— Sabia que a gente costuma bater na porta antes de sair entrando assim? — falei quando Finn se jogou na minha cama.— Dá pra chegar um pouco pra lá. O que tá lendo?
— Romeu e Julieta.
— De novo?
— Sim.
Ele se ajeitou na cama, bem ao meu lado. Se encostando no meu ombro.
— Qual a graça de ler a mesma coisa várias e várias vezes? Você já não sabe o que vai acontecer no final? — meu amigo indagou.
— Sei que você só vem na minha casa pra me encher o saco e mesmo assim continuo deixando. — falei segurando o riso e ele me deu um empurrãozinho com a cabeça. — Você sabe que é verdade, não sabe?
— Que seja. — ele pegou o livro da minha mão e o deixou na mesa de cabeceira do seu lado da cama. — Chega disso. Estou entediado, Sadie.
— E o que eu tenho a ver com isso?
— Você é minha melhor amiga. Logo, tem a obrigação de me divirtir. — Finn brincava com a manga comprida da minha blusa.
— Tenho, é?
— Claro que tem.
Olhei para Finn por alguns instantes e vi como seu cabelo havia crescido desde o começo do verão, como ele mesmo sentado era quase maior do que eu. Pensei na forma que o tempo estava passando de forma veloz bem diante dos nossos olhos. Não sei o motivo, mas eu sempre tinha essa sensação; aquela de nunca ter aproveitado direito as férias ou qualquer outra coisa que seja. E agora que estávamos no último ano esse sentimento triplicou de intensidade.
Só de pensar que em alguns meses nós deixaríamos de ser os estúpidos estudantes da Brighton School para nos tornamos calouros em alguma universidade bem longe daqui me deixava aflita. Mudanças nunca foram coisas com as quais eu soubesse lidar.
— O verão tá acabando. — murmurei olhando para seus dedos magros traçando desenhos invisíveis na palma da minha mão.
— É...
— Em menos de seis meses nós já vamos pra faculdade. — engoli em seco, sentindo um gosto amargo na boca só em dizer "faculdade".
— Por que tá falando assim?
— Assim como?
— Como se a faculdade fosse um bicho de sete cabeças prestes a te devorar.
— E ela não é?
— Não...?
— O que ela é então?
— Bem — Finn sentou-se da maneira correta ao meu lado da cama, balançando seus pés, que às vezes encostavam nos meus. — Eu acho que a faculdade é uma boa oportunidade pra nós crescermos sabe? Tipo, nós vamos sair da nossa zona de conforto, vamos conhecer gente nova, ir às festas mais descoladas do campus e essas coisas. Eu tô animado. — eu ri baixinho com sua fala. — O que foi?
— Você disse tudo menos o real intuito da faculdade. — ele ergueu uma das sobrancelhas e me encarou com um rosto confuso. — Estudar, Finn, estudar. Nós vamos pra lá pra estudar.
— É, isso também. Já sabe para onde vai?
— Não faço a menor ideia. Minha mãe quer algo difícil.
— O quão difícil?
— Cambridge. — suspirei.
— Mas Cambridge não fica no Reino Unido?— maneei que sim com a cabeça. — Calma, você não tá pensando em se mudar não, né?
— Eu não. Já a minha mãe...
Finn suspirou alto. Me assustei um pouco quando ele deitou sua cabeça de maneira torta no meu colo. Não resisti e emaranhei meus dedos em seu cabelo bagunçado.
— Não quero que vá.
Eu abri e fechei a boca várias e várias vezes tentando dizer algo mas eu sabia que caso alguma palavra saísse dela, sairia gaguejada. Agradeci por Finn não conseguir ver meu rosto vermelho.