"Um dançarino morre duas vezes — a primeira quando ele para de dançar, e essa primeira morte é a mais dolorosa." - Martha Graham
16 de Maio, 2017. Primavera.
Seul, Coreia do Sul.
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Pessoas passavam apressadas, sem sequer notar o garoto que dançava entre a multidão. A sua devoção era evidente, qualquer um que se permitisse observá-lo, notaria que o jovem se entregou por inteiro, e alguns, com olhares mais aguçados, saberiam quem o guiava. Outros até descreveriam a cena como indecente, não por achar seus movimentos sensuais, mas sim pelo prazer que ele esboçava, um prazer tão genuíno que atinge a alma.
Ele dançava como se estivesse sozinho, inabalável. Seus pés deslizavam pelo chão, tão suaves que poderia flutuar, sua roupa acompanhava o vento e suas mãos exploravam o ambiente ao redor. Seria impossível narrar algo que carregasse tantos sentimentos quanto os que ele tinha, pois era assim que o jovem estava naquele momento, carregado. Carregado de sentimentos bons, ruins e os que nem sabia da existência.
Por um momento, o de dor o possuiu e as lembranças invadiram a sua mente, tornando aquela cena dolorosa.
Foi a primeira vez que abriu os olhos desde que começou a dançar, para encarar um banco próximo a si com muita melancolia, desejando que Ele estivesse ali, desejando que aquela tragédia fosse um pesadelo ou tivesse um final feliz. Estava ali porque decidiu que não podia mais se afogar em memórias, existindo para imaginar possibilidades, "E se Ele....". Possibilidades que nunca aconteceriam, nem mesmo em outras realidades. Não por falta de interesse de ambos, mas porque o Universo quis assim, tornou algo impossível. O garoto acreditava que voltar a viver também era e que aquela dor jamais deixaria seu coração.
A música acabou, ele fitou o céu e lágrimas escorreram ao pensar que Ele estaria o observando. Voltou a realidade quando escutou aplausos, uma mulher parou para assistir.
— Você dança muito bem. Falta um pouco de técnica, mas creio que isso não seja um desafio para você — a desconhecida disse enquanto se aproximava.
— Obrigado... eu voltei a dançar recentemente — respondeu constrangido.
— Desculpe-me pela falta de educação — estendeu a mão para cumprimentá-lo. — Sou Kim Hyuna, dona da Hy.K, adoraria tê-lo em nossa academia de dança.
Jeong Yunho estava certo, aquela dor nunca o deixará, mas com o tempo aprenderá a viver com ela.
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01 de setembro, 2024. Verão.
Seul, Coreia do Sul.
🩰
Falta pouco mais de uma semana para o início da Temporada de Competições e eu estou aqui, indo assistir a apresentação do famoso Diabo Mascarado, que quis marcar a sua chegada na cidade com um espetáculo.
O teatro está entupido de gente, o que não me surpreende, já que a fama dele atinge o país inteiro, todos os cidadãos o conhecem, ou ouviram falar dele nem que tenha sido uma única vez. Sentei-me em uma cadeira bem localizada, na distância perfeita entre mim e o palco, as luzes foram apagadas e recebemos um aviso de que o espetáculo já vai começar. O murmúrio das pessoas animadas cessou quando as cortinas abriram e as luzes foram apagadas.
Tem pessoas preenchendo as duas extremidades do palco, todas agachadas, deixando um espaço livre para que apenas uma pessoa ocupe o centro, em pé.
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The Devil's Masks (YUNHWA)
RomanceDizem que é impossível ressuscitar alguém, mas Jeong Yunho discorda. Depois de passar anos morto, a dança o trouxe de volta à vida. Buscando ser o melhor dançarino da Coreia do Sul, Yunho se prepara para enfrentar o atual dono do título, o Diabo Ma...