Por Trás das Telas

Prólogo

O frio congelante que inundava as ruas do Rio de Janeiro fez Diogo amaldiçoar a si mesmo por ter saído tão cedo de casa, mas essa era a vida, nada se resumia a fazer vídeos para a internet, ele tinha que comprar seu café preto na Starbucks que felizmente se residia perto de seu apartamento, sem sua boa dose diária de energia e um pão quente, seu dia não começava de jeito nenhum.

Se encolheu com mais rigor em sua jaqueta de couro preta, e delicadamente retirou um fio de seus belos e ondulados cabelos castanhos da frente de seus olhos esverdeados, entrando apressado para a cafeteria, agradecendo aos céus ao ver que haviam poucos clientes e assim não precisaria enfrentar uma grande fila.

Como fazia todos os dias, sorriu institivamente para a atendente — embora a máscara atrapalhasse seu belo sorriso de ser admirado —, lhe desejando um bom dia e fazendo seu pedido.

Tudo se passava completamente normal, como todos os dias, ele iria pagar seu café da manhã e voltaria pra casa para se preparar para um longo dia de trabalho, pesquisando tendências da internet e pensando sobre seu próximo roteiro. Como dito, todo corria perfeitamente bem, exceto pelo fato de que Diogo teve uma leve sensação de desconforto que arrepiava suas espinhas, pensou ser algo de sua imaginação fértil, mas o contínuo sentimento de que alguém o observava o incomodou, então finalmente o rapaz se virou despretensiosamente para trás, olhando disfarçadamente para o ambiente, como quem não quer nada. Novamente pensou ser paranóia, visto que todos os poucos clientes estavam apenas sentados em suas cadeiras aproveitando seus cafés e mexendo nos celulares, lendo jornais ou livros, porém, ali estava uma figura desconhecida o encarando em um canto solitário de toda a Starbucks, seu semblante era assustador, pensou Diogo, franzindo a sobrancelhas e saindo de seu torpor quando a atendente lhe chamou para entregar seu pedido.

Abriu a carteira com uma pressa que até o próprio estranhou, pagou seu café e segurou com alívio a sacola morna com seu sanduíche, novamente sorrindo e educadamente se retirando do estabelecimento. Mas antes de definitivamente ir embora, olhou novamente para a moça que minutos atrás o fitava com tanta intensidade, era muito atraente, reparou. Dessa vez, a garota de olhar intimidante não parecia notar sua existência, estava perdida em seu laptop, digitando rapidamente algo, Diogo sorriu irônico, lembrando de uma cena de um dos filmes clichês que assistia a fim de procurar inspiração em seu trabalho.

E de repente, teve uma ideia nem tão brilhante assim.

Caminhou confiante em direção à mulher que estava com as pernas cruzadas e os ombros relaxados, sem tirar em momento algum os olhos de sua tela, o fazendo apenas quando notou o homem que se pousou ao seu lado.

A garota misteriosa lentamente levantou a cabeça, o contemplando com um olhar de superioridade e até mesmo desprezo, o que foi curioso para Diogo. Ele sabia que era um homem atraente, os vários comentários de mulheres apaixonadas em suas páginas das redes sociais não negavam isso, sabia que quase toda mulher o desejaria, mas aparentemente aquela moça que nem mesmo o conhecia, era a exceção à regra.

— Posso te ajudar com alguma coisa? — A jovem cortou o silêncio, lhe lançando um típico olhar de "fala logo ou vaza".

— Me desculpe te atrapalhar, moça, mas nos conhecemos? — Respondeu de forma descontraída, levantando uma de suas sobrancelhas para aparentar sua confusão.

A moça lhe deu um sorriso debochado, com seu olhar envenenado o olhando da cabeça aos pés, jogando o corpo na cadeira de forma despojada e suspirando.

— Desculpa, acho que não. — Seu tom de voz áspero e cortante indicaram para Diogo que ela não estava afim de conversa, então mesmo desconfiado e com dúvidas na cabeça, resolveu interromper o pequeno diálogo.