Erik IV

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9 de junho (2018)

Muita coisa mudou nesses últimos dias, principalmente entre o Abel e eu. Acho que nesse ponto somos amigos ou algo assim. Desde que comecei a andar com ele, acabei me afastado do Paul e do André, mas nenhum deles pareceu se importar.

Minhas corridas matinais de sábado ficaram mais leves, era bom não ter minha cabeça afundada em tantos pensamentos. Estava frio, o céu estava um azul acinzentado. O Marcelo, nosso labrador caramelo, me arrastava pela coleira, mas eu conseguia acompanhá-lo.

O suor gelado sob minha nuca, me lembrava que fazia muito tempo que eu não corria com ele. Meu jogo com a escola Anderson me deixava meio ansioso, talvez porque faltava 3 semanas e meu corpo ainda estava sem recuperando da queda.

Após uma hora de corrida acabamos entrando em casa, tudo estava tão calmo. Todos devem estar dormindo. Deixo o Marcelo no quintal e procuro algo quente para bebe na cozinha. E lá está o Abel, me esperando enquanto fazia o café para os nossos pais.

— Como foi o treino? — Ele continua concentrado enquanto coa o café pelo filtro, o cheiro toma conta do lugar. A cozinha está quente, é agradável.

— Bem, eu cumpri a meta. Acredito que foi bom. — Observo uma toalha dobrada branca em cima da mesa. — Mas quem realmente se divertiu foi o Marcelo. — Pego a tolha e a encaro por alguns segundos.

— É para você, pensei que iria precisar quando voltasse. — Ele fecha a tampa da garrafa de café enquanto olha para mim com um sorriso no rosto.

— Obrigado. — Digo sem graça, o mais baixo que consigo. Então começo a secar meu rosto.

— Precisamos comprar pão. Seu pai se esqueceu de comprar ontem. — Ele termina de lavar o bule de café.

— Tem uma padaria mais no centro da cidade. — Termino de secar o meu cabelo. — Quer que eu te leve? — Observo ele em silêncio aguardando a resposta.

— Vocês já estão acordados? — Abby aparece na entrada da cozinha com seus cabelos presos em um rabo de cavalo, ela está de pijama.

— O Erik treina sábado, mãe. E eu queria fazer o café. — Ele coloca a mão na boca tentando disfarçar o bocejo.

— Eu vou comprar o pão, só vou me trocar. — Ela sai da cozinha, nós deixando sozinhos.

Abel e eu trocamos olhares. Ele parecia com sono, mas por algum motivo tentava esconder ao máximo isso. Encaro a tolha novamente. Por que ele acordou tão cedo? Olho discretamente para o Abel e nossos olhares se cruzam. Ele está sorrindo para mim?

— Então... — Finalmente resolvo dizer algo.

— Erik, você pode me mostrar o caminho? — Abby aparece novamente na entrada da cozinha com roupas formais.

— Claro, Sra. Amorim. — Forço um sorriso que sai com mais facilidade.

— Então vamos. — Ela pega a chave do carro que estava em cima da mesa ao lado da fruteira e nós saímos.

A mãe do Abel estava tão quieta. O carro cheirava a um aromatizante de canela, então é ela que gosta de cheiro. Observo as casas passarem tão rápido, há poucas pessoas na rua. Devem ser umas 7 da manhã agora. Olho para Abby o mais discreto que consigo, ela parece mais jovem que meu pai apesar de eles terem uns dois anos de diferença.

— Eu queria te perguntar uma coisa, é sobre o Abel. — Sua atenção continua na estrada.

— O que é? — Desvio o olhar para a janela. Sinto que vai ser uma conversa desconfortável.

O Garoto De MaréOnde histórias criam vida. Descubra agora