Capítulo 1

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Era o dia. Ele estava tão nervoso, mas pensava que tudo iria ter um fim que valesse a pena. Teria sim um motivo para ele sair daquela cama na calma manhã ensolarada de 6 de janeiro de 1995 : Ele iria conhecer um importante político que prometia abalar as estruturas nacionais.
Vestiu seu terno mais bonito e se preparou. Entrou no grande elevador do prédio e apertou o botão do 1º andar. O cubículo metálico tocava uma música de Madonna, Like a Prayer. Ele se pegou dançando e cantando o refrão, uma vez que estava sozinho no ambiente, enquanto admirava sua imagem nos espelhos que preenchiam todo o espaço.
Sem dúvida, era algo futurista. Quando ele menos espera a porta abre, bem quando ele estava cantando a ponte contagiante da música. "Just like a muse to me / You are a mystery / Just like a dream".  Entretanto, não deu de cara somente com o salão, mas também com ele, o famoso político, parado lá, com a cara confusa após assistir um suposto Lip Sync.
Ciro na hora começou a gaguejar. Ele não acreditava que tinha sido pego cantando e dançando Madonna bem na frente do magnata político. Mesmo assim, fingiu aturar bem a situação.
- Oi, companheiro.
- Olá .... - Disse Ciro.
Na hora, Ciro não tinha ideia do que aquilo iria gerar. Ele não sabia que bem diante de seus olhos estava o homem que seria sua musa, seu mistério, seu sonho. O homem que o faria sentir como em uma oração.

2009, Brasília

Ciro andava calmamente pela rua com sua maleta. Estava cansado na hora, o sol era cruel com sua semi careca. Ele observava os grandes prédios governamentais que começamos a se mostrar em seu campo de visão. Realmente, era uma visão linda ! Havia um feio sem camisa , mas aquela selva de pedra era tão linda que conseguiu fazer tudo parecer perfeito. Porém, mesmo com essa linda experiência ocular, ele não conseguia ficar feliz. Ciro iria mais uma vez falar com ele. Estava cansado de uma relação vai e vem, de um caso que tomou proporções mortais, um amor platônico dentro de um cenário catastrófico.
Finalmente chegou no Palácio da Alvorada. Apertou o dedo sobre o interfone e esperou por alguém atender e logo o reconhecer somente pelo sobrenome. As vezes sentia saudades do anonimato, mas ser reconhecido realmente era muito bom .
- Alô ? - falou a voz atrás do dispositivo tecnólogo
- Sou eu. Gomez
A voz logo atingiu um volume que mostrava animação.
- Selena Gomes ?!?!?
Ciro ajeitou a postura e respondeu.
- Errr... não. Ciro Gomez.
A mesma animação de antes acabou dando lugar para som de  um cansaço e decepção atrás do interfone.
- Ah ... sim. Já abri.
Ele entrou, não deixando aquele pequeno acontecimento abalar seu dia. Andou entre os corredores até chegar ao local. Tremia de frio, raiva, rancor, mas também - e principalmente- de amor. Amor e ódio andavam juntos no coração de Ciro Gomez. Ele bateu na grande porta de madeira e esperou Lula abrir.
Os dois se encararam por alguns segundos. Ambos sabiam que havia um clima de tensão ali. Lula nunca retribuiu os sentimentos que Ciro já deixara claro diversas vezes. Talvez ele não tenha deixado tão claro. Talvez toda sua vida estava dependendo de um buraco sem fundo.

- Senta ai. - Disse o presidente.
Ciro obedeceu, mas tentando mostrar que estava fazendo aquilo por pura e espontânea vontade e não só porque sua paixão havia mandado.Óbvio que essa afirmação era mentira. A dependência que do deputado sentia do presidente era algo doente e que gerava confusões mentais. Ciro não fazia terapia ( não ainda ).
- Acho que precisamos conversar. - Disse Ciro.
Lula olhou seriamente para ele. Estava tentando manter aquilo sobre controle, com calma.
- Algum problema ?
- Não finja que não há algum. Por favor. - Era isso que Ciro queria falar. Colocar os pontos finais ali naquela confusão, mas não queria perder o pouco que já tinha, então ele deu outra resposta.
- O problema ? Eu ... Eu .... Eu estou preocupado com o Bolsonaro virar presidente.
Ambos riram. Era uma piada interna entre eles. Lula logo voltou a mexer no computador e Ciro se sentiu totalmente ignorado. Ficou olhando para o chão e parecia que Lula realmente o ignorava. Nada era surpresa mais ali naquela relação, mas ainda o machucava.
- Somos amigos, certo Lula ?
- Sim ! Claro ! Passamos por tantas coisas juntos ...
- Por que você me ignora as vezes ?
- Como assim ?
Ciro estava se preparando para falar o discurso que estava repetindo para si mesmo durante uma semana.
- Soube que você fez certas decisões sem pedir minha ajuda. Leis e tals. Achei que tivéssemos algo especial.
- Ah, é política. Não me entenda a mal.
- Depois de tantos anos acho que éramos cúmplices em diversos assuntos.
- Eu entendo que esteja chateado.
Estava claro que Lula estava dando liberdade para o fim daquela amizade ( que era algo maior na mente de Ciro), porém o deputado não estava pronto. Não conseguia entender direito suas emoções e desejos. Ele simplismente inventou uma desculpa e foi embora, de enchendo de esperanças, expectativas. Será que algum dia tanta luta valerá a pena ?

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⏰ Última atualização: Jun 30, 2021 ⏰

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