A fuga

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Recruta Christian B., 17 de janeiro de 2029.

As cinzas caíam como neve naquela noite, e eu acendi um cigarro dizendo para mim mesmo que estava só me protegendo do frio. Claro, eu sempre dizia isso, "vou parar quando quiser". O fogo no latão que estava usando como lareira improvisada já começava a se extinguir, e eu estava nervoso. Minha mão tremia, eu engasguei ao puxar a fumaça e sentir o meu interior queimar. Esperava por meus companheiros que tinham ido ao campo de contenção da Skynet resgatar algum cientista maluco, ou era o que me contaram, e eu só tinha que ficar de vigia e assegurar que a rota subterrânea que usamos não fosse descoberta pelas máquinas, mas nunca ia ser fácil assim. Já tinham saído há horas e eu estava começando a perder as esperanças, mas se soubesse onde ia me meter, teria preferido se tivessem acabado mortos. Uma grande explosão carmesim ecoou no horizonte e eu caí para trás com o susto. Disparos de plasma começaram a iluminar a noite e de repente, aquele frio que eu sentia já não estava mais presente, apenas uma dura sensação de apreensão. Eles estavam chegando, e com eles vinham as máquinas. Seus passos pesados e barulhos metálicos eram inconfundíveis. Correndo até mim, vinha Mera, comandante da minha unidade. Apenas ela. A missão tinha fracassado, e com ela a humanidade estava a mais um passo de cair.
- O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AÍ PARADO, CHRIS? LEVANTA, PORRA! - Ela gritou, me tirando do meu transe. Não havia mais tempo para pensar, empunhei o meu rifle, e chutei a tampa de bueiro que estava mal encaixada no chão, essa era a nossa rota de fuga. Logo atrás dela, conseguia ver pelo menos 10 máquinas andando rápido em nossa direção. Mera pulou no buraco no chão que dava para o esgoto e logo depois, fiz o mesmo. Sem hesitação, ela apertou um botão e a entrada explodiu, se fechando para sempre.
- Mas que merda aconteceu!? - Perguntei, sem conseguir entender - Onde estão Murphy e Tina?
- Mortos. E nós vamos estar também se não dermos o fora daqui. - Ela disse, fria, e começou a caminhar. Caminhei atrás dela, não era fácil de engolir aquilo. Mortos? Algumas horas atrás todos estávamos conversando sobre o que faríamos quando derrubássemos a Skynet. Murphy queria abrir uma escola e Tina queria explorar o mundo... Ver se os outros países conseguiriam se reerguer. E agora... - Era uma armação. O cientista estava morto, eles só queriam me atrair. Eu estou marcada para extermínio. - Quebrando o silêncio, ela disse isso, conseguia sentir o peso na sua voz, que ecoava por todo o túnel.
- O que quer dizer com "marcada para extermínio"? Não estamos todos? - Claro que não seria simples assim, mas o que mais eu podia falar?
- Skynet tem uma lista de alvos prioritários. John Connor está no topo. Parece que as máquinas acham que se matarem esses alvos, a humanidade não vai mais ter chance. - Não falamos mais nada nos próximos minutos, apenas caminhamos em silêncio. Qualquer barulho era motivo para cautela, e a escuridão não ajudava. Tínhamos uma lanterna montada na ponta dos rifles de plasma, mas não iluminava tudo. De repente, um ruído nós fez parar completamente. Eu congelei, sabia o que era aquele barulho. Não era uma mera máquina, era um T-800, o chamado "exterminador". Não conseguimos saber onde estava, pois o túnel era amplo demais, foi usado no passado como esgoto e tinha várias entradas e saídas. Mera encostou nas minhas costas e preparou sua arma, fiz o mesmo. Um passo pesado após o outro, a máquina de aproximava cada vez mais. Até que percebemos uma luz púrpura iluminando todo o túnel por um momento, e então, escuridão de novo. Um grito da comandante me fez virar e ver algo que me atormentaria pelo resto de minha vida: o corpo de mera dividido em dois pelo tiro de plasma que tinha vindo do Exterminador. Eu estava acostumado a ver esqueletos e cadáveres por todo lado, pois nasci nesse mundo onde as máquinas dominavam, mas nunca tinha visto o corpo de um companheiro assim. Ela estava com os olhos abertos, os braços esticados para mim, trêmulos, como que busca por ajuda. Não conseguia falar, tentava respirar mas apenas um assovio úmido saía de sua garganta. "Corra", foi o que consegui ler de seus lábios antes que os olhos dela se revirassem. Sem pensar duas vezes, eu corri para qualquer lado. Ela que sabia o caminho de volta para a base, e ela tinha o mapa... porém eu não tinha a opção de parar, procurar, nem mesmo lamentar. Eu precisava fugir. Acendi uma bomba que estava no meu cinto e joguei para trás, na esperança de bloquear o caminho. Aquela parte do túnel começou a desabar, mas eu sabia que isso não deteria a máquina. Eu estava tentando conseguir mais areia para a minha ampulheta, mas a máquina não me cederia nenhuma. Correndo cegamente, me deparei com uma grade enorme que dava para o outro lado do túnel, porém eu não passaria pela fresta. Estava encurralado e só tinha uma forma de sair dali: voltando. Mas isso não seria uma opção. Minha lanterna se apagou, porém por sorte tinha uma única fonte de luz vinda do outro lado da grade, era a luz da manhã chegando por um grande buraco no teto, eu tinha uma chance de sair por alí, mas teria que lutar com a máquina primeiro. Preparei o meu rifle e encarei a escuridão na minha frente. Então, os pesados passos da máquina ecoaram de algum lugar. Eu estava tentando me convencer de que podia fazer isso. Não sou um homem religioso e não saberia dizer sobre anjos, mas acreditava que é o medo quem dá asas aos humanos e naquele momento, eu estava me cagando. Silêncio. Um silêncio pelo que pareceu uma eternidade, seguido de mais um som agudo de plasma, e a claridade roxa veio de trás de mim. Meu corpo de repente perdeu o equilíbrio e foi ao chão, eu não conseguia entender o que acontecia comigo, até sentir uma súbita explosão de dor na minha perna, era como se estivesse pegando fogo. Ao olhar, senti uma tontura percebendo que minha perna não estava lá. O desgraçado atirou na minha perna. Eu tremi como um louco e entrei em pânico, não sabia onde estava meu rifle. Me virei para trás e só consegui ver um par de luzes vermelhas, me encarando na escuridão. Era ele. O T-800 deu alguns passos para a frente, ficando debaixo da bendita luz do dia que me encheu de esperanças. Seu esqueleto metálico reluzia, parecia estar me encarando. Caminhou lentamente até mim, que desesperadamente, tentava me arrastar para trás, mas era inútil. Ele abriu as barras sem esforço com sua força descomunal, chegando perto e estendo sua mão esquelética até segurar meu pescoço e levantar na altura dele. Me olhava como um animal que vai abater a sua presa. Ver aquele crânio metálico de tão perto me fez sentir um medo que não senti antes. Meu pescoço doía com o aperto, eu estava me debatendo o máximo que podia, mas não ia adiantar, seria ali que minha história terminaria. Começava a perder a consciência quando vários disparos de plasma explodiram o crânio do Exterminador em pedaços, fazendo-o me soltar no chão, seu corpo pesado caindo para trás formando uma rachadura. Um homem com uniforme da resistência se aproximava de mim. A cicatriz no seu rosto não deixava dúvidas: era o próprio John Connor. Ele estendeu a mão para mim, olhou nos meus olhos e disse:
- Venha comigo se quiser viver.

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2021 ⏰

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O Exterminador do Futuro - As Crônicas da ResistênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora