A verdade jamais dita

Capítulo Único

E lá está você.

Lindo em um terno branco feito sob medida, emanando uma aura tão incrível e poderosa que se alguém falasse que você é um tipo de deus imortal, ninguém duvidaria.

Mas desconfortável por ter que tentar ser sociável e simpático com pessoas que você não tem o mínimo de apreço, talvez apenas uma leve consideração. Você sempre foi péssimo com essas conveniências sociais.

Eu percebo o exato momento em que você deixa escapar uma leve careta de desconforto com a conversa. É muito sutil, como todas as suas expressões. Talvez eu percebi por te conhecer melhor do que a mim mesmo, ou por não conseguir desviar os meus olhos de você desde que chegou.

Por favor, não me julgue, mas é inevitável eu não olhar para você, parece que meus olhos tem uma espécie de comando que faz eles se voltarem imediatamente para a sua figura quando entra em um lugar, por mais que eu sempre tentei evitar isso a minha vida inteira, mas me provei um verdadeiro fracasso nessa tarefa. Pelo menos, não sou o único. O peso do seu olhar em mim me prova isso.

Eu percebo que nem todas as doses de bebida que eu tomar vai me fazer ficar menos tenso quando vejo você deixar as outras pessoas para trás e começar a caminhar na minha direção. Porque você faz isso? Me faço a mesma pergunta quando deixo o drinque (já vazio porque eu nunca te enfrentaria nessa situação totalmente sóbrio) na mesa, enquanto me levanto da minha cadeira e começo a caminhar na sua direção também.

É incrível como quanto mais tentamos nos afastar de uma pessoa, mais ela aparece na nossa vida. Mas eu deveria estar acostumado com isso. Sempre foi assim entre nós, não é mesmo?

Nós sempre tentamos nos afastar um do outro, mas é como se nossas almas estivessem conectadas. Talvez aquela lenda do fio vermelho seja mesmo verdade, mas é realmente triste pensar em como nós decidimos tentar ignorar isso. Os nossos verdadeiros sentimentos, eu digo.

Nós sempre soubemos os segredos um do outro, não importa o quanto tentamos durante toda a nossa vida esconder a verdade. E ela dói. Talvez não tanto quanto o seu olhar agora, e definitivamente não tanto quanto o meu coração quando que te vi subindo naquele maldito altar.

Ás vezes, eu só queria voltar alguns bons anos no passado, quando éramos crianças ingênuas e despreocupadas com o nosso futuro, preferindo passar os dias brincando, estudando (uma obrigação que você, mesmo tão pequeno, me fez cumprir) e correndo do seu tio para o nosso lugar especial, aquela maldita árvore em que fomos o primeiro beijo um do outro quando ficamos adolescentes e já começamos a perceber que aquele sentimento que aquecia o nosso coração não era só amizade.

Mas então veio a sua primeira briga com o seu tio.

As primeiras palavras de ódio, desgosto, nojo.

Palavras que doeram mais do que qualquer tapa que você levou aquele dia.

E então começou.

A nossa mentira.

A nossa dor.

E as nossas falhas tentativas de esconder o que é óbvio.

E definitivamente fica mais óbvio ainda com o meu coração denunciando a nossa mentira para todos a cada passo que você dá na minha direção, me olhando como se eu fosse a única pessoa que importasse para você. Como eu queria que fosse assim. Quando paramos um na frente do outro sem desviar os nossos olhares, sinto como se só existisse nós dois no mundo e tudo o que eu quero é me jogar nos seus braços. Mas esse sentimento dura apenas um momento, só até os meus olhos se desviarem para a sua mão segurando o champanhe provavelmente sem álcool e perceberem a aliança de ouro reluzindo no seu dedo anelar. A dor que me atinge me deixa sem fôlego e a vontade de chorar até eu parar de te amar é esmagadora, mas eu nunca estragaria o seu dia dessa forma. 

- Wei Ying. - Escuto você dizer com sua voz grave e firme, como uma pedra de gelo inquebrável.

- Lan Zhan. - Falo em um sussurro fraco, talvez tudo o que minha voz consiga agora sem eu quebrar na sua frente.

- Está gostando da festa? - Você pergunta, mas eu vejo nos seus olhos todas as perguntas que você jamais poderá fazer para mim, e o mais importante, vejo a mesma dor que estou sentindo espelhada nos seus olhos. Tudo o que eu quero é te abraçar e te levar para longe daqui, com você seguro nos meus braços da mesma forma que eu estaria nos seus. Mas eu sempre fui covarde demais para isso. Em vez disso, eu respondo:

- Está ótima, a sua esposa sabe como dar uma festa de casamento haha! - Falo com uma falsa animação na voz, que nós dois percebemos mas como sempre, somos muito covardes para fazer algo quanto a isso.

Não sei quanto tempo ficamos olhando um para o outro, mas quando te chamam para cortar o bolo e você se vira para ir, eu escuto a sua voz baixa e quebradiça, falhando em esconder tudo o que eu sei que você está sentindo.

- Desculpa, Wei Ying. - Desculpa por nunca ter ido contra a minha família, desculpa por ser covarde, desculpa por ter me afastado de você, desculpa por não lutar pelo nosso amor, desculpa por não ter coragem suficiente para ser feliz com você.

- Está tudo bem, Lan Zhan. - Está tudo bem, porque eu também fui covarde, eu também não lutei por nós e me calei quando deveria ter gritado para todos que amava você, eu também não tive coragem o suficiente para ser feliz com você.

E enquanto eu te observo se afastar, eu rio sem vontade com o quanto nós somos patéticos.

Eu te amo, e você sabe.

Você me ama, e eu sei.

Mas nós nunca admitiremos a verdade.

Mas está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem eu continuo repetindo isso na minha mente enquanto te sigo para me juntar aos outros convidados.

E quando nossos olhares se cruzam mais uma vez, e eu abro um sorriso brilhante para você e observo você dar um discreto sorriso de canto, eu sei que tudo vai ficar bem. Tudo vai ficar bem...

Eu sinto minhas lágrimas molhando o meu rosto e meu sorriso vacilando, mas está tudo bem, é só eu dizer que são de felicidade igual você está fazendo agora, quando sua esposa te pergunta porque você está chorando.

Afinal, é só mais uma mentira na nossa infinita conta.

Talvez em outra vida, Lan Zhan, nós possamos ser felizes juntos, mas infelizmente não é nessa, penso enquanto bato palmas com os outros convidados quando você e sua esposa se beijam. Talvez em outra vida...