1. Jantar

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Adrien estava chapado.

Não era sua primeira vez nesse estado e ele também nem se importava realmente em se manter sóbrio, mas dessa vez não podia se dar o luxo de chegar em casa com os olhos vermelhos e vendo gatos voadores. Por isso a primeira pessoa pra quem ligou depois de sair do dormitório da faculdade naquela sexta feira de merda foi Luka.

Ele poderia ter chamado Nino, que era seu melhor amigo há tanto tempo que Adrien nem se lembrava de uma vida em que não eles não eram amigos. Porém ele estava com a namorada Alya e ambos quase não se viam, que parecia errado chamá-lo só porque não tinha condições de dirigir sozinho para casa. Além do mais, era sexta feira a noite e fazia uma semana que ele não via Luka. A pessoa que mais tinha durado em uma relação com Adrien, não eram namorados, não nutriam sentimentos desse tipo, todavia tão pouco eram apenas ficantes, já que tinham uma relação bem amigável. Quando conversou com Alya sobre isso, ela sugeriu que talvez eles fossem amigos coloridos, mas Adrien não sabia se realmente queria rotular a relação que tinham, ele apenas gostava de estar com Luka e vise versa.

Quando a moto de Luka soou pela rua do dormitório estacionando na entrada,  Adrien tentava expulsar as pequenas sininhos que lhe beliscavam as bochechas.

— Você tá chapado. — Foi a primeira coisa que disse assim que tirou o capacete preto e azul. Mesmo chapado Luka ainda era um dos caras mais gostosos que Adrien já tinha visto. Tinha cabelo preto com as pontas azuis, usava uma jaqueta de couro fechada até o pescoço e uma calça jeans preta com rasgos no joelho. Quando Adrien viu os chifres preto e azul saindo da testa de Luka, finalmente entendeu de onde vinha tanta beleza.

— Faz sentido. — Começou Adrien semicerrando os olhos para Luka. — Você é um demônio vindo do inferno pra atentar a minha castidade. — o outro revirou os olhos puxando Adrien, que até estão estava sentado nos degraus da entrada do dormitório, para cima.

— Quando eu te conheci, Agreste, você já não tinha castidade alguma para ser tentada. — Adrien sentiu seu corpo reagir quando seu sobrenome saiu pela boca de Luka, de repente ele queria muito um beijo do moreno. — Seu pai vai te matar. — Luka ajudou o loiro a se equilibrar nos pés. — Você não tinha uma festa de família ou algo do tipo hoje?

— Tenho e foi por isso que eu te chamei. — Adrien tocou com o indicador no nariz do moreno. — Você vai me levar lá e me ajudar a manter a dignidade na frente da minha família.

— Não acho que seu pai vai achar digno você levar o cara que tá transando pra festa da sua família.

— Besteira. — Adrien gesticulou com desdém. — Não importa o que eu faça, meu pai nunca vai me achar digno. Mas a minha mãe vale a pena o esforço.

Luka balançou a cabeça descrente.

— Consegue se manter firme na moto?

— Já andei mais chapado do que isso nessa moto, Luka. — O amigo concordou com a cabeça e se virou em direção da moto puxando Adrien consigo, mas ele de manteve parado. — Aí. — Adrien puxou Luka parecendo irritado. — Não vai nem me dar um beijo?

Luka sorriu e puxou o loiro para um selar rápido, mas Adrien passou as mãos pelos ombros dele, mordeu o lábio inferior dele até que não aguentasse e deixasse a língua do loiro explorar sua boca com vontade. Sinceramente, Luka achava que Adrien que era o demônio enviado para atentar a cabeça dele. Quando sentiu que o zíper de sua jaqueta estava sendo lentamente deslizado pelas mãos de gato do loiro, Luka se afastou o máximo que conseguiu.

— Se continuarmos com isso vamos transar na entrada do seu dormitório e dê adeus a aparência dignidade da sua família. — Apesar de tentador, Adrien sabia que não era sensato então apenas esfregou o rosto tentando voltar um pouco a si. — Venha, vamos sair daqui.

***

Assim que entraram no salão de janta, Adrien já estava sóbrio. Não, ele não havia tomado nenhum remédio e nem Luka havia parado em lugar algum antes de chegarem na mansão Agreste. A única coisa que trouxe a sobriedade a ele foi a presença fria do seu pai desgraçado, ou como todo mundo insistia em chamar Gabriel Agreste. Ele estava sentado na cabeceira da mesa imponente e olhou Adrien de canto de olho, sem demonstrar nenhum sinal de emoção em seu rosto, o filha da puta era uma pedra de mármore sem sentimentos.
Em contraste, Emilie, sua mãe, sorriu calorosamente quando o viu. Ela estava sentada ao lado esquerdo de seu pai e Adrien viu o alívio transbordar em seu olhar e quando se aproximou o abraçou como se fosse sua tábua de salvação. Aquilo era, no mínimo, estranho, pensou Adrien, mas seguiu para seu lugar sem falar nada. Na mesa estavam mais quatro pessoas além de sua mãe, Amalie Graham, sua tia e irmã gêmea de sua mãe, sentava ao lado dela e tinha mantinha um ar de desdém, mas Adrien percebeu que ela olhava discretamente para Luka. Félix Graham, filho de Amelie, estava sentado ao lado da mãe e olhava para o teto entendiado.
Sentado ao lado direito de Gabriel estava Lucius Lahiffe, pai de Nino e braço direito de Gabriel na empresa Agreste. Para Adrien, o pai gostava mais de Lucius do que da própria família. Ao lado dele, estava Nathalie, a secretária mais antiga de Gabriel e que provavelmente mantinha um caso com ele com a mesma quantidade de anos que Adrien tinha.

Sim, era pra essas pessoas que Adrien tinha que mostrar um pouco de dignidade. Então andou lentamente até o outro lado da mesa e sentou na cabeceira com Luka ao seu lado esquerdo. O olhar indiferente de Gabriel esquadrinhou o filho e em seguida Luka. Adrien teve certeza que o pai notara que os lábios dos dois estavam levemente inchados e vermelhos porque pressionou a boca em uma linha fina, na única demonstração de emoção que Gabriel era capaz de expressar, insatisfação.

— Você está atrasado. — A voz fria como gelo ecoou pelo salão e Adrien ignorou olhando para a comida recém servida no prato. Deu uma colherada na comida, mas não foi capaz de sentir o gosto, fato que sempre acontecia quando comia no mesmo ambiente que o pai. Sentiu o olhar de todos na mesa, esperando alguma desculpa sobre o atraso. Adrien respirou fundo.

— Tive um problema com a minha moto, então pedi pro meu amigo ir me buscar. Você conhece o Luka. — Gabriel olhou de novo para Luka, que comia ignorando todos os olhares que recebia. As vantagens de Luka ser uma rebelde sem causa era que ele nunca se importava com o que as pessoas pensavam, com exceção da própria mãe.

O jantar continuou em silêncio por mais alguns minutos até que Emilie abaixou os talheres e lançou um olhar nervoso em direção de Adrien. Uma sensação ruim tomou conta dele e ele arqueou uma sobrancelha questionadora. Emilie sorriu e se pôs de pé chamando a atenção dos presente, ela alisou o elegante vestido branco e preto nervosa, então olhou para e falou:

— Eu quero o divórcio. — O tom que Emilie usara era animado e feliz, como se estivesse desejando feliz aniversário pra alguém. Adrien estava de boca aberta.

Que merda estava acontecendo?

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⏰ Última atualização: Jan 29, 2022 ⏰

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