas senti minhas bochechas doerem com o sorriso que abriu em meu rosto, a loja estava aberta, meio aberta mas o importante é que estava atendendo.

— Zabuza?! — andei até o balcão e chamei por ele que imediatamente se virou e veio me atender.

— Naruto, quanto tempo — o moreno me estendeu o punho e eu bati o meu no dele, nossa nova forma de comprimento — Celular de novo? — nem precisei responder, só peguei o aparelho do meu bolso e botei em cima do balcão, Zabuza me olhou desconfiado — O que você arrumou dessa vez? Você tacou ele no chão quando dormia?

— Se você sabe a resposta, por que pergunta?

— Vai que a resposta é diferente? — o Momochi deu de ombros e pegou meu celular levando-o para o fundo da loja — Quer ele para quando?

— Hoje — os olhos castanhos se viraram para mim com surpresa e sua sobrancelha foi arqueada, lá vinha coisa.

— Você acha que eu sou algum Deus para fazer milagres? — o sarcasmo era destilado na voz dele e eu tive que revirar os olhos.

— Eu sei que você consegue! — foi o que eu respondi e, o mais estranho foi que quando eu fui notificado sobre a mudança no projeto da Telegram e fui até meu chefe buscar alguma explicação mais plausível, tivemos esse mesmo diálogo. Só que eu era a pessoa que fazia a pergunta e ele respondia — Eu preciso deste celular vivo para ontem, minha vida depende desse negócio — disse cada palavra com desespero, ultimamente eu estou vivendo por um fio. Zabuza olhou para sua mesa cheia de serviço, acompanhei sua visão até o relógio de parede e depois voltou seu olhar para mim.

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