She Is Married • JACKSON WANG

01.

 Era uma manhã de inverno quando a vi pela primeira vez. Não era um dos meus melhores dias, havia acabado de brigar com meu irmão mais velho na empresa de nosso pai.

 Sai irritado da Team Wang, cruzei a rua e entrei na cafeteria, a melhor do bairro. Eu passei pela porta e senti que minha vida mudaria a partir daquele momento.

 Ela, que se servia um café quente, me observava aturdida, não pude deixar de notar.

 Me sentei na mesa de sempre, distante de todos os outros. Mas eu não conseguia parar de espiá-la.

— Bom dia, Senhor Wang. Aqui está seu Latte Machiatto. — A atendente, que já conhecia minhas preferencias, me serviu.

— Obrigado, tenha um bom dia. — Tentei mostrar um sorriso simpático.

 Apreciei meu café de olhos fechados, deixei o som ambiente invadir meus pensamentos. Eu gostava daquela calma, o barulho das xícaras se encontrando com pires, a música de fundo baixa. A paz que eu buscava nos meus dias difíceis.

— Oh!!! Está tudo bem, senhorita? — A voz preocupada me acordou dos meus devaneios.

 Procurei o que havia acabado de acontecer, ela havia entornado o seu café. Será que se queimou? Será que devo ajudá-la?

— Sim, sim... Está tudo bem, obrigada... — Ela se secava com o guardanapo de pano.

 Continuei a assisti-la, recebi um sorriso que parecia triste. Deve estar doendo. Sorri de volta e tornei a beber meu café.

 A mulher se levantou após pagar sua conta, curvou a cabeça singelamente se despedindo. De mim? E partiu.

 Me senti vazio, eu gostaria poder reencontrar a mulher do olhar que me deixou intrigado.

 Era hora de voltar ao trabalho e aturar toda aquela gente que eu não queria ver.

 Entrei em minha sala, onde ali ficaria trancado até o fim do dia.

 Olhava para a tela do computador e não conseguia ler uma palavra sequer, em minha cabeça aquele triste sorriso permanecia fixado.

— Meu filho, de novo brigando com seu irmão?

 Levantei a cabeça sem acreditar que minha mãe veio até aqui para defende-lo.

— As vezes acontece mãe, me desculpe por isso.

— Ele é mais velho, Jia-Er. Você precisa ouvi-lo. — Ela insistiu.

— Tem razão, vou tentar evitar numa próxima vez. Está bem?

 Não importa o quanto eu justificasse, ela sempre estaria no lado dele. Por essa razão, eu poupei meu tempo.

— Você sabe que eu amo vocês dois e quero vê-los bem, sem brigas. Certo?

 Assenti, após receber um beijo na testa. — Também te amo mãe.

 O dia no escritório demorou uma eternidade para passar, olhei em meu relógio e finalmente estava livre daquilo.

 Pelo elevador desci para o estacionamento, e como uma ironia do destino aquela mesma mulher da cafeteria caminhava em minha direção, com o mesmo sorriso triste.

— Boa noite Jia-Er.

 Ela disse meu nome? De onde me conhece?

— Bo-boa noite. — Respondi confuso. — Me desculpe, de onde nos conhecemos?

 Abriu uma risada. — Ah, você não lembra de mim. Estudamos juntos em Hong Kong. Me chamo Shuxin.

— Oh... Me perdoe, ando um pouco esquecido. — Eu me esforçava para lembrar o seu rosto, mas nada vinha a minha cabeça.

— Tudo bem, eu mudei muito daquele tempo para cá.

 Assenti ainda olhando fixadamente. — Nos vimos mais cedo, certo? Agora entendo porquê me cumprimentou.

 Ela riu. — Eu não tinha certeza se iria me reconhecer.

— Mas está tudo bem? Você se queimou?

— Oh! Você viu aquilo? Que estúpida eu sou. — Escondeu o rosto enquanto ria.

 Provavelmente era a mulher mais bonita que já havia falado comigo, seus olhos eram hipnotizantes. Sinto que qualquer pessoa se renderia a ela, bastava ouvir aquela risada.

— Jia-Er, posso pedir um favor?

— Sim. Claro!

— Meu celular desligou. — Ela mostrou o aparelho. — E meu carro também não quer ligar. Poderia me ajudar chamando um táxi? Hoje não é meu dia de sorte, como pode ver...

 Eu acabei por rir de sua desgraça. — Eu posso te levar, se quiser.

— Não precisa se incomodar tanto assim.

— Vamos lá, não irá incomodar. — Abri a porta para ela.

 Poderia parecer estranho oferecer carona a quem acabei de conhecer, mas eu estava completamente intrigado.

— Mora em Xangai a muito tempo? — Perguntei enquanto dirigia.

— Mudei a poucos meses. — Ela respondeu. — E você?

— Tem uns três anos que estou aqui.

 Ela me assistia atenta, me deixando retraído quando nossos olhos se cruzaram.

— É aqui nessa próxima esquerda! — Quebrou o silencio.

— Nesse prédio aqui?

 Shuxin afirmou. — Muito obrigada Jia-Er e mais uma vez me desculpe pelo inconveniente.

— Não precisa agradecer. — Sorri para ela.

 Saiu do meu carro, deixando o aroma de baunilha. — Até a próxima. — Ela acenou.

 Eu realmente espero nos ver de novo. Acenei de volta.

 Meu apartamento não era muito longe do dela, troquei meu sapato por pantufas e finalmente relaxei no sofá. Liguei a TV até criar coragem para viver.

 "Após anos de hiatos, a estrela Yu Shuxin retorna as telas. A atriz foi confirmada no elenco da nova produção da Haoju TV. As gravações estão prestes a começar em Xangai."

 Saltei ao vê-la na televisão. A Shuxin que acabei de conhecer é uma atriz famosa?