New Directions

1 0 0
                                    

             Quase não pude acreditar que finalmente estaria começando minha vida adulta longe de casa. Amo meus pais, mas viver sua própria vida em outro lugar com todos os riscos a sua volta é... Surreal. Vancouver está localizada no Canadá, o país da liberdade. Claro, Vancouver não tem meus amigos na população, mas os desafios até compensam. 
             Aliás, existe apenas uma coisa que eu odeio profundamente em qualquer lugar do mundo: Dia dos Namorados. É só mais um feriado cheio de mentirinhas, ilusões, expectativas e casais que provavelmente não durariam tanto. Não é que eu seja ranzinza, estar apaixonado é incrível. Acontece que a realidade é sempre dura. Poucas são as chances de você realmente manter algo com alguém ser ser traído, desiludido ou coisas piores.

            Era só mais uma tarde e eu estava no melhor e mais relaxante lugar — Além de livre de casais — da cidade: O Petit von Ché. Uma cafeteria simples e moderna, onde o vento bate levemente e o cheiro de plantas é nítido. Posso parecer uma jovem pessimista e solitária, talvez amargurada, mas é esta época maldita que me cansa. Seria mais tolerável aguentar com alguém, mas minha querida companheira de casa, Alya, era compromissada. Frustrante, mas espero que ela esteja desfrutando daquilo. Chega. Já era minha quarta xícara daquele chá maravilhoso, era a hora de sair e andar por alguns minutos até retornar... Foi o que eu fiz, até uma minhoca cruzar o meu caminho.

  — Sem noção do caralho. Não sabe usar os olhos que tem. — Soltei visivelmente descontente com aquele esbarrão onde nem mesmo um pedido de desculpas pude ouvir.
— Pelo visto não sou o único a não usar os olhos que tenho, maluca. E ainda não se desculpa! — A minhoca com quem eu falava devolvia meu semblante de fúria e indignação. Quer dizer, ele estava errado e queria inverter a culpa? Não aqui. 
— Você esbarrou em mim, sua minhoca! Seus olhos são de enfeite? Sorte a sua eu estar de bom hu- 
— Bom o quê? Humor? Há! Você fugiu de algum manicômio ou coisa assim?... Bem, até que está arrumadinha para uma fugitiva.

           O maldito além de me interromper, tentou me cantar. Minha paciência não estava das melhores, então eu claramente quis cortar aquilo antes que se tornasse um diálogo, ou que ao invés de presa, eu fosse deportada por agressão e talvez um assassinato.

Argh. Isso só pode ser uma mula —  Disse, já desistindo do meu passeio e indo para casa. Sequer quis ouvir se aquele animal havia me retrucado. 

            No trem, segui pensando sobre meu descontentamento com relacionamentos duradouros. Tudo aconteceu depois de Luna, uma ex-namorada minha que simplesmente cansou de mim após três meses. É, ela apenas se cansou. Exatamente como eu me cansei de ouvir You Belong With Me da Taylor Swift. Eu não desacreditei do amor, apenas fiquei mais cética, ou mais realista, sobre. Estar apaixonado é ótimo, é incrível. Acontece que isso só se passa uma única vez na vida. Não é uma porcaria? Creio que é a pauta principal que Alanis Morissette quis abordar em Ironic. Não. Não estou errada. 
            Observei todos os presentes naquele vagão. As duas crianças que me lembravam um filme de terror com gêmeas que pareciam mais o Humpty Dumpty de vestido e peruca loira; O idoso que aparentava ter tido um dia prazeroso, e o rapaz de meia idade que parecia ter tido um dia estressante. Que sorte a minha. 
           Chegando em casa, liguei para meus pais, tomei um banho, comi uma fruta e passei o resto da tarde fazendo parte do sofá da sala. Série, jogos, série, jogos, água, comida. Repeti isso por umas cinco vezes até pegar no sono. Era impossível não ver algo fora da Netflix. Até mesmo lá estava cheio de anúncios amorosos. Pegar o celular e ver como Luna tocava a vida como se nunca tivéssemos existido é intrigante. Será que só eu me apaixonei? Maldita, vai saber como é doloroso no dia que se apaixonar por alguém. 

          Já eram umas 6:36 PM e eu me encontrava de pijamas, comendo um delicioso macarrão com queijo enquanto assistia The Big Bang Theory, pela nonagésima vez em vida, e terceira naquele mês. Tudo parecia estar monótono e tranquilo até Alya me ligar cobrando minha presença na festinha que ela e o namorado resolveram bolar. Parecia inofensiva, então me vesti e dei as caras por lá.
          É claro que me conhecendo bem, Alya não ia me contar que era uma comemoração ao dia dos namorados. Ela achava que eu deveria me envolver de verdade com alguém e por isso passou as últimas duas semanas me falando sobre o amigo de Kade, namorado dela e também meu amigo. Geralmente eu sou animada o suficiente para fazer amizades e subir bêbada na mesa, mas novamente falando, eu odeio essa época.

— Eve! —  Bradou Alya ao me ver, obviamente me abraçando. —  Que alegria te ter aqui! Como se não nos víssemos todos os dias, haha!
— Não vamos falar sobre ter ocultado a razão dessa festa, né? Sabe que eu estou cansada de- 
— Ai, Eve, sermões só em casa! — A desgraçada me interrompeu. — Vem, tem pouca gente e sua bebida preferida se encontra beeem geladinha! Ah, me lembre de apresentar você ao Brynn.
— Não me inventa mais essa, Alya. 
— Relaxa! Sem compromisso algum! Só... Conversem!

        

Misery LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora