O ministério da saúde adverte ⚠️

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Estávamos iniciando mais uma madrugada relaxante no bar Rost Dominic, local este situado próximo há um posto de gasolina, em uma região pouco movimentada ao longe do centro da cidade. Eu e o meu amigo de infância Aron, saboreávamos de uma boa dose de vodka, acompanhada por fatias de limão, enquanto acompanhávamos alguma programação aleatória na televisão suspensa acima das nossas cabeças. O dono do estabelecimento, Rogger — um sujeito um pouco mais jovem do que nós, mas que herdou o negócio do seu falecido pai há algum tempo — continuava sem esboçar qualquer expressão no rosto, como de costume, assistindo imóvel ao que o aparelho lhe apresentava — quase como se não estivesse na presença de outras pessoas.


Nas nossas costas, em outras mesas, se fazia presente um entregador de pizza; ele sem dúvidas é uma das pessoas que mais frequenta o local, juntamente conosco. Provavelmente não ganha o suficiente e usa as suas gorjetas — por trabalhar até tarde da noite — para comprar algumas cervejas baratas. E jogado em um canto qualquer do lugar, havia um típico granfino, que sempre chega um pouco depois de nós com a sua BMW — nos fazendo questionar o que leva-o a estar em um lugar como este —, mas que sempre está ali solitário, bebendo o seu whisky, aparentando ter acabado de sair de alguma discussão ou talvez de mais um dia estressante de reuniões intermináveis. Talvez, o pouco movimento naquele horário e a simplicidade dos outros fregueses, seja o que ele precisa. É um cara mal-humorado, não adianta você tentar falar com ele, sempre irá fazer algum barulho como um cachorro e virar o rosto em completo desdém.


"Então, cara, como a sua filha mais nova está? Lembro que comentou sobre ela ter pego uma virose esta semana, estou enganado?" — questionou Aron. Estávamos no meio termo entre estar conscientes, mas já iniciando a fase da embriaguez, o suficiente para não conseguir conduzir nenhum veículo. É claro que isso não é um problema — ninguém liga na real. Sei que a intenção dele foi apenas de cortar o silêncio chato que se instaurou no ambiente — cada um estava viajando na sua própria imaginação.


"Ah, sim, ela está melhor. Recuperou-se quase 80%, foi o que minha esposa disse. É uma garota saudável, você sabe disso." — respondi a sua indagação. Enquanto permanecia brincando com o cinzeiro da mesa que estávamos sentados.


"Quanto tempo faz que você parou de fumar?" — refletiu ele, olhando para a exposição de vários maços de cigarros de diversas marcas vagabundas — um pouco acima da conta — à nossa frente. Eles estavam mesclados em vermelho, azul e amarelo, o tipo de cigarro que você sabe que irá encontrar por aqui.


Levantei em direção ao assunto do momento. Estávamos em uma mesa quase encostada ao balcão e sentamos nas banquetas postas diante do mesmo. Aron acompanhou-me. Enquanto observávamos os cigarros, neste momento, Rogger — o dono do bar — nos avisou que precisaria ir ao banheiro. Ele nunca usa o mesmo banheiro dos clientes, sempre faz questão de ir ao andar de cima onde mora. Fitou-me nos olhos e pediu-me para ficar de olho. Nós estamos aqui há tanto tempo, que ele já confia em mim, imaginei. Apenas assenti com a cabeça, enquanto mudei o foco para a televisão com aquele programa chato e tedioso da madrugada.


"Você nunca veio aqui na adolescência. Eu lembro do pai do Rogger, ele era um velho com cabelos enrolados e uma barriga muito grande, como se tivesse com cirrose. Os seus braços eram muito cabeludos e gostava de entreter os clientes com suas histórias, o meu pai adorava isso. Mas uma coisa que ele detestava aqui no bar eram os cigarros..." — ele apertou os olhos, colocou o seu dedo indicador dentro do próprio copo com a sua vodka e ficou brincando com um pequeno cubo de gelo que ainda restara ali. "A sua esposa morreu de câncer, era o boato que todos contavam, e ele também lutava contra a mesma doença, na garganta. Recordo-me quando sua voz começou a desaparecer, mas conseguiu resistir por muito tempo até o seu filho assumir as suas coisas." — ele finalizou o seu discurso, juntamente com o que sobrou do gelo e do líquido que preenchia o copo.

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