Explodindo

415 38 37
                                    

Eu remoía e remoía a mesma cena durante dias: Todos a nossa volta o olhando ajoelhado no meio do restaurante, com o sorriso se esvaindo a cada segundo em que eu mantia meu silêncio.

Quando não sabia mais o que fazer a não ser ir embora e deixa-lo lá, ajoelhado para que um garçom o tirasse daquela situação.

O anel de sua mãe.
Deus, pensando agora, ele deve ter planejado isso por dias.

No caminho à casa de Gemma me lembro de ter perguntado aos céus e a todas as luzes da cidade se tinha acabado de arruinar tudo.

Eu tinha.
O amor escorregou entre meus dedos como água e eu não fiz nada para impedir.

Ele me deu rosas e eu as deixei lá para morrer, sem mesmo um motivo aparente. Queria ter percebido o que eu tinha quando ele era meu.

Queria ter dado mais valor ao seu toque, aos nossos beijos dentro do carro, a todos os jantares onde eu o recitava rimas de amor. Às manhãs onde ele me acordava com beijos preguiçosos e um carinho.

Para falar a verdade, até hoje não me acostumei a ter o outro lado da cama frio.

Depois de muito tempo, comecei a perceber que nosso amor era como a poesia dos Três Mal-Amados.

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome [...]"

Nosso amor era tão faminto que acabou nos comendo.

Explodindo.

Champagne ProblemsOnde histórias criam vida. Descubra agora