PRÓLOGO

9.3K 620 27
                                    

INFORMAÇÕES PELO INSTAGRAM: danielacarolina.autora 


ANDREZA

Agredir alguém custou mais do que previ. Mamãe havia chegado de seu emprego como auxiliar de limpeza e não se importou com a consequência do que Ênio, seu namorado, iria me submeter por dinheiro. Eu estava com medo, não queria demonstrar, mas estava.

Areta nunca foi um exemplo materno a ser seguido. Seu ofício era desempenhado à base de muita agressão e alguns gritos que só pioravam ao se meter em relacionamentos abusivos. O cara da vez era um gigolô, eu tinha treze anos e não guardei o que pensava... Ela arremessou o espelho do banheiro contra mim e isso me rendeu alguns cortes. Mal tínhamos arroz ou água potável dentro da casa de chão sujo e teto com goteiras, mas tinha verba para sustentar as apostas que seu namorado fazia em lutas clandestinas.

Eu varria o local cheio de homens para ganhar uns trocados, as vezes ensaiava uns golpes que observava de longe e, em uma tarde qualquer, um apostador bêbado encrencou comigo. Ênio esfregou a barba com as unhas grandes e assistiu de longe eu acertar o homem, e foi nesse momento que propôs à minha mãe um negócio lucrativo... A lembrança da primeira luta era nítida como se fosse ontem. Estava nervosa, vi alguns garotos se agredirem antes, eles ambicionavam pelo prêmio e entendia a necessidade por trás disso. Minha adversária era um pouco maior que eu, porém menos ágil. Fiquei estática quando escutei que havia ganho, sangrava pelo nariz, me sentindo culpada por ter derrotado alguém que só queria o dinheiro por necessitar. Em contrapartida, Ênio cantava vantagem para minha mãe que estava deslumbrada em receber o valor. Vi minha recompensa diluída em pizza e cerveja barata enquanto jogavam baralho, sentia uma dor abdominal forte e fui me deitar mais cedo em meio as lágrimas.


Nas lutas seguintes, refleti se iria permanecer naquilo, na escola sentia mais vontade de dormir do que estudar e isso não era notado

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Nas lutas seguintes, refleti se iria permanecer naquilo, na escola sentia mais vontade de dormir do que estudar e isso não era notado. Todos ali tinham suas penitências pessoais para poder se dar ao luxo de olhar ao redor, e eu nutria um receio velado. Temia que o namorado da mamãe me visse de outra forma, que olhasse para o meu corpo se desenvolvendo e eu sabia que ela não faria nada. Pior do que lutar seria caso fosse alvo de sua cobiça, então escolhi de forma silenciosa a hipótese menos pior e me conformei com isso. Nos ringues podia adotar um aspecto mais masculinizado, usava faixas nos seios e distanciei minha imagem de uma garota comum até esquecer de quem fui.

— Ah, merda! Isso dói! — Praguejo quando a enfermeira limpa meus ferimentos num tom de reprovação, aquilo não era uma novidade para ela, não que tivesse se acostumado.

Almerinda era uma funcionária antiga do posto de saúde e, mesmo não aprovando meu estilo de vida, fazia seu trabalho de primeiros socorros sem sermões verbalizados. Muitos em Mateiros me conheciam por competir com garotos nos ringues ilegais e pelas enrascadas que minha mãe se metia por influência do meu padrasto.

BELO MONSTRO | Romance Adulto • DISPONÍVEL COMPLETO NA AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora