Brie acordou com um salto.
Não por causa de um sonho, mas porque ninguém neste reino tem certeza se vai despertar. O motivo é simples: toda noite tem alguém que dorme para sempre.
Ela levantou e foi até o quarto dos pais. Já estavam no sono eterno há várias semanas. O primeiro foi seu pai e, após algumas semanas, sua mãe o acompanhou. Brie passou a mão nos cabelos dela, que definhava bem debaixo de seus olhos. Mais uma vez sentiu seus ombros pesarem, sofrendo por não conseguir os alimentar direito. Olhou para si mesma e percebeu que ela também era consumida por aquela magreza. A falta de empregos e as quatro bocas famintas, contando com seu irmão, dificultavam sua vida.
Ela se dirigiu até o quarto de Max e bateu na porta:
— Acorda! Temos que ir para a cidade.
Ele não respondeu. Fazia isso todas as manhãs para me assustar.
— Vamos! Sei que não gosta de pedir comida, mas preciso da sua ajuda.
Silêncio de novo. A garota ficou nervosa. Odiava quando ele fingia, mas seu irmão tinha apenas sete anos. Crianças têm dessas coisas.
Abriu a porta, olhando para ele com a cara fechada e as mãos na cintura. Mas a expressão que viu no rosto do garoto foi diferente de quando ele brincava. Os músculos da face estavam relaxados e não controlavam o riso como sempre.
Foi até ele.
— Max! — disse, cutucando-o.
Cada segundo sem resposta fazia suas mãos tremerem mais. A visão já embaçada com as lágrimas que se acumulavam. Brie o chacoalhou com violência, segurando-se ao fio de esperança de o acordar, mas não obteve resposta.
Era oficial: a maldição levou o pequeno garoto para o sono eterno.
As lágrimas escorreram pelo seu rosto e as pernas perderam as forças, fazendo a garota ajoelhar ao lado da cama.
Após alguns segundos, a tristeza deu lugar à raiva ao pensar naquele odioso reino e sua maldição. Cerrou os punhos e dentes lembrando das pessoas. Era provável que, como sempre, já estivessem todos no centro da vila buscando o nome do escolhido pela maldição.
Brie levantou e correu.
De longe, já via a multidão amontoada na volta da grande estátua de pedra do rei. A adrenalina da corrida fez com que sua raiva aumentasse ainda mais. Desejava gritar até se exaurir daquele aperto em seu peito. Queria culpar alguém, mas nenhum deles causara sua desgraça.
— Foi o Max! O Max! — Esbravejou quando chegou mais perto, colocando para fora a frustração.
Os olhares se voltaram para ela, alguns deles mostrando pena. Chegou ao centro, ofegante.
— Foi meu irmãozinho.
— Sinto muito, querida — disse a senhora Mara, colocando a mão no ombro da garota.
A tentativa da velha senhora de acalmá-la não fez muito efeito, pois Brie observou que as pessoas já se afastavam, indo para seus afazeres. Após anunciado o escolhido daquela noite, viraram suas costas para o sofrimento que não lhes pertencia. Todos tinham sua própria dor para cuidar.
De um movimento brusco com o braço ela tirou a mão de seu ombro.
— Sente nada! — gritou ela. —Ninguém sente muito por ninguém! Todos estão aliviados por não serem escolhidos!
Ninguém retrucou. Afinal, sabiam que a garota estava certa.
Ela queria que eles demonstrassem se importar. Desejava que ajudassem uns aos outros, mas não aconteceu. As pessoas apenas abaixaram suas cabeças, seguindo com suas vidas. Brie colocou as mãos no rosto com a tristeza que a engolia.
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O Labirinto - Conto
FantasyNeste reino acordar não é uma certeza. Brie é uma garota que passou a vida inteira debaixo dessa insegurança. Há algum tempo, ela carrega o peso de cuidar dos pais adormecidos. A oportunidade de salvar a todos vem até ela, mas não será simples e ex...