Capítulo 4

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Eu ainda estava sujo pelo sangue das quatro pessoas que matei, meu pai, minha mãe, meu irmão e agora uma criança desconhecida. O homem segurava em meu ombro, me levantando e me guiando até sua tenda me despindo e trocando as minhas roupas para não causar problemas caso alguém me visse assim. Me olhei no espelho e não consegui reconhecer a figura que estava em minha frente, meus cabelos antes castanhos e meus olhos antes azuis não era mais eu, aquele corpo não era mais o meu.

Fiquei preso em meus pensamentos, como se tudo fosse um pesadelo e tudo parecia aliviar. O circo então foi desmontado e partimos dentro de um trem que partia para a próxima cidade.

No nova cidade o circo foi montado. Desci junto com os outros. O mágico falava conosco todo animado — Quero ter um bom banquete hoje, e acho que vocês também querem — Nesse momento algo ficou claro para mim, algo que não aconteceu desde que eu pisei naquele circo. Ele é o único culpado! Ele que sequestrou meu irmão, quem me deu a faca e quem me fez matar todas essas pessoas desde o inicio. Não era culpa minha!

Rastejei-me lentamente para perto do homem com lágrimas escorrendo pelo rosto e movimentos limitados, com dificuldades, falei que o mataria, a raiva consumia minhas palavras, minhas ações  — tentei atacá-lo, mas ele me parou com seus outros fantoches. Curvando minha cabeça para baixo — Você é estranho, não consigo te controlar por inteiro — O homem coçava sua nuca inacreditado.

Eu... Eu não tenho mais nada! Nem esse corpo é mais meu, esse não sou eu! Levantei a cabeça e meus olhos cruxificavam o homem, eles estavam negros com a pupila ainda vermelha, um verdadeiro monstro. Eu agora estava mais preso do que nunca, me agarrando no pequeno pedaço de vingança que acalmava tudo o que doia dentro de mim e que eu não conseguiria me libertar nunca de todo esse sofrimento se não o matasse para me vingar das vidas que me fez tirar!

Ele aproximou sua mão e fez um símbolo em meu ombro com uma espécie de tinta preta, já que ele estava descoberto pela nova roupa — Se você continuar a se descontrolar assim. Você será servido na mesa como um grande banquete — Disse ele limpando seus dedos em um pano. Aquele símbolo fez minha mente esvanecer novamente. Já não era mais eu de novo. 

Eu segui todos até dentro da tenda preta já montada novamente e não consegui mais tomar o controle daquele corpo durante uma semana passando de cidade em cidade, preso enquanto todos apresentavam, banqueteávamos e tudo se repetia no dia seguinte.

A esposa do apresentador ficava comigo, fazendo mais e mais enfeites em meus braços, enquanto as vezes a coisa dentro de mim ganhava cada vez mais vida e sorria ao brincar com alguns aparelhos do circo, principalmente com três bolinhas coloridas fazendo malabarismo.

Naquela mesma noite eu estava cansado, não conseguia dormir, pequenos flashes vinham a mente. Senti meus dedos responderem a uma tentativa de mexe-los voluntariamente, eu consegui... não... aquela coisa deixou, mas a alegria falsa consumiu tudo em mim para finalmente me vingar. 

Fui até a tenda do casal com uma faca que peguei sobre a tenda de refeições. Meus passos estavam pesados, cambaleados, o que fez o mágico acordar e se deparar comigo em seu quarto de noite. Meus olhos só mostravam o ódio que eu sentia por aquela pessoa e ele sabia o que eu iria fazer.

Tentei matá-lo pela segunda vez, mas apenas consegui feri-lo. A mulher levantou e tentou me atacar com um bastão de madeira que tinha ao lado de sua cama, me derrubando no chão por machucar minha perna. Eu aproveitei aquele momento, cortei as duas panturrilhas dela em um só golpe a derrubando, faca apropriada para destilar a carne humana. Subi em cima dela e a matei com a faca perfurando seu olho direito três vezes enquanto seu esposo tentava me tirar de cima dela.

Ele conseguiu tomar a faca de minhas mãos e me dopar com o que provavelmente dopava as crianças e me levar para uma pequena jaula onde as colocava antes de banquetear — Depois eu vejo o que fazer com você, não morra até lá, carne fresca é melhor. — Ele sabia que eu nada faria por ter consumido aquelas substancias, eu estava detido e não era mais uma ameaça para ele. Ele limpou o corpo de sua esposa e voltou a dormir, como se nada tivesse acontecido, pude ver ele carregando ela para fora e a jogando junto com o resto dos lixos comuns e apagando sua lamparina. 

Mirin - A última apresentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora