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O reflexo no teto branco da ondulação da água era hipnotizante.

A luz clara do dia deixava o líquido ainda mais verde, e as paredes de azulejo de cor perolada ajudavam a refletir a luminescência.

Thamas já não sabia há quanto tempo estava ali, boiando na água, fitando aqueles desenhos luminosos se remexendo, como se suas córneas estivessem defeituosas e não conseguissem deixar que nada ficasse estático. Mas eram bonitos. Os reflexos. Linhas tortuosas de luz, a tradução da água no concreto.

O silêncio também era bom. Suas orelhas estavam cobertas pela água esverdeada, captando nada além da quietude.

Talvez pela primeira vez depois de muitas horas, Thamas ergueu a cabeça para olhar ao redor, a água escorrendo por sua nuca.

Não havia ninguém por perto.

Olhou em todas as direções, mas... Tudo o que viu foram as paredes cobertas por azulejos. E água. Cobrindo todo o chão. Apenas água e nada mais.

— Oi? — perguntou ao vazio, e o som de sua voz reverberou pelo ambiente, morrendo sabe-se lá onde. Sentiu o peito se agitar, inquieto. — Oi?

E outra vez, não houve nenhuma resposta.

Thamas se colocou de pé, a água batendo quase no joelho, e os reflexos tortuosos da luz sob a água riscaram sua pele negra. O rapaz vestia apenas um shorts amarelo de banho. Girou nos calcanhares, procurando por alguém, mas a solidão já o abraçava apertado.

Haviam duas janelas há alguns metros, com vidro esfumaçado branco, de onde vinha a luz, que parecia ser natural. Caminhou em direção à elas, ondulando a água sob seus pés.

Quando se aproximou dos grandes quadrados de vidros cravados na parede, notou o caminho que se seguia dali, à esquerda, que não tinha reparado de onde estava inicialmente. Seguiu por ele, ainda sem ver ninguém. Apenas água, azulejos, e vidros esfumados luminosos. Sentia-se dentro de uma casa que fora invadida pela água da enchente. Mas naquele caso, a água era limpa e translúcida.

Tentou se concentrar em quem estava procurando, mas ele não sabia. Muito menos onde estava. Que lugar estranho, se deu conta.

Quanto mais caminhava, mais caminhos apareciam, como se estivesse em um labirinto. A respiração apertou e a ansiedade começou a bater na porta.

Para onde deveria ir?

— Olá?

Thamas não sabia por quem chamar. Na verdade, agora que começara a analisar toda a situação, não tinha mais nem certeza de quem ele era de verdade. Seu nome era a única coisa que o identificava para si mesmo, mas... Faltava algo. Ele não compreendia o que. Não tinha ideia de que outras formas alguém pode ser identificado, mas ele sentia que não estava em sua completude.

Seus olhos escuros encheram-se de água.

— Olá? — chamou outra vez, com a voz chorosa.

Então ele ouviu algo. Um tinir, como o de um sino pequeno, agudo e distante, que ressoou por um tempo e morreu.

— Oi? — bradou, virando-se instantaneamente na direção do som.

Apressado, jogando água para os lados, procurou identificar a origem do barulho, e serpenteou pelos corredores de água, com os músculos tensos e a barriga revirando.

Então encontrou. Não a origem do som, mas uma passagem que gradualmente era devorada por escuridão. Não havia luz do outro lado e Thamas não fazia ideia do que poderia encontrar se seguisse por aquele caminho. Mas havia algo de sedutor em observar aquilo. Thamas olhou para trás por um instante, como que para se certificar de que não havia ninguém ali. Observou a água translúcida e esverdeada ondular-se ao seu redor, e então ficar mais escura conforme se estendia em direção à escuridão, cinzenta, e então nada além do breu. O mesmo acontecia com os azulejos.

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