Por Trás das Telas

Capítulo 1

Olhou novamente para o relógio, estava atrasada. Diogo bufou, era típico de gente como ela achar que a vida dela era tão importante a ponto de deixar alguém esperando. Assoprou seu café a fim de amenizar a temperatura extremamente alta, deu um gole generoso e gemeu de prazer pelo perfume e sabor que tanto gostava, quando a mulher chegou e interrompeu seu momento de paz. Diogo a encarou no fundo dos olhos com um sorriso de canto.

— Sabia que é falta de educação você marcar um encontro com alguém e se atrasar? Faz meia hora que estou plantado aqui, quase me fundi com a cadeira. — Provocou e sorriu ao ver a garota revirar os olhos e jogar desajeitadamente sua bolsa em um canto, se sentando reta e mantendo o rosto sério.

— Primeiro, isso não é um encontro, trate como uma reunião de negócios. Segundo: meu ônibus atrasou, não é culpa minha, agora me erra. — Refutou seus argumentos de forma rápida e seca, sem se intimidar com os belos olhos verdes que a engoliam.

— Tudo bem, querida. Então, me diz, está querendo levar a sério essa disputa? Porque se eu fosse você, não mexeria comigo, sou bem compe...

— Competitivo? — Riu em escárnio. — Eu sei disso, mas acredite, você não me conhece e não sabe da missa a metade, você pode ser bem competitivo, mas eu sou extremamente obstinada. — Seus olhos o encaravam com confiança, ele abriu um largo sorriso, desejando calar aquela boca atrevida com os próprios lábios. Era uma moça atraente, e sua maneira de agir e falar, o deixavam encantado.

ꟷ Eu acho que você está exagerando e é muito narcisista, mas até gosto dessas suas garras, dona onça. ꟷ Piscou o olho e sorriu de forma descarada quando notou S/N enrubescer.

Dessa vez ela o olhou de outra forma, não como o homem irritante que passava vergonha na internet, mas como um cara simpático, dono de um sorriso lindo que a fazia questionar suas morais e despi-lo com os olhos. Tentando livrar esses pensamentos impuros, desviou o olhar e bufou, retomando à palavra e indo direto ao ponto.

ꟷ É o seguinte, vamos fazer uma aposta simples. Iremos escolher um tema romântico, eu escreverei um livro curto desse tema, com dez capítulos e você faz esses seus... vídeozinhos. ꟷ Deu ênfase em seu deboche e continuou seu propósito. ꟷ Vamos publicando no Grupo Wattpad Memes, assim vamos comparando o alcance de cada um e você queima a sua língua por ter me chamado de incompetente. ꟷ Pousou os braços sobre a mesa e sorriu cinicamente, sem mostrar os dentes.

ꟷ Tenho uma ideia melhor... ꟷ Imitou o gesto da moça, deixando seu rosto perigosamente próximo ao dela, que imediatamente se endireitou na cadeira, nervosa.

ꟷ Não estou aberta à discussões. ꟷ Cruzou os braços e respondeu, ríspida.

ꟷ Eita corte rápido, tá trabalhando na Tramontina? Me escuta primeiro, garota. ꟷ Se irritou com o olhar sarcástico lhe fitando. – Como obviamente eu vou ter mais chances, já que sou popular, porque não trabalhar juntos?

ꟷ Eu acho que você está exagerando e é muito narcisista. ꟷ Imitou sua frase de minutos atrás, com a voz estridente. Sorriu pelo revirar de olhos de Diogo. ꟷ E como assim "trabalhar juntos"? ꟷ Elaborou aspas com as mãos e finalmente lhe deu ouvidos.

ꟷ Você cria esse livro e nós dois divulgamos ele com meus vídeos, atuando juntos algumas cenas, fácil, não? ꟷ Se jogou de maneira despojada na cadeira, sorrindo calmo.

ꟷ Você só pode estar louco se acha que eu vou fazer essa coisa de boomer, não sou cringe. ꟷ Rebateu com olhar de desprezo.

ꟷ Fala português, alienígena filha da puta. ꟷ Refutou, sem a mínima paciência para suas gírias jovens. ꟷ Você que sabe, mas até a mais orgulhosa das pessoas entenderia que estou certo.

S/N refletiu, ele tinha razão, doía admitir isso, mas Diogo era realmente muito mais popular que ela e isso poderia alcançar o que ela sempre desejou: reconhecimento. Então, a contragosto, lhe respondeu, se arrependendo logo após o sorriso de satisfação que o belo homem lhe deu.

ꟷ Ok, eu acho que você tem razão, quando poderemos fazer isso?

ꟷ Que tal amanhã, duas horas, no meu apartamento? ꟷ Combinou, se sentindo estranho pela sensação de ansiedade dominando seu peito, se sentia um adolescente de novo, inquieto.

ꟷ Pode ser, você me envia seu endereço e te encontro. ꟷ Foi direta, se levantando e puxando sua bolsa, virou as costas e partiu sem se despedir.

ꟷ Não vai nem dar um beijinho de despedida, Tramontina? ꟷ Tomou o último gole de seu café, a acompanhando com o olhar divertido.

S/N não se virou, apenas lhe deu o dedo do meio e continuou sua caminhada, mas sorrindo singelamente pela piada, seu estômago flutuava junto às borboletas, talvez não fosse tão ruim assim cultivar uma amizade com Diogo.