Tesouro Perdido

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O valor humano, diminuto, tão pequeno. Menor do que as mais altas estrelas, e ainda assim, tão brilhante quanto.

Olhei em minhas gavetas, procurei em todas as estantes e caixinhas. Fiz de tudo para te achar. Valor. Onde estava o meu? Tive dinheiro, e isso bastava para os de fora, mas para mim? Não via valor algum… Tive as melhores notas e trabalhos, e isso parecia bastar para meus professores, mas era tão pouco. Continuei procurando meu valor: nas ações de minhas mãos: pobreza, nas minhas palavras: um eco vazio, na minha beleza: nada digno de uma revista de moda. Tudo era semelhante ao nada. Procurei por anos...em minha mente, coração, lugares, glórias, pessoas, talentos…em tudo eu remexi e revirei, virei do avesso, e tudo o que eu obtive foi menos zero.

Não me leve a mal, eu não queria encher meu ego ou coisa do tipo, eu só estava em busca de sentido no meu ser e não ser. As formigas tinham valor no seu trabalho, os leões em sua força, os sábios em sua inteligência, os violinistas em seus dedos, o sol em sua luz, a noite em sua escuridão… mas e eu?!

Tudo desmoronou quando perdi minha visão, só vejo sombras e borrões, não vou entrar em detalhes, mas neste momento, o valor que eu tanto buscava soou como uma lenda de tesouros perdidos em uma terra muito, muito distante. Eis aqui uma coisa, perder a visão nunca é só perder a visão. É perder o amor próprio, é perder seu reflexo, é perder sua dignidade e independência, perder sua paisagem favorita, perder o rosto dos seus...perder seu horizonte, parte de seus sonhos...foi como me perder mais.

E lá estava eu. Em meu corpo e com a minha alma, mas vivendo apenas como as sombras que eu via…

Minha amiga, fiel companheira de choros e alegrias e quase irmã, não me deixou um segundo sequer. Ela me falava do amor de Deus e Salvação, mas eu jogava essas palavras como bolinhas de papel no lixo. Me contava histórias de superação de todos os tipos, as quais ignorei com prazer. Ela esperou por meses ao lado de minha cama, como quem espera o despertar de um coma, mas para mim eu estava no meu leito de morte, pronta para bater as botas, igual a Doroti.

Então, chegou meu aniversário, 23 anos e uma bagagem de ar e pedras nas costas. Ganhei chocolates em formato de coração de minha avó, um suéter que ao toque se assemelhava a lã feito pela minha bisa, um cão guia grande e peludo de meus pais, uma música feita especialmente pra mim de Thomas, meu namorado, e uma Bíblia em braile de Suzana (a fiel companheira).

 Ganhei chocolates em formato de coração de minha avó, um suéter que ao toque se assemelhava a lã feito pela minha bisa, um cão guia grande e peludo de meus pais, uma música feita especialmente pra mim de Thomas, meu namorado, e uma Bíblia em brai...

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Nunca achei que tocaria no último presente

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Nunca achei que tocaria no último presente. Minha fé se tornou nula quando deixei de enxergar, porém, em uma tarde tediosa, estiquei o braço para pegar meu livro de cabeceira (na época devia ser os contos dos irmãos Grimm), e acabei pegando a Bíblia que estava aberta ao meio. Com os dedos, li, Isaías, capítulo 53. No começo, sem dar atenção, mas ao fim, eu reli de novo, mais de uma vez, e na última rodada meu rosto estava encharcado.

Fui pega de surpresa por um soluço vindo da porta, Suzana entrou, segurou minhas mãos e disse com todo amor:
"esse é o seu valor Gabriela". Passou um tempo abraçada comigo, e virou algumas páginas, deixou a Bíblia aberta em meu colo e saiu de mansinho. Efésios 2. Mais lágrimas rolaram como um filme, e lá estava ela de volta, com muitos lencinhos. "Eu sempre tentei te mostrar teu valor Gabi...não estava nas tuas roupas ou na tua família ou no Thomas ou em mim ou em você por si só, princesa! Nós somos pequenos demais para carregarmos valor em nós mesmos…" ela respirou fundo e continuou, colocando o braço em volta dos meus ombros "teu valor está estritamente expresso no sangue de Jesus Cristo...o Filho de Deus sofrer e morrer por amor a você foi o preço pago para que Deus te recebesse como filha adotiva! O Senhor pagou tudo, e nós não temos dívida nenhuma, quando antes estávamos perdidos…"uma fungada, duas e três, "nós estávamos longe e Jesus nos trouxe perto, estávamos sem esperança e Ele se fez nossa âncora. Você é filha, Gabi… você é amada, você é amiga de Deus! Você é obra prima de Tuas mãos feita em semelhança à Ele! Nisso está teu valor Gabi… Ser feita de novo à sua imagem e semelhança não só visualmente mas agora internamente! O teu valor nunca dependeu dos teus esforços, das tuas riquezas e deste mundo, porque isso passa Gabi, mas o Senhor te deu…" eu interrompo "um valor eterno". Eu não vi, mas pude sentir Suzana sorrindo ao falar sim, e desta vez, na porta ouvi outro soluço: Thomas, mas isso é história para outro dia!

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29 de junho às 03:16 da manhã

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