Para Os Raros Diamantes Que Achei

Teimosia é meu nome

O céu está caindo e junto com ele estou. 

Quebrado em incontáveis cacos,me acho no chão. 

Ondas de dores de mim se propagam.

Ardo,queimo,sufoco-me.

Não aguento!

Não suporto!

Quero sumir!

Porém, tenho que aqui ficar,no solo hostil e crestado.

Sangrando. 

Gritando. 

Implorando.

Com esforço hercúleo, olho timidamente para o alto e vejo uma fresta de luz. 

Por meros segundos, penso que nem tudo está perdido,mereço um pouco de sol.

Então...

Uma leva de demônios encobrem minhas vistas.

 Todos riem de mim.

Cospem em meu estilhaçado ser.

Chutam-me como cão sarnento. 

Maliciosos e impiedosos, cravam-me um afiado punhal. 

"Farsante",diz um.

"Indigente",diz o segundo. 

"É um crime sua existência ",diz o terceiro. 

E escarnecem de minha angústia. 

Não luto contra.

Acredito neles.

Que me devorem . 

Abro os braços em total entrega, esperando meu fim decadente. 

E me consomem lentamente .

Ah,como dói!

Dói tanto que fervo em raiva.

Por que não  se apressam?

Querem olhar minha agonia mais dorida. 

Nem o golpe de misericórdia sou digno?

O que me resta então?

"PAREM!"

Uma ordem se faz ouvir, afastando meus devoradores. 

Aproxima-se em uma nuvem branca,uma deusa de olhos verdes.

"Levante-se!",dirige -se a mim suavemente. 

"Não consigo",digo derrotado. 

"Consegue, eu sou a sua ESPERANÇA ",fala confiante. 

E de tal forma, acredito nisso e tento reunir meus cacos.

"Você é um fraco, vai cair ",diz um demônio. 

"E eu vou levanta-lo todas as vezes que cair ",rebate a ESPERANÇA. 

A bela não olha os monstros, só enxerga a mim.

Enfim, em pé, miro à frente. Tudo desconhecido, futuro incerto, receio do que virá. 

"Covarde ",ressoa um maldito. 

A deusa desce da gorda nuvem,toca-me a alma calorosamente como um bálsamo. 

"Em frente ",diz serenamente. 

Ou será que ela disse ENFRENTE?

"E se eu perder o caminho?",murmuro com certo medo.

"Eu ilumino o caminho ",sorri segura.

"Recomeçar é tão difícil ".

"Todos os dias reinicio dentro de você ".

"O que faço com essa dor?",questiono deprimido.

"Eu cuido disso",uma nova voz se faz ouvir.

Surge um homem de cabelos brancos , com olhos de menino. 

Exala sabedoria e respeito. 

"Sou o TEMPO,curo ou amenizo todas as feridas até que sejam lembranças "

"Eu feri. Terei perdão?",culpa me corrói com esse pensamento.

"O perdão tem que vir de você para você, primeiro. O resto é consequência.",escuto uma terceira voz.

Vindo do invisível , um menino de olhos serenos e acolhedores. Sinto-me abraçado com sua presença. 

"Eu sou o AMOR. Sou vital a todos.,sou inesgotável. Estou em você, sempre estive. O perdão é meu filho"

"Tenho vergonha de minhas falhas ",estremeço cabisbaixo. 

"Pois não tenha,não paga a pena. ",oiço uma quarta voz , melodiosa. 

Achega-se uma moça, quase translúcida. Olhos claros como água e um sorriso com uma sinfonia inteira de luz.

"Eu sou a VIDA,sempre colocarei duas opções de escolha para você. Jamais darei tudo de uma vez.. Tanto acertará ou errará. Vou ensina-lo com suas quedas,e,terá experiências. Somente assim, entregarei sabedoria."

Voltei os olhos para o caminho diante de mim.

É assustador . 

Como tudo que desconheço. 

Escuto os demônios rirem,a podridão move-os.

Cansado e dilacerado ,suspiro em meu íntimo. 

Recomeçar é uma árdua batalha. 

Contudo,sou teimoso. 

Encaro a ESPERANÇA, o TEMPO, o AMOR e a VIDA. 

Confiam em mim.

Com coragem renovada, aceito o que sou e como sou.

Nada será como antes. 

Espero que o vento leve,tudo que está encalhado. 

Cores e estrelas fazem meu fatigado coração bater.

Sonho com uma vida melhor, mas tenho que ser forte.

Então, espero. 

Passa o outono e as outras estações .

Faço confissões em minhas orações. 

Não posso contar as horas.

Só quero menos frio lá fora. 

Com passos trôpegos,sou como um barco em frente ao mar.

Então, remo.

Remo. 

Remo. 

Cansado...

ESPERANÇA rema comigo. 

Exausto...

TEMPO rema comigo. 

Exaurido...

AMOR rema comigo. 

Acuado...

VIDA rema comigo. 

Miro meu horizonte, está bem longe. 

Só não é mais longe que meu querer. 

E sigo remando. 

Teimosia é meu nome. 

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Para você,Leonardo. 

Palavras de uma madrugada. 

Uma vez dei a você, o diamante negro. Tomo-lhe e dou-lhe o diamante vermelho.