Cap 19

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Beatriz

Dois meses se passaram, dois meses de muita dor, de silêncio, de carinho e saudade. Cada dia tem sido difícil não só para mim como para Helena também. Minha forma de lidar com a dor foi me atolando no estudo, já a Delegada em serviço. Saio cedo de casa e volto tarde apenas para dormi, tenho estudado muito para suprir minha dor. Helena faz o mesmo com o trabalho. Sai cedo e volta muito tarde.

Muitas vezes acordo com ela se deitando ao meu lado, dando um beijo em minha cabeça e alinhando seu corpo ao meu, sinto seu corpo relaxar de imediato quando sente o contato de seu corpo ao meu, e assim ambas descansamos. Mas não conversamos, acredito que não sabemos oque dizer, não sabemos ainda como encarar ou como reagir diante dessa perda.
Temos esse jeito estranho, porque se for pensar realmente eu só tenho ela em minha vida, e ela só tem a mim.
Gostamos da companhia uma da outra e nos conhecemos pelos olhares, deixando confortável esse silêncio entre nós.

Normalmente quando acordo para tomar meu banho a Helena já levantou para ir ao seu quarto fazer sua higiene, mas essa manhã não. Abro meus olhos e encaro a figura a minha frente, estamos frente a frente, ela ainda dormia, com seu braço encima da minha cintura. Poderia jurar que ela é a mulher mais linda que já vi. Fico um tempo analisando seus traços, parecia tão em paz ali dormindo, tão tranquila, diferente do furacão que essa mulher é, tão disposta, sem limites, sem humor, sem cerimônia, a versão nua e crua mais atraente que já conheci.

Dou uma suspirada de leve e decido ir ao banho, tento tirar seu braço com cuidado de cima de mim para não acorda-lá, mas como uma boa delegada de sono leve, ela abre seus olhos devagar me encarando com seu semblante sério de sempre, sorrio sem mostrar os dentes dizendo :
- volte a dormir só vou tomar um banho... Ela concorda com a cabeça se virando para o outro lado enquanto fui fazer minha higiene matinal.

Assim que saio do banho ela não está mais lá, concordo com a cabeça não me abalando porque é típico de nos duas esses sumiços. Me arrumo e sigo para cozinha, hoje iria tomar café em casa. Vou ate a cozinha mexendo no meu celular respondendo minha amiga Tata que tem sido bem próxima de mim ultimamente e Lucas também, são meus colegas de faculdade e nos ajudamos muito.
Assim que chego na cozinha em passos lentos vejo Helena escorada no balcão com um braço cruzado na frente e com a outra mão segurando uma xícara de café enquanto Leandra se insinuava na sua frente. O olhar de Helena em seu corpo dizia muito, ao mesmo tempo que era gélido também era pura luxúria. Engulo em seco vendo aquilo e perco na mesma hora a tal vontade de tomar café da manhã em casa, vou para perto delas, vejo Leandra se virar sorridente para mim, que afinal era muito sinica pois sabia que Helena dormia quase toda noite em meu quarto comigo, me dá um bom dia. Sorrio irônica para ela apenas acenando com a cabeça e encaro Helena que me olhava sem demostrar nenhuma reação, seu olhar frio me dava arrepios, mas eu também sabia ser assim. Pego minha bolsa que estava na cadeira ao seu lado e passo em sua frente sem dizer nenhuma palavra. Saio de casa sentindo o olhar mortal que está me lançava. Era só oque me faltava mesmo.

Me concentrei no trabalho o dia todo e a noite segui para faculdade onde Tata e Lucas já me esperavam com um chimarrão quentinho para assistirmos a aula. Depois que terminou a aula me convidam para ir tomar um vinho para relaxar, como era sexta eu decido aceitar e deixar um pouco de lado minhas leituras que estavam mexendo com meus neurônios já.

Chegamos em uma espécie de pub e tinha um clima muito agradável, música ao vivo, um lugar muito calmo, poucas luzes, ao ar livre. Assim que sentei dei uma suspirada, fiz uma oração e pedi para minha mãe me perdoar se achasse que estava cedo demais para mim já "sair" por mais que meu luto será eterno. Meus amigos entenderam e logo escuto a loira dizendo :
- sua mãe ficaria triste se você deixasse de viver por causa dela... Lucas concorda apertando minha mão me lançando um olhar de conforto e eu concordo com a cabeça segurando uma lágrima que queria cair.
Por final foi muito bom, tomei três taças de vinho Rose em ótima companhia e em seguida fui para casa. Já estava tarde eram 1:46 da manhã. Vi que o carro da Helena já estava na garagem e decidi ir ver se ela estava bem, se já estava dormindo, pois querendo ou não criamos essa rotina, quando ela chega tarde ela vai até meu quarto, quando eu chego tarde eu vou até o dela, mesmo nos não combinando isso.

Subindo as escadas já começo sentir meu coração acelerar como sempre faz, ela me intimida mas eu gosto disso, gosto do frio na barriga. Assim que paro em frente a sua porta escuto alguns barulhos, coloco o ouvido na porta mas não consigo decifrar, era música? Não sei !
Abro a porta bem devagarinho não fazendo barulho, vou espiando aos pouquinhos até eu ver Leandra em frente à Helena que estava escorada na porta da sua sacada com seu copo de whisky na mão observando a mulher a sua frente, que diz que não aguenta mais esconder oque sente, Helena nada fala apenas a encara, então eu vejo Leandra abrindo seu roupão e o deixando cair até seus pés dando toda visão que talvez Helena queria. Estava totalmente nua parada na frente da mulher que eu amo. SIM EU A AMO!
Helena toma um gole de seu líquido forte encarando a mulher ainda, aquele olhar dizia tudo. Quando ela se desescora da porta eu não tive mais coragem de ficar olhando, fecho a porta com cuidado para nenhuma me ver ou ouvir e vou meio atordoada para meu quarto que assim que entro chaveio a porta. Tomo um banho chorando quietinha, eu não queria chorar, não queria sentir isso, mas eu estava. Estava perdendo Helena e isso de certa forma também é culpa minha.
Helena tem suas necessidades, depois  da morte de minha mãe se quer dei um beijo de verdade nela, apenas alguns selinhos de boa noite, não converso mais com ela. Não temos nada, apenas aproveitamos a companhia uma da outra para dormir, e so de pensar nisso eu vejo o quanto não deveria estar chorando, eu era apenas uma garotinha para ela, só isso, mesmo que isso doa em mim.

Assim que saio do banho coloco meu pijama e me alinho em minha cama me encolhendo, me sentindo cada vez mais pequena. Queria minha mãezinha comigo. Choro até pegar no sono, me acordo com a porta tentando ser aberta, abro meus olhos devagar e escuto a voz de Helena do outro lado da porta que soava suave
"Ei pequena, está dormindo ?"... Fico em silêncio queria que ela fosse embora, então escuto algumas batidas leves na porta com ela dizendo
" Bya poderia abrir a porta pra mim por favor?!"... novamente fico em silêncio, até que escuto ela abrindo a porta, óbvio que teria uma chave reserva, encosta a porta com cuidado e vem até a cama, se deita e me puxa com cuidado para ela, ficando de conchinha comigo, mas eu não aceitaria. Depois de fuder o quanto quis com a empregada ela acha que pode vir aqui se abraçar em mim só por ser dona da casa ? Nem pensar

Tiro suas mãos de mim, sento na cama ligando o abajur e digo sem paciência:
- será que foi difícil de entender que a porta chaveada era um aviso de que não quero você aqui?

Ela senta na cama também faz uma cara de confusa dizendo :
- aconteceu alguma coisa ? Você está bem ? Alguém te fez alguma coisa ?.... Ela continuava perguntando preocupada as coisas e eu saio da cama esterica já dizendo :
- para com essas perguntas, para de fingir que se preocupa comigo! Que merda você tá fazendo aqui ? Oque VOCÊ quer ?.... Ela franze o cenho nitidamente incomodada e responde cautelosamente como se sua resposta fosse óbvia:
- nao consegui dormi sem você, não vi a hora que você chegou, fiquei preocupada quando vi a porta chaveada!! Porque está tão alterada?.... suspiro sem paciência e a encaro sem nenhuma piedade falando :
- bom eu estava dormindo muito bem até agora então se... Eu ia terminar de falar mas ela se levanta da cama falando seria e fria vindo a minha direção:
- seja lá oque for que está acontecendo eu não sou seu saco de pancada.... se aproxima de mim falando olhando em meu olho enquanto ainda a encarava seria, mas sentia minha respiração acelerar, o contato dela tão perto assim, mas alta e com sua voz tão firme:
- estive ao seu lado, e ainda estou, procuro sempre te respeitar, te cuidar e te manter segura eu só não entendo porque... então eu grito :
- eu não te pedi nada disso! .... Ela me olha mais confusa ainda e cada vez mais brava no quanto estou afrontando ela, que logo suspira e diz :
- da pra começar a me explicar que porra você tá fazendo ?.... me aproximo dela encarando bem de perto seu rosto e digo quase rosnando entre os dentes :
- nao quero que venha aqui se encostar em mim depois de fuder sua empregada na sua cama. Eu sim que te respeito e sempre estive ao seu lado você não.... Ela faz uma cara de surpresa e quando abre a boca pra falar algo eu já me adianto dizendo :
- saia do meu quarto agora, quero descansar ... Ela tenta falar denovo e eu grito :
- AGOOORA... Ela balança a cabeça negativamente com cara de poucos amigos e sai do quarto batendo a porta com força enquanto eu fecho meus olhos com força chorando como uma criança precisando de colo.

Meu destino mais lindo !Onde histórias criam vida. Descubra agora