Único

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Notas iniciais:

Essa fanfic irá abordar temas sensíveis como luto, tentativa de suicídio, transtornos psicológicos e morte. Não leia se isso fará você se sentir mal.

Do contrário, boa leitura!

...

"Nessas promessas quebradas, lá no fundo, cada palavra se perde no eco. Então uma última mentira eu consigo ver: dessa vez eu finalmente te deixei ir" – Lost in the echo, Linkin Park

— Shisui? — Ouviu a própria voz chamar uma vez e depois outra e outra, até que o som se perdesse. Não enxergava nada e, por isso, levou a mão até o rosto para conferir se os olhos estavam abertos, verificando que sim, estavam. Com o ato sentiu a face gelada e só então percebeu que todo o ambiente estava úmido, os ouvidos captavam, inclusive, o som de uma goteira ao longe.

Os pés de Itachi se moveram devagar, mantendo-se próximos ao solo para evitar tropeços. Os braços estavam esticados, procurando por algo ou alguém e pararam de se mover ao tocarem em uma superfície rochosa e gélida do lado direito. Os dedos sentiam a aspereza da parede enquanto ele se guiava através dela, os passos aceleraram conforme adquiriu mais confiança, assim como o coração, ansioso pela confusão de não saber onde estava.

O ruído aumentava a cada instante e ele pôde avistar, finalmente, um pouco de luz, a dezenas de metros à frente. Tirou a mão da rocha e correu em direção ao lugar iluminado notando, pela primeira vez, o quanto sentia o corpo sem energia, como se não comesse há horas, mas mesmo assim continuou, sentindo a respiração ofegante e o suor descer pelas têmporas.

Ouvia somente a gota pingar, dentro do mesmo intervalo de tempo, além das próprias passadas e suspiros pesados. O gosto do sangue invadiu o paladar quando as pernas fraquejaram e o corpo foi de encontro ao solo. Sentou-se no chão antes de se levantar e fitou o caminho que havia percorrido até então, arregalando os olhos, o rosto empalidecendo com o que viu.

O escuro ainda era presente, mas o breu não era tudo que os orbes viam. Itachi viu a si mesmo, caminhando lentamente, a mão direita ainda tateando a rocha e os olhos fechados. Ele usava roupas roxas, uma calça curta e uma camiseta com um detalhe na gola. Os cabelos estavam presos e desgrenhados, as vestes, amarrotadas.

Itachi se levantou rapidamente, ainda fitando o mesmo local, fechou os olhos e balançou a cabeça, certo de que lidava com uma alucinação e voltou a correr. Sentia a garganta seca, precisava de água, o que o motivou a seguir o som do líquido pingando com mais afinco, sem olhar uma segunda vez para trás.

Algum tempo havia se passado e ele fez uma pausa, as mãos foram de encontro aos joelhos enquanto ele se curvava em busca de ar. Conseguia enxergar melhor agora e notou as unhas sujas de terra, provavelmente devido à queda anterior. Um forte arrepio percorreu seu corpo quando ele ouviu um alto barulho de algo indo de encontro ao chão atrás de si. Estremeceu, tentado a não olhar e voltar a correr, mas a própria mente traiçoeira o fez olhar sobre o ombro. Sentiu a bile lhe subir a garganta ao se dar conta de que via a si mesmo no chão, após tropeçar.

Além da sua imagem, os olhos negros avistaram novamente o breu, a escuridão imensa adiante. Viu a si mesmo se virando para trás e prendeu a respiração, esperando para assistir a própria reação à visão que tivera naquele momento, se sobressaltando ao ver que, diferente do que esperava, sua imagem não se demorou em observar o que havia lá, como se nada estranho pudesse ser visto e se levantou logo em seguida, tirando o excesso de terra das mãos.

Correu. Ainda mais rápido do que antes. A claridade crescente lhe envolvia o corpo, os olhos arderam até se acostumar com a luz. Olhou em volta diminuindo a velocidade dos passos.

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