As roupas na mala e a mala no carro. Estava decidida a ir embora e romper com um relacionamento já em decadência. O marido enfurecido, atacou uma garrafa de cerveja pela janela. Júlia entrou no carro, fechou a porta e foi para a casa da melhor amiga.
Paula estava ansiosa para recebe-la. Há duas semanas terminara um namoro de 5 anos com uma pessoa que sequer a havia apresentado para a família. Estavam machucadas e desapontadas com o rumo de suas vidas.
Naquela primeira noite, conversaram no sofá madrugada adentro. Adormeceram nos braços uma da outra deixando pelo chão da sala garrafas de bebidas e lenços de papel usados para enxugar suas lágrimas. Mas agora era segunda e a rotina precisava voltar ao normal. Vestiram-se e saíram para trabalhar.
O dia foi longo. As mensagens do marido de hostis passaram a românticas, mas ainda estava decidida a se manter distante e dar continuidade ao plano de se separar definitivamente.
A proximidade, a carência, a bebida, não importa o motivo que as levou ao desfecho. Na sexta-feira, quando Júlia chegou do trabalho, encontrou a amiga deitada no sofá só de camiseta e calcinha. Aquela seria uma cena completamente normal, cotidiana, corriqueira, mas de repente olhou-a com outros olhos, como era bonita!
Paula notou os olhares de Júlia e pediu que ela se sentasse ao seu lado. De mãos dadas, olharam-se nos olhos e sorriram com uma cumplicidade que só as amigas têm. Mas de repente, num movimento brusco, Paula se lançou sobre Júlia e beijou-a na boca. Olharam-se indecisas por alguns segundos e continuaram a se beijar.
Nada mais aconteceu naquele dia, nem nos outros. Pareciam constrangidas em conversar sobre o que tinham feito. As mensagens do marido eram insistentes, mas não queria responde-las.
No domingo à noite, quando ambas já haviam se recolhido em seus quartos, Júlia bateu na portada amiga e pediu para entrar. Juntas na cama, abraçaram-se em conchinha e assim ficaram por um bom tempo. Então Paula se virou e no encontro de rostos voltaram a se beijar. Dessa vez, o beijo foi mais intenso, mais urgente, um calor súbito as colocou nuas uma sobre a outra e não pareciam desconfortáveis ainda que não soubessem exatamente o que fazer. Adormeceram felizes.
Na manhã seguinte, a rotina as tirou do torpor vivido, mas sorriam. Júlia sentia -se um pouco enjoada, mas julgou ter dormido pouco e bebido muito café. Diante do enjoo insistente, comprou um teste de gravidez e jogou na bolsa para fazer na manhã seguinte.
Quando chegou na casa de Paula, a amiga a recebeu com um longo abraço e um selinho na boca. Já não sabia mais se eram apenas amigas. Pensou em contar sobre o mal estar, mas se entregaram uma à outra antes que Júlia pudesse dizer qualquer coisa.
Acordou apreensiva. Pegou o teste na bolsa. Aguardou longamente. Positivo. Paula ainda dormia. O marido mandava mensagens. Olhou para o próprio ventre ainda reto. Enxergava sem ver a vida que havia dentro de si. Arrumou suas coisas em silêncio, colocou a mala no carro e partiu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando olhei dentro de mim
ContoO casamento de Júlia há tempos não andava bem, mas a descoberta de uma gravidez não planejada a fez repensar sua separação. Sua melhor amiga acabara de terminar um relacionamento de longa data e juntas descobriram que eram mais fortes e que tudo aqu...