Outro show chegava ao fim e eu já estava agoniado. Fui o primeiro a sair do palco e logo usei a desculpa de que estava apertado para ir ao banheiro, mesmo sabendo que não colava mais. Chegando ao famigerado banheiro, tomei dois comprimidos do ansiolítico no qual havia me viciado. E depois dos 10 minutos que ele levava para atingir a corrente sanguínea, eu me senti no céu, como um viciado em heroína depois de injetá- la no seu braço, minha droga era diferente mas o efeito que me causava, eu julgava ser igual. Sai do banheiro com uma cara melhor e meus irmãos estavam na porta, eu acho que a desculpa da bexiga solta não funcionava mais.
— Ótimo show, galera! — Falei tocando seus ombros ao passar pelo espaço entre os dois, que insistiam em me olhar feio. Os olhos verdes de Joe sugavam até a alma. E o maxilar travado de Kevin me assustava de certa forma. Ainda mais sabendo que ele é o irmão mais velho e, consequentemente, aquele que sempre dá sermões sem pedirmos.
— Nick já chega disso, não acha? Me dê os remédios! — Pediu Joe,bloqueando meu caminho com a mão.
— Que remédio? — Perguntei me fazendo de desentendido. Meu erro sempre foi achar que meus irmãos são idiotas, o que claramente tirava o Kevin do sério, a ponto de fazê- lo partir para cima de mim, me empurrando contra a parede e segurando a minha jaqueta, que era parte do figurino usado no show.
— Você quer se matar, Nicholas? Vai fazer essa porra sozinho então! Cadê a merda do remédio? Eu não vou assistir você se matar! — Kevin estava tão perto de mim que eu pude sentir sua respiração rápida, típica de quem estava puto da vida. Minha respiração também estava rápida, mas no meu caso, era um misto de medo e espanto. Ao olhar para o meu irmão, percebi que seu maxilar estava rígido. Suas mãos agarravam firmemente a minha jaqueta e eu continuei em silêncio, até que Joe interviu afastando— o de mim.
— Chega disso, cara... Venha! — A mão de Joe no ombro do Kevin deu- lhe segurança para me soltar, no fundo eles sabiam que essa era a melhor opção. Kevin tirou suas mãos da minha jaqueta mas empurrou meu ombro antes de se afastar.
— Seu idiota! — Kevin disse junto com um empurrão, antes de, finalmente, sair escoltado por Joe, o que parecia ser a única garantia de que ele não daria meia volta pra me socar.
Alguns integrantes do backstage saíram com eles
e eu voltei a ficar sozinho no pequeno corredor atrás do palco. Passei no meu camarim e joguei minhas coisas lá... Eu não sei bem como estava me sentindo, mas estava agindo como um derrotado. E por mais que eu repetisse mentalmente que não me importava com isso e que os dois poderiam se foder, no que dependesse de mim, parece que ainda havia uma parte dentro de mim que pensava o contrário, que sabe que venho sendo o pior filho da puta de todos e que estou perdendo as duas únicas pessoas que ainda me amam e só querem me ajudar. Mas, infelizmente, a outra parte fala mais alto.
Joguei a jaqueta e o potinho com comprimidos sobre a poltrona e peguei meu maço de cigarro. Com o isqueiro sempre no bolso, cruzei todo o corredor do backstage e abri a porta vermelha contra incêndio, podendo finalmente respirar o ar puro, talvez não tão puro assim, de Nova York. Me sentei na beirada de tijolinho qualquer e acendi meu cigarro, tendo finalmente alguns minutos de paz, ouvindo apenas os sons da cidade ao fundo, que para um garoto de cidade pequena, eram como música para os ouvidos. O vento gelado batia contra meu rosto como uma relva agradável e senti que podia ficar aqui pelo resto da minha vida. Por uns segundos, eu me convenci de que não precisava de Kevin e Joe me julgando, com suas vidas perfeitas, eu tinha tudo o que precisava bem aqui: uma mureta pra sentar, um cigarro pra fumar, vento gelado no rosto e os sons de buzinas de carro, motor e pessoas falando. Mas durou pouco. Não demorou muito até alguém abrir a porta por onde eu havia entrado momentos antes. E como um reflexo, me virei para ver quem era.
