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O coração dele batia em um ritmo descompassado com as imagens atingindo-lhe como cometas em sua mente, sentia sua pele queimar pela garota que rodeava todos os malditos sonhos desde que fizera os seus 16 anos há algumas semanas atrás. Cenas vividas o assombravam segundo após segundo, sua morena sempre o surpreendendo de tantas formas que era quase impossível não acordar frustrado por tudo passar de um fruto malicioso de sua mente juvenil. No entanto, por que sentia como se a conhecesse desde o princípio?

Como todos os dias, Katsuki adormecia e em minutos seu inconsciente entrava na conhecida casa das cerejeiras. A pequena vila que habitava nos sonhos ficava perto das montanhas e em campos ondulares, pacíficos onde o povoamento foi mais fácil algumas eras atrás. Pelo menos neste aspecto da vida ele tinha paz, tudo ali parecia tão calmo e sereno que às vezes se perdia nas horas e mal recordava-se que a qualquer momento aquilo não passaria de uma lembrança. No meio de tantas maravilhas, a única tormenta possível no paraíso pessoal do loiro era ela, a filha do general. Uraraka Ochako.

Katsuki sabia que a mente humana era incapaz de criar rostos, mas se perguntava como sabia de todos os mínimos detalhes do rosto da morena, seria apenas uma coincidência?

Claro que não.

O destino nunca seria gentil o bastante para que algo fosse por acaso, no fundo tudo o que acontecia era dotado de um propósito. Custava aceitar que alguma vez já a tivesse visto, em alguma viagem ou coisa do tipo, mas o que restava ao loiro a não ser acatar a ideia de que só a teria nos sonhos? Naquela noite, como sempre, ele se viu na frente do portal do templo perto do centro cívico. Ela estava perto, iria vê-la novamente.

O ar gélido cortava a pele pálida daquele que era encarado como um estrangeiro pelas madeixas diferentes dos tons predominantemente escuros do reino japonês. Bakugou passou as ruas silenciosas olhando de relance para algumas casas e, pela primeira vez, jurou ter visto a cabeleira ruiva do melhor amigo. Oh, não, isso seria coincidência demais — ele pensou fazendo o máximo para afastar o pensamento de sua mente. Apenas uma única coisa importava agora e qualquer distração não era bem-vinda.

De longe, o casarão tradicional parecia vazio, se não fosse pelos avisos que sua amada havia lhe dado em outros momentos, Katsuki possivelmente continuaria a acreditar. Rodeou alguns arbustos perto do muro recém construído saindo da visão dos aspirantes a samurai que dormiam no turno da noite e, enfim, chegou a ala íntima da herdeira. Como já era esperado, a porta entreaberta fez o loiro sorrir maliciosamente quando em passos firmes caminhou pelo corredor. Contra a madeira recém polida do chão, seus pés descalços percorriam o caminho conhecido, traçado a cada noite mais rápido.

Parar de frente a porta do quarto principal e lutar para não entrar de longe sempre foi sua maior preocupação durante boa parte dos meses que se seguiram até então; no entanto, era impossível ir contra o destino inevitável. Bakugou via sua mão tomar a madeira fina nos dedos e antes de deslizar a porta, respirou fundo numa tentativa falha de acalmar o coração acelerado. Toda noite parecia como a primeira vez, chegava a esquecer-se que ainda era jovem o bastante para o coração trair a mente mais rápido do que ele pudesse perceber. Deslizando a pequena passagem ornada com flores pelo tatame esbranquiçado, ergueu o rosto sentindo a íris escarlate dilatar diante a visão esplêndida de sua morena entre lenços das mais variadas tonalidades de seda vermelha. Nua como viera ao mundo, a pele pálida destacava os seios fartos quase escondidos pelas mãos pequenas como as de uma bela boneca de pano.

Sua bonequinha. Apenas sua.

O oxigênio parecia rarefeito quando finalmente seus olhos se encontraram. Vermelho no castanho, a luxúria explodindo no olhar do jovem casal proibido, um amor tão sincero que Bakugou parabenizou a própria mente por criar algo estranho vindo dele.

Chamas GêmeasOnde histórias criam vida. Descubra agora